quinta-feira, maio 31, 2007

Perguntas aos Inimigos Devotados da Ota

É ou não é verdade que a maioria da população portuguesa que usa o Aeroporto de Lisboa vive a norte do Tejo?

É ou não é verdade que um aeroporto a sul do Tejo irá implicar a construção de mais pontes sobre o dito rio, com a agravante de serem um evidente ponto potencial de estrangulamento adicional no fluxo de passageiros?

Um aeroporto a sul do Tejo e essas novas pontes irão ter que impacto ambiental, nomeadamente no parque do Estuário do Tejo?

Tendo em conta esse impacto ambiental a UE irá apoiar essas novas soluções?

Se o aeroporto for construído noutro sítio não haverá especulação imobiliária, nem desvios orçamentais, nem limites à sua expansão? E como é que se garante isso num lado e não no outro?

É ou não verdade que quanto mais anos passarem sem novo aeroporto, menos competitivo será Portugal como escala entre o resto da Europa e o Brasil ou África?

Por fim, em que estudos técnicos é que assentam as escolhas alternativas? E no que é que são melhores do que os estudos técnicos que apontam para a Ota?

Por outras palavras se se vai adiar a decisão e gastar mais uma maquia significativa em novos estudos é essencial saber para quê? Ou seja, que critérios técnicos é que satisfarão a Oposição?

PS – Quem pergunta é um viajante frequente que preferia que o aeroporto continuasse na Portela por muitos e bons anos, mas parece que quanto a isso ser impossível há consenso dos especialistas.

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quarta-feira, maio 30, 2007

Greve

As greves em Portugal, e particularmente as greves gerais, além de um direito, não são mais do que um fetiche para alguns líderes sindicais e políticos e uns milhares de trabalhadores muito difíceis de caracterizar. Por outro lado, as greves reproduzem até à náusea a realidade social, política e cultural de um país que, ao contrário do que pensa, não tem mudado assim tanto. O país “rural” não faz greve, assim como grande parte dos trabalhadores do sector privado, independentemente das razões. Por último, resta uma luta informativa, eu diria mesmo de propaganda, entre a inefável CGTP e o seu chefe e o Governo que temos e o seu comandante. Amanhã estará tudo exactamente na mesma, embora a economia pudesse encontrar-se um pouquinho menos pobre. Quanto ao resto, Carvalho da Silva e José Sócrates insistirão, respectivamente, em achar-se absolutamente imprescindíveis para o triunfo das classes trabalhadoras e para a afirmação do esplendor da pátria.

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terça-feira, maio 29, 2007

Can’t beat them?

Parece que nos exames de "Português" que andaram por aí a ser feitos pelos homens e pelas mulheres do amanhã, os erros ortográficos que apareçam nas respostas irão ser ignorados. Paulo Portas indignou-se ao afirmar que Maria de Lurdes Rodrigues tem uma política capitulacionista em relação à qualidade e à exigência do sistema público de "ensino" (ou de "educação"). Por mim, não sei se mais realista, mais prosaico ou mais cínico, presumo que a ministra e os secretários de Estado da 5 de Outubro seguem uma estratégia simples que lhes poderá acrescentar alguns meses de longevidade política: não podendo derrotá-los (aos pedagogos líricos e aos alunos relapsos) juntam-se a eles.

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Dar o cú.

Com a boca cheia de “realismo político” e de “relativismo ético”, José Sócrates foi à Rússia dar o cú a Putin. Suspeito que o russo aceitou. Só não sei porquê.

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A taça da bufaria

O caso de Fernando Charrua, afastado por Margarida Moreira da DREN por suspeita de ter insultado o primeiro-ministro é sintomático do clima de degradação moral e política que se vive no país. Muitos comentadores têm sublinhado que é a liberdade de expressão que está em causa. Eu sou também sensível ao argumento da indiferença pelo princípio da presunção de inocência, pois um profissional foi sumariamente julgado com base numa delação e demitido das suas funções sem que o processo disciplinar instaurado tenha chegado a qualquer conclusão.
Em declarações ao Público no passado domingo, Fernando Charrua aproveita a entrevista em que se apresenta como vítima de delação para delatar duas pessoas: António Basílio e Margarida Moreira. O primeiro ter-lhe-á dito, há cerca de três meses: «Olha que a dama – para não dizer outra coisa que ele disse, porque pode ser ofensiva – deu-me a entender que não vai homologar a decisão [de classificar Fernando Charrua em 2007 com Muito Bom]». Acerca de Margarida Moreira, conta com gosto: «anteontem, na escola EB 2/3 do Cerco do Porto perante pais, encarregados de educação, quando, ao fazer uma apresentação do programa Novas Oportunidades, disse alto e bom som: “Agora é que o senhor engenheiro Sócrates, com estas novas oportunidades, pode acabar o curso”».
A impressão que nos fica é que os altos funcionários da Direcção Regional da Educação do Norte andam a competir para ver quem é que bufa mais. Por mim, dava uma taça da bufaria ao vencedor, fosse ele António Basílio ou Fernando Charrua. Façam as vossas apostas sobre quem vai bufar mais alto, porque a luta está renhida.


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segunda-feira, maio 28, 2007

Muito estúpidos.

Ufano, António Costa falou hoje aos lisboetas e aos portugueses com aquela pose de estadista que acha que tem e que todos os políticos se convenceram que têm. Notei que se felicitava pelo facto de à sua “lista” pertencerem, num total superior a vinte, apenas três personalidades exercendo funções partidárias a nível nacional e, salvo erro, distrital. Ou seja, por pouco não só pareceu que foi António Costa a desfiliar-se do PS para concorrer à presidência da CML, como quis dar sinais claros de que, tal como a generalidade dos portugueses, se enjoa e quase vomita quando lhe falam de partidos. Mas igualmente interessante nas suas palavras foi o facto de, claramente, ter assumido o discurso da “tanga”, não pronunciando embora a palavra, quando se referia ao estado financeiramente comatoso em que encontra a instituição para qual concorre e que pretende (quase) ressuscitar. Decididamente os políticos continuam a ver-nos e a tratar-nos como muito estúpidos. Ou então, sendo eles muito estúpidos, não conseguem colocar o discurso e as (poucas) ideias que têm de acordo com o nível médio de inteligência e de exigência do eleitor português ou estrangeiro residente e/ou votante em Lisboa.
Na foto vêem-se uns quantos exemplares de "asnos selvagens asiáticos".

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Cenas de Natureza Sexual

Descobri Cenas de Natureza Sexual apenas porque o filme estava em exibição próximo de minha casa. Ainda bem que às vezes vou ao cinema só como um pretexto para desentorpecer as pernas. Esta primeira obra de Edward Blum parece ter passado despercebida à crítica portuguesa. Mas é refrescante face à avalanche de blockbusters de Hollywood e à pesada artilharia do cinema europeu de pretensões intelectuais.
É uma comédia dramática de baixo orçamento. Em apenas seis semanas escreveu-se o guião, arranjaram-se os capitais e os actores, alguns grandes vedetas que trocaram um salário chorudo por uma percentagem nas receitas. Toda a acção se passa numa tarde, num parque de Londres, o Hampstead Heath. Sete casais encontram-se, reencontram-se, discutem, reconciliam-se ou nem por isso. As forças que os separam são, regra geral, mais fortes do que aquelas que os unem. Isto do ponto de vista deles, porque para o espectador todas as histórias parecem ligadas por fios invisíveis e o parque ou o sol também podem ser encarados como personagens puxando os fios ou entretendo-se com as reacções dos seres humanos.
O resultado é um filme leve sem ligeireza, minimalista sem abstracções, servido por excelentes diálogos, cujas deixas aproveitam quer a grandes actores, quer ao espectador para compreender outras histórias do mesmo mosaico. O célebre humor britânico é aqui manejado em todas as suas gradações, desde a mais subtil ironia até ao mais feroz sarcasmo.

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The Use of Knowledge in Society...



José Pacheco Pereira em grande forma, aqui.

Um cheirinho de uma grande crónica:

«Um olhar humano é ainda mais perfeito do que o das câmaras, ela "vê" o bar do fim da tarde, com grande nitidez, mas sabe bastante menos do que o Estado.»

Absurdo ou talvez não

Em Espanha as autoridades andam a deter suspeitos de terrorismo. E de que terrorismo? De terrorismo islâmico. De que malfeitorias são suspeitos estes homens? De andarem a recrutar jovens que seriam enviados para campos de treino donde, depois de devidamente instruídos, seriam mandados combater o “ocidente” e a América no Afeganistão e no Iraque. Só que há um problema. Porque razão vigiam, perseguem e prendem as autoridades espanholas presumíveis terroristas que se candidatam a ir combater o exército norte-americano num país invadido, o Iraque, invasão que Zapatero, o chefe do Governo espanhol, condena moral e politicamente? Por causa da independência do poder judicial não é certamente.

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domingo, maio 27, 2007

Parabéns a dobrar

Não só, mas também pelo facto do Daniel Oliveira não colocar este humilde blogue entre o seu “peixe miúdo”, felicito o Arrastão pelo seu primeiro aniversário e o seu prolífico autor pelo facto do Sporting ter ganho a “fruteira” hoje ao fim da tarde no magnífico e único Estádio Nacional.

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Os Belenenses, o final da Taça de Portugal e o Futuro.

Fui ao Estádio Nacional e, debaixo de uma chuva miudinha, vi o Belém fazer um bom jogo . Tão bom que lhe podia ter dado a 4.ª Taça de Portugal. Não foi assim porque o Sporting soube aproveitar, e bem, os escassos minutos em que o Belém jogava com 10 jogadores apontando o único golo da "partida".
O mais importante para o Belenenses será poder vir a ser capaz de manter o nível que conquistou esta época e, com isso, a capacidade de mobilização de muitos milhares de adeptos que se espalham por todo o país e por muitos recantos deste mundo e do outro, a maior parte deles bem mais novos do que eu. Parabéns aos jogadores, parabéns à "equipa técnica" e, porque não, aos adeptos! "Belém, Belém, Belém!"

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sábado, maio 26, 2007

Felicidades em Liberdade

Os “bichos carpinteiros” estão a cumprir dois anos. José Medeiros Ferreira, que é a sua alma e, portanto, a razão de ser daquele que é um dos meus blogues favoritos, escreve a dada altura em texto comemorativo: “[…] inserimo-nos tranquilamente neste fenómeno comunicacional e opinativo que é a blogosfera. Tencionamos continuar. Até porque hoje em dia a blogosfera está na primeira linha de defesa da liberdade de expressão.”
Não é só por isto, mas também por isto, que recorrentemente me recordo dos tempos, no início da década de 1990, em que, na FCSH, Medeiros Ferreira dizia, para quem o queria ouvir, que a liberdade na vida académica portuguesa era um fenómeno recente que devia ser acarinhado e aproveitado por todos, a começar por aqueles que, como eu, por lá andavam. Às vezes, sem o mesmo efeito e com bem menos autoridade, digo exactamente o mesmo aos meus alunos na Universidade de Évora. Por isso, daqui o felicito e faço votos para que continue. Apesar de saber que vai continuar e, já agora, por que não poucas vezes dele discordei e espero poder continuar a discordar.

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sexta-feira, maio 25, 2007

Leituras para o Povo: Gabinetes de Imagem no tempo de Luís XIV


Vi nas livrarias a tradução portuguesa da obra de Peter Burke, A Fabricação do Rei : A construção da imagem pública de Luís XIV, embora na net só tenha encontrado referências à edição brasileira. Seja em português de aquém ou além Atlântico (o autor até é casado com uma brasileira), ou no original inglês, Burke é um excelente historiador da cultura e foi um professor que muito apreciei. A obra, que não li na versão lusa, promete, em todo o caso, cruzar interesses de povos frequentemente desencontrados: os fãs da história da arte, e os adeptos do estudo da política.
Talvez a obra de Burke também permita que em Portugal se deixe de dizer (ignorantemente) que hoje os políticos são publicitados como se fossem champôs. Para se dizer (mais correctamente) que hoje os champôs e até a mais irritante lixivia têm ao seu serviço uma máquina de propaganda que durante milhares de anos foi reservada apenas aos reis. É que nunca (em tempo algum) houve políticos de sucesso que tivessem descuidado da sua imagem. Mudaram-se as vestimentas (muito) e os meios (alguma coisa), mudaram-se os temas (bastante menos), mas a preocupação com projectar a imagem certa junto do povo permanece. Qual é o político que em democracia que se pode dar ao luxo de projectar um má imagem junto do povo que o elege? E afinal, em geral, quem é que gosta de parecer mal?

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Lino, o Espontâneo, no País das Maravilhas

Se há alguma coisa em que o comentariato e blogosfera nacional parecem estar de acordo em tempos recentes é que o Governo Sócrates quer pesar demasiado na comunicação social e que pensa demasiado na forma como se apresenta em público. Um governo espontâneo, que não se preocupasse com a sua imagem era portanto o que convinha ao povo.

Eis que surge, mesmo a pedido, Mário Lino. O ilustre ministro desde a Pequim até Lisboa tem brilhado como um adepto deste estilo espontâneo de comunicação. É evidentemente daqueles que acreditam que um improviso é mesmo improvisado. Não creio que alguém disputará seriamente que as suas afirmações recentes sobre o novo aeroporto foram pensadas, repensadas, revistas e buriladas por um gabinete de imprensa.

Lino é portanto o homem que o comentariado e o blogues tanto reclamavam! Seria natural que aclamassem este estilo franco de fazer política. Mas não. Parece que neste pobre País das Maravilhas tão necessitado de espontaneidade na político, o ministro espontâneo afinal é o homem das gafes, que são uma coisa muito má e de que se deve pedir desculpas!!! Voltem gabinetes de imprensa, afinal estão perdoados?

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Almanaque do Povo


Há mais mundo: Desde Abril pode ler-se Cegueira Lusa, de José Carreira, blogue de reflexões sobre a actualidade. Nascido no Outono passado, o colectivo Vila Forte discute o quotidiano de Porto de Mós, Leiria, Batalha, Coimbra, com especial atenção para o universo educativo, a saúde e a política autárquica.

Selo e fazê-lo: Os CTT criaram a comunidade virtual Aqui Há Selo; no seu blogue qualquer um pode criar e propor a votos diferentes exemplares, os quais poderão entrar em circulação a breve trecho. Se tiver um tema ou efeméride que achasse ver comemorado, difundido, mãos à obra. Se até os entusiastas do quitanço já têm uma estampilha a concurso, sob o mote 'O tuning é arte móvel'...

Ida e volta: Regressados ao convívio bloguístico estão a Polly, no novo Diotima, e o Ivan, no não tão novo Ex-Ivan Nunes.

Não aconteciam?
: Acho que estou no comprimento de onda do que levou a f. a escrever o post de hoje. Se é certo que a concentração urbana e o desenvolvimento da mobilidade - entre outros - potenciaram o aumento deste tipo de predação, é também certo que não a geraram. A mim têm-me vindo à cabeça as descrições feitas por Raul Brandão (nas suas Memórias, se não me engana a minha) de prostituição infantil descarada, da mendicidade, dos abandonos, no Porto, e mais gritantemente em Lisboa. Têm-me sobretudo impressionado, desde o caso Casa Pia, as lembranças que familiares e amigos bem mais velhos vão trazendo à tona das conversas de ocasião. Coisas das quais antes pouco se falava, como que a esconjurá-las. Nem um nem dois vieram no fim da infância, em pleno pós- II guerra, trabalhar de marçanos para as lojas da capital. Se em início de discussão alguém usa o tal 'estas coisas não aconteciam', depressa outro alguém relembra o enigmático interesse e a surpreendente generosidade que moviam com frequência, até aos armazéns de retalho, aos cais e às carvoarias, cavalheiros de insuspeita aparência. E de como quando a algum dos rapazes se perdia o paradeiro se dizia vagamente que teria voltado para a terra, ou ido para África.

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Vitórias Democratas, vitórias de Pirro

O Congresso norte-americano, com larga maioria democrata, votou ontem a proposta do presidente Bush que reclamava 100 biliões de dólares para serem gastos com a guerra no Iraque (The New York Times). Simultaneamente, nenhum calendário relativo à retirada das tropas dos EUA daquele país foi discutido ou aprovado. Poderia dizer, e digo, que se tratam de boas notícias para a Administração Bush, para os EUA, para os seus aliados (incluindo os mais cínicos), para o Iraque, para o Médio Oriente e, pasme-se, para o mundo (por mais que o dito Médio Oriente já não importe). Mas, sobretudo, queria sublinhar que a vitória dos Democratas nas eleições para o Congresso do passado mês de Dezembro foi, claramente, uma vitória de Pirro. E é fácil dizer porquê. Assentava em propostas políticas totalmente irrealistas no que respeitava à resolução “questão” iraquiana e avaliava, uma vez mais, deficientemente a sensibilidade dos norte-americanos em relação à guerra. É que embora os norte-americanos sejam, na sua maioria, cada vez críticos do conflito e da forma como tem sido gerido, exigem, também maioritariamente, que o esforço de guerra continue a ser financiado. E morta, nos termos colocados pelos Democratas, a questão iraquiana, expira-se a vitória daqueles e os seus efeitos nas eleições de 2008. Por mais que muita coisa mude até lá. É que já não será a mesma coisa.

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quinta-feira, maio 24, 2007

Sim, Sr. Ministro

, descobrir aos quase trinta anos que afinal nasci no deserto faz-me sentir muito mais exótica. E agora vou ali beber um chá de hortelã.

Partir o país ao meio.

Parece que Almeida Santos receia que uma ponte dinamitada seja motivo suficiente para partir Portugal ao meio e inviabilizar a construção do novo aeroporto de Lisboa na margem esquerda do rio Tejo. Não era preciso ir tão longe! Bastava que recordasse os tempos do bloqueio da estrada nacional n.º 1 por alturas do Rio Maior em 1975, ou da ponte doutor Oliveira Salazar no estertor do “cavaquismo” e que muitos jovens turcos socialistas apoiaram sem qualquer hesitação e enorme impunidade… política, está bom de ver. Quero com isto dizer, que para partir ao meio um país como Portugal não é necessário pôr dinamite por baixo ou por cima das pontes. Bastam do governos da estirpe deste que agora temos, no ano da graça de 2007.

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quarta-feira, maio 23, 2007

Um bocado estranho.

Por trás da notícia que nos fala do caso de um professor suspenso pela diligentíssima directora-geral do ensino do norte vejo umas quantas coisas. Vejo a medida punitivo-preventiva e a delação em que a dita medida se fundamentou. Vejo uma delação consumada por escrito e redigida por um colega de gabinete que terá achado fora da lei uns presumíveis comentários jocosos que o dito professor terá produzido sobre essa altíssima figura nacional que é o primeiro-ministro José Sócrates. Mas na notícia eu vejo, sobretudo, o facto de ainda haver na legislação portuguesa a possibilidade real de se perseguirem cidadãos – neste caso funcionários públicos – por delito de opinião. Estranho e preocupante, não é?

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terça-feira, maio 22, 2007

Desgovernar Lisboa

Não percebi, no Prós e Contras (só vi o início), se o Paulo Varela Gomes quer apenas mudar o regime político em Portugal ou ainda alterar a natureza dos Portugueses como pré-condição para se melhorar as coisas em Lisboa. Seja como for, fico a aguardar o seu próximo passo.

Eu por mim já me contentava com um Plano Verdinho para Lisboa; com ainda mais transportes públicos (que já há muitos e bons, e que me levam, graças a Deus, sem problemas ao teatro); com vias cicláveis a sério (e não brincadeiras mal feitas e de fim-de-semana); com mais parquezinhos; com mais restauro e menos construção. Isto nem custa muito dinheiro, nem exige grandes alterações constitucionais. Seria preciso uma equipa de jeito, alguma visão sobre o muito que se pode mudar com pouco, uma real vontade e possibilidade de governar a cidade. Espero que o António Costa vá por aí e consiga um mandato claro para o fazer.

Quanto aos estrangeiros não me preocupava, continuam - na minha experiência - a gostar muito de Lisboa. Isto das cidades do imaginário tem certas vantagens. Até os desgovernos vão à conta do pitoresco. Mas podia-se fazer mais e melhor pelos que vivem em Lisboa, assim o quiséssemos.
IMAGEM: Cortesia de Carlos Botelho e CAM (pelo menos até ver).

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Queda de Wolfowitz


Não me agrada bater no ceguinho. Mas Wolfowitz não é um ceguinho qualquer. Sebastian Mallaby do Council on Foreign Relations (do mais mainstream que se pode arranjar no meio académico norte-americano) fez os comentários mais apropriados à agenda moralizadora de Wolfowitz no Banco Mundial em que forjou a espada em que acabou por cair ele próprio:

Mas o que mais me chocou foi ver Wolfowitz e os seus aliados não conseguiram perceber que tinha de sair. Estes adeptos do neo-liberalismo económico extremo, defensores de que a precariedade no emprego que implica é algo normal e inevitável, subitamente transformarem-se em sentimentais profundamente preocupados em evitar um despedimento demasiado brusco e traumatizante. Estes neo-conservadores tão capazes de ver nos custos em vidas de uma guerra um sacrifício necessário em nome de um bem maior, subitamente ficaram paralisados pelas susceptibilidades pessoais de Wolfowitz. Estranhos critérios, não? Em todo o caso não é todos os dias que o Banco Mundial se vê envolvido num caso romântico multiculturalmente correcto, nesse aspecto há que lhe tirar o chapéu. Desejo-lhe a melhor sorte no seu futuro pessoal e académico.

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segunda-feira, maio 21, 2007

A história económica na obra de Jorge Borges de Macedo


Por ser demasiado longo não posto aqui um texto sobre o mestre, que, no entanto, vos convido a ler aqui.

Ver também este blogue.

domingo, maio 20, 2007

Tribunal do País das Maravilhas

Depois de ter dado razão aos contestários e forçado o adiamento das eleições intercalares em Lisboa para 15 de Julho - em nome da necessidade de dar aos cidadãos oportunidade para participar nas mesmas - fico esperando a resposta à pergunta que se impõe. O Tribunal Constitucional já voltou a ser isento e independente dos partidos? Ou, como na semana passada (quando Rui Pereira abandonou um dos tachos mais apetecíveis para um jurista em Portugal para assumir um dos ministérios mais difíceis para levar para diante as reformas em que se empenhou) continua, ó inesperada maravilha, um antro dos partidos? Agradeciam-se esclarecimentos.

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As Vantagens do Atraso

Ontem à tarde, entre as três e meia e as seis e meia, deambulei pelo Parque das Nações. Fi-lo depois de deixar o meu filho no Oceanário onde um coleguinha de escola festejou o seu 5.º aniversário. Na primeira hora e meia andei pelo Centro Comercial "Vasco da Gama" que me pareceu o mais povoado de todos aqueles que até hoje me foi dado a conhecer. Não havendo filme decente exibido no horário que me convinha refugiei-me, literalmente, numa boa livraria Bertrand que desconhecia. Depois saí e fiz uma caminhada junto ao rio e ao largo de uma marina fantasma e decadente, não sei se abandonada ou ainda em construção.
Mas para além do espectáculo proporcionado pela marina e pela acelerada degradação do espaço público em algumas zonas do Parque das Nações, da ausência de estacionamento automóvel capaz de absorver a procura, da construção selvagem de perfil suburbano, notei uma forte presença do Portugal rural naquele espaço. Essa presença pareceu-me ser resultado da descida a Lisboa dos familiares de muitos estudantes universitários finalistas que ontem participaram na já clássica “benção das fitas”. A ruralidade portuguesa agrada-me por várias razões. Mas sobretudo por ser social e politicamente coerente. Do mundo rural do nortenho, ou do centro, lá estava o velho Portugal que apoiou Salazar e Caetano e nos últimos 34 anos combateu e venceu o PREC e tem votado, acima de tudo, no PS e no PSD. Do sul, e sobretudo do Alentejo ou das cidades da margem esquerda do Tejo, veio a ruralidade que combateu o “fascismo”, fez a reforma agrária e ainda vai votando no PC. É claro que esta ruralidade tem mudado e, em boa medida, acabará por se transformar radicalmente ou desaparecer. Mas por agora ela existe e resiste. Uns dirão que ela é o preço a pagar pelo nosso imenso atraso. Para mim é uma das vantagens enormes produzidas pelo nosso atraso. Dá-nos estabilidade e identidade. Apesar dos seus custos pagos quotidianamente pelo país e, sobretudo, pelos próprios rurais. Mesmo que estes não se importem.

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sábado, maio 19, 2007

Sarkozy: Amigo de Portugal?

Será? Inimigo dificilmente terá razões para ser (deliberadamente). Precisa de aliados na Europa, e a prudência diplomática portuguesa de par com um empenhamento no fundo com a o projecto europeu e um compromisso com o reformismo económico provavelmente não auspiciam dificuldades em Paris. E convem a Sarkozy o apoio dos luso-descendentes em França.
O Paulo Gorjão vê na proposta de União do Mediterrâneo uma manifestação de indesejável competição com os interesses portugueses nesta zona. Não creio. Parece ser uma ideia vaga, eleitoralista e provavelmente condenada ao fracasso, pois parece difícil de distinguir do objectivo final actual da Pareceria Euro-Mediterrânica, e nada oferece de novo à Turquia. Sobretudo, Portugal sabe que não pode promover sozinho o interesse pelo Magrebe (ou por África) na UE, precisa do apoio de alguns países grandes como a França. Sozinho, sem a UE, pouco pesa.
Mas há um pequeno detalhe nada amigável que surgiu nas propostas eleitorais de Sarkozy: um imposto sobre os TIR, os pesados internacionais, que transitam por França. As consequências para os transportadores e as exportações Portuguesas seriam péssimas. Felizmente duvido que a UE vá nisso por violação das regras do mercado único (creio que a Alemanha tentou algo assim e teve de se contentar com subida das portagens). O governo, no entanto, poderia ir vendo isso com o novo morador do Eliseu.

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sexta-feira, maio 18, 2007

Daqui não oiço as terras

Um pouco de sotaque em quem nos dá as notícias era bom, digo eu. Mas nem um bocadinho de alentejano, angolano, madeirense, minhoto. Um fiapo de portuense, é só o que há. E muito quem reprima o seu falar. Como se quem ali está não nos quisesse mostrar quem é. Só nas entrevistas de rua, nos fóruns e nos reality-shows nos lembramos que o português não é uma espécie de lisboeta liofilizado.

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Intenções

Este mês de Maio dedica-o o Rádio Clube Português à “causa” da fome em Portugal e no Mundo. Junho, quando começa em força a época balnear, poderá a mesma estação radiofónica dedicá-lo à obesidade, a chamada epidemia do século XXI (na verdade apenas uma de muitas neste mundo cada vez mais perigoso). Mas a “causa” autêntica e quase oculta do Rádio Clube Português, aliás legítima, é subir mais uns degraus nas “audiências”. Conclusão: quem de fora vai ouvindo estas coisas não tem dúvidas que a imaginação escasseia e que de boas intenções continua o inferno cheio. Seja para matar a fome ou conseguir boas audiências e mais receitas de publicidade.

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A ira da Rainha da Noite

A propósito de "Flauta Mágica" e de Mozart, este soube utilizar o seu génio na perfeição para dar expressão musical aos grandes sentimentos humanos, mesmo os piores. É o que se pode ver nesta ária da Rainha da Noite, a maléfica, que aqui quer obrigar a sua filha Pamina a matar Sarastro, o sábio. Para transpor as emoções fortes para a ópera, o nosso compositor criou verdadeiros exercícios de ginástica vocal que se tornaram provas de fogo para os artistas líricos, como esta ária também demonstra (sejam pacientes e deixem passar o recitativo, até chegarem à música).

quinta-feira, maio 17, 2007

Sarkozy: o amigo dos EUA?

O novo presidente francês tomou posse com a fama de amigo dos EUA. Onde é que eu já ouvi isto? A respeito de Chirac, claro, quando ele assumiu a presidência. Até recordaram, então, que tinha vivido nos EUA e até tinha tido uma namorada norte-americana! (Com quem evidentemente não casou, se calhar deviam ter estado atentos a esse pormenor). E realmente a política externa de Chirac esteve longe – ao contrário do que agora querem fazer crer – de uma hostilidade cega e sistemática aos EUA. Veja-se a sua posição favorável ao envolvimento americano na Jugoslávia em contraste com as reservas do governo britânico (Conservador) de então, liderado por John Major. Convém lembrar estas coisas. E esperar para ver.

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Roseta

Espero que a arquitecta Helena Roseta consiga as 4000 assinaturas e apresente uma boa equipa e um bom programa. Mas é evidente que a governabilidade de Lisboa em eleições intercalares não pode estar à espera que se prepare e organize. Aliás tal nem deverá ser necessário porque certamente esta candidatura é o resultado de longa maturação e ampla reflexão a respeito de Lisboa e fartos contactos com os Lisboetas e não de um simples capricho.
PS - Ver o blogue da campanha aqui.

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terça-feira, maio 15, 2007

Links e You Tube

Bem tentei casar um video do You Tube com links e marcadores, mas nada feito. Ou tinha video com texto, mas sem links e marcadores. Ou publicava o texto com links e marcadores e o video desaparecia. O defeito será meu ou do You Tube. Seja como for, o post do Daniel Oliveira a que me refiro é este.

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Casamento e Amor

Frank Sinatra dedicou uma canção a um post de Daniel Oliveira. Será uma canção de louvor ou a mandar vir? A controvérsia fica para os comentadores de cabeça fria, que eu estou sob os efeitos da lua-de-mel de um casamento católico...

Conselheiro sentimental

Para defender a proposta do Bloco de Esquerda favorável a uma espécie de “divórcio na hora”, o animador do Arrastão sustenta que a partir do momento em que uma das partes deixa de amar, o divórcio e a sua consumação devem ser um direito consignado na lei. Na proposta do Bloco e nas palavras do Daniel eu vejo, acima de tudo, irresponsabilidade e “engraçadismo”, além uma enorme necessidade de procurarem demonstrar que ainda vivem. Mas vejo, também, a propósito do cruzamento feito entre casamento e amor, uma ternurenta mentalidade pequeno-burguesa e um desconhecimento absoluto do que é a instituição do matrimónio. Coitado, o Daniel está convencido que o casamento existe por causa e em função do amor. Não é bonito? Mais um bocado e o Daniel passará do “Eixo do Mal” para os programas da manhã da SIC ou da TVI onde se tornará num muito bem sucedido e popular conselheiro sentimental, falando olhos nos olhos com donas de casa, adolescentes relapsos e pensionistas sexualmente muito activos.

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Silly Season antecipada.

As três páginas que o Público de hoje dedica ao Verão anormalmente quente que aí vem, além de adivinhação barata, porque qualquer um é capaz de prever um Verão muito quente depois de um Inverno rigoroso e porque em Portugal os Verões têm quase sempre a mania de ser muito quentes, parece um frete do jornal e dos seus assalariados às empresas fabricantes e vendedoras de aparelhos de ar condicionado. Mas também é verdade que a escolha do tema poderá sempre ter que ver com um facto muito simples. Já nada há de interessante sobre que escrever a um par de meses da chegada da Silly Season.

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segunda-feira, maio 14, 2007

Leituras para o Povo: Sexo, Drogas, Blogues e Refugiados.

Pareceu-me que poderia interessar ao povo bloguista por razões mais ou menos evidentes: Sex, Drugs and Updating your Blog é o título de um artigo na última revista do New York Times. Quem tiver um testemunho a propósito pode usar a caixa dos comentários.

Para quem só se detém em coisas mais sérias, pode ler, sem sair da mesma revista, António Guterres, e reflectir sobre uma das questões que actualmente preocupa o Alto Comissário da ONU para os refugiados: The overall estimate for the number of Iraqis who had fled Iraq was put at two million by Guterres. The number of displaced Iraqis still inside Iraq’s borders was given as 1.9 million. A Suécia parece que já acolhe 20.000 iraquianos. Portugal, pátria de Guterres e Aristides de Sousa Mendes, quantos estará dispostos a acolher? O povo o dirá.

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Um post "neo-salazarista".

Segundo o Diário de Notícias, a Segurança Social terá "congelado" qualquer coisa como as contas bancárias de "25 mil empresas." Mas apesar destes números apenas conseguirá arrecadar uma pequena parte daquilo que as ditas empresas lhe devem. E porquê? Porque as contas não têm saldos que se vejam. Empresas e particulares estão quase falidos e endividados à banca, aos amigos, aos conhecidos, às empresas. tudo por boas e más razões. Mas sobretudo, porque ao nível "micro" é óbvio que a economia portuguesa não consegue sustentar tanto Estado. Mais ainda, e naquilo que à Segurança Social diz respeito, os cidadãos e as empresas não podem, em geral, dispensar mais recursos.
Como se sabe, o Estado Social é em Portugal coisa recente. A I República, aprofundando a obra de João Franco nesse domínio, tentou criá-lo. Seguiu-se-lhe a Ditadura Militar, o Salazarismo e o Marcelismo. Por último a Democracia. Se até ao 25 de Abril, melhor ou pior, o Estado Social nasceu e cresceu lentamente em função dos recursos reais da economia – empresas e famílias –, depois do 25 de Abril cresceu em função da ideologia e da necessidade de ganhar votos. Concedo que uma coisa e outra, em Democracia, são reais. Mas são muito menos reais do que a realidade de uma economia frágil com pouca capacidade para pagar impostos altos e contribuições astronómicas para a Segurança Social. Se houvesse bom senso e coragem política em Portugal, o fracasso na pilhagem dos recursos financeiros que ainda se encontram nas mãos de particulares, e de que o DN nos dá conta, deveria contribuir para a abertura de uma nova era na política fiscal portuguesa e uma inversão nessa megalomania que é pretender dar Estado Social a quem precisa e a quem não precisa.
Razão teve portanto Salazar, no dia em que tomou posse como ministro das Finanças, em liquidar imediatamente um pacote de decretos mandado promulgar pelo seu antecessor e que se propunha, com o dinheiro que não havia - nos cofres do Estado e nos bolsos dos particulares - criar seguros sociais obrigatórios para todos os trabalhadores. Isto, apesar de muitas regalias sociais em Portugal terem chegado aos portugueses com Salazar no Governo. Mas tal sucedeu sempre em função dos recursos financeiros disponíveis e da realidade económica do país e do mundo. Portugal não era a Alemanha. Por isso, Salazar nunca quis, demagógica e irresponsavelmente, ser o Bismarck dos trabalhadores portugueses e o liquidatário da economia portuguesa. Ao menos através de impostos altos, de despesas incompreensíveis e de uma Segurança Social insustentável.

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sexta-feira, maio 11, 2007

Leituras para o Povo: Luttwak e o Meio de Lado Nenhum


Edward Luttwak mostra que o seu gosto por confrontar as verdades estabelecidas não está abalada pela idade. Afinal, este foi o homem que nos deu um prático Manual do Golpe de Estado e que há anos se manifestou contra as intervenções humanitárias no seu célebre artigo Dêem uma Oportunidade à Guerra. Não são leituras para pessoas impressionáveis, mas são interessante e inovadoramente argumentadas. Agora Luttwak vem lembrar, com o radicalismo habitual, que o Médio Oriente não interessa para nada, é The Middle of Nowhere. Aí afirma, preto no branco, que o Médio Oriente é uma zona perfeitamente marginal nas actuais dinâmicas mundiais.

Não subscrevo a tese. Mas é de ler. Porque é bem verdade que se tem dado demasiada importância a cada espirro ou oscilação de humor dos médio-orientais. E é bem verdade que qualquer regime, por mais radical, que queira sobreviver nesta região, dificilmente poderá deixar de vender o seu petróleo a preço realistas (veja-se Khomeini).

Enfim, com estas "Leituras para o Povo" aqui fica mais uma rubrica para animar o povo. Pois nem só de clássicos vive o homem. Pois os suplementos literários parecem ameaçados de extinção nos jornais portugueses. (E afinal este blogue já nasceu falido.) Espero que arraste multidões.

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Encore Lisboa


Deixaram-me neste meu poste várias questões com interesse: Será que só Lisboa tem o monopólio das desgraças? Claro que não, como sublinha o Luís Lavoura. Mas isso serve de pouca consolação. E o potencial para fazer asneiras com grande impacto é maior em Lisboa.

Será que houve algum Presidente da Câmara de Lisboa com um projecto de cidade? Quer Sampaio, quer João Soares tinham como grande prioridade, que conseguiram concretizar, acabar com as barracas. Seria preciso mais, teve custos elevados, mas é uma coisa muito importante. Carrilho tinha um bom projecto e uma boa equipa, o que a sua personalidade (entre o pouco estimada e o odiada em muitos meios) não deixou ver.

Temos a sorte de Ribeiro Telles já ter desenhado o Plano Verde. Um plano com que Santana (fiel a si próprio) se comprometeu e descomprometeu, e que a Câmara Carmona rejeitou. Parece que a Assembleia Municipal está agora a querer aproveitá-lo. Já não seria mau que os novos candidatos se comprometessem seriamente a avançar com ele.

Que candidato socialista? Helena Roseta teria sido um bom nome politicamente para Sócrates. Daria uma satisfação à ala esquerda mais inquieta do PS. Poderia facilitar uma coligação com as esquerdas. E se perdesse dificilmente os críticos o poderiam atacar. Mas Roseta, sendo uma pessoa de carácter e ideais, parece-me talvez pouco afeita, apesar de uma experiência autárquica há anos, para as tarefas de gestão política e administrativa de uma cidade como Lisboa. O que não quer dizer que não pudesse (possa?) vir a ter outro papel (por exemplo ao nível da Assembleia Municipal).

Mas importa-me sobretudo que surjam alternativas de qualidade para a cidade, de preferência de todos os partidos, e tanto quanto possível longe da politiquice. Lisboa bem precisa. Mas Lisboa também precisa desesperadamente de governabilidade. Isso significa coligações à esquerda e à direita, e significa também eleições para a Assembleia Municipal.

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Almanaque do Povo

Comemorações: Parabéns aos autores do Abrupto e do Mar Salgado, que na semana que termina comemoraram quatro anos de vida. Para quem gosta de rememorar estas coisas, o Bloganiversário dá uma ajuda.

Geração de 60: é o nome do blogue colectivo nascido no passado mês de Abril. Múltiplos são os autores, as perpectivas e os tons, substancial a visita.

"O ersatz da vida toda": Não sei se percebi este post de JPP, pareceu-me que queria dizer que dava por cada vez mais pessoas fazendo terapia de substituição na blogosfera, assim como se observasse quem nela se move em permanente second life. Se bem percebi, não concordei. Um meio de comunicação é isso mesmo, um meio; as pessoas podem tocar as existências umas das outras através dele, mas isso não substitui nada - apenas acrescenta (ou abre caminho para) alguma coisa.

O Caderno e o Folhetim: Gostei de achar, por puro acaso, O Mistério da Estrada de Sintra, blogue que Jorge Paixão da Costa mantém desde 2003, ano em que deitou mãos ao projecto que originou longa-metragem homónima, bem como a série exibida pela RTP há uns meses, Nome de Código: Sintra. Aí se encontram registados os estados de espírito do realizador, as várias fases do processo criativo, o desenvolvimento do argumento, etc. Gostei porque pude comparar esse registo com o que havia visto acabado, tanto em série quanto em filme; a construção e economia narrativas, o design de produção, o casting e a direcção de actores, são alguns dos aspectos que me pareceram mais conseguidos. Há - o que ainda não é habitual na ficção audiovisual portuguesa - um grau de tensão nas tramas da série (a relação entre o presente e o passado) e do filme (a relação entre a ficção e a realidade) capaz de cativar o espectador cansado de ver histórias ininteligíveis, básicas, condescendentes ou chatas.

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Papageno e o chuto que dá na morte...

Para deixarmos a paragem trágica e lúgubre em que apanhámos o comboio de Mozart no post anterior, nada como ver este excerto de "A Flauta Mágica", no qual Papageno, o simples, se salva da tentação da morte com duas coisas também simples: a música e uma companheira (Papagena) para o "aquecer" e por ele ser "aquecida". Se, para além da própria qualidade da criação musical, há coisa em que o génio de Mozart se evidencia é nisto: saber construir (saber captar) musical e dramaticamente o pulsar dos egos grandes e trágicos e, ao mesmo tempo, os dos simples e "mansos" (até nos trazer, com diferença de segundos, às lágrimas e ao riso)...

Don Giovanni: A Morte do Vilão

Em "Don Giovanni", no tratamento operático que Mozart deu à história de D. Juan (de que aqui se vê o excerto decisivo), talvez o tema principal seja o de como o mal, como decisão livre do sujeito, só pode encontrar solução na experiência da morte; esta torna-se a única catarse possível, imposta por uma força sobre-humana e, no limite, contra a vã resistência daquele que, nem mesmo no fim, se arrepende. Mas o arrependimento já é uma outra questão. Somos seres morais porque somos mortais, o que é o mesmo que dizer que a morte não merece a má reputação que lhe damos - até porque o maior problema é o de um ser "imoral" que não teme a morte; pelo que Don Giovanni, apesar de toda a sua depravação, sendo um hedonista (a seu modo, amando a vida), é imoral, mas não é a "besta". Nesta cena final em que a morte o vem buscar conseguimos chegar a admirar a sua coragem, muito embora a reposição da ordem desencadeada pelo regresso sobrenatural do Comendador nos conforte. E, no fundo, embora resista (porque teria de o fazer), Don Giovanni deve pressentir a justiça do seu fim (que não lamenta): deu a morte a outros (literal e figurada) e agora ela é-lhe devolvida. (Já para os "justos", a morte não será devolução, mas necessidade da sua condição.)

António Costa, o Governo e a CML

Em mais um excelente post, José Medeiros Ferreira pergunta quem é que anda "a tramar António Costa" ao propor insistentemente a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Presumindo que não é o próprio António Costa, que poderá querer sair de um Governo em que já não acredita, eu responderia dizendo que é José Sócrates. Por várias razões, mas talvez pelo facto do putativo candidato à Câmara da capital se ter encontrado de férias, e em silêncio, quando rebentou e decorreu grande parte do escândalo em torno da licenciatura do engenheiro que nos governa.

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quinta-feira, maio 10, 2007

Turquia e "jornalismo" de causas

Esta notícia no Público on-line, com base num "telex" da Agência France Press (notícia sobre uma votação que decorreu no Parlamento turco e que transforma a eleição do presidente da República da "Sublime Porta" numa consequência do sufrágio directo e universal), diz-nos tudo sobre o apoio que os jornalistas, seus autores, dão à preservação a qualquer preço de uma certa forma de "laicismo" e de "democracia" na Turquia. Por mim, preferia menos jornalismo de causas e, está bom de ver, mais informação. Afinal, sabemos muito pouco sobre a Turquia.

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Cada Carteira, Dez Tostões


, assim eram propagandeados pelos Parodiantes de Lisboa, em meados do século passado, os rebuçados do Sr. Álvaro Matias. Reza a crónica que em tempo de guerra um refugiado francês, Dr. Bayard, reconhecido ao jovem marçano dos lados de Almeida, deixou em sua posse uma receita de anti-tússicos por paga de serviços prestados. Alguns anos anos mais tarde, em 1951, os drops medicinais começaram a ser produzidos na Amadora e distribuídos de farmácia em farmácia.
Esta incauta vítima de pólens e primeiros raios de sol alto já não paga por eles dez tostões, mas alegra-se com aquele característico travo a alteia, aldrabando-se por uns dias até se render aos anti-inflamatórios, anti-histamínicos, anti-tudos. Que há um conforto tão grande e tão raro no que ainda sabe ao que sabia quando éramos pequeninos.

Independentes

Ao que parece as eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa estão a colocar, para já, em tudo quanto é noticiário, a possibilidade de virem a acontecer umas quantas candidaturas independentes. Independentemente destas virem, ou não, a acontecer, os independentes e as independentes querem, naturalmente, aparecer como gente acima dos partidos, questionando a ética baixa que caracteriza os mesmos e os seus putativos candidatos. É verdade que nos partidos há muito a criticar e a melhorar. Eu diria mesmo, e porque vivemos em democracia, que há tudo a criticar e a melhorar. No entanto, os e as independentes, no caso das eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, não só passaram anos ou décadas em partidos políticos, como são o que são politicamente por causa da sua militância em partidos. Por outro lado, não basta apenas que queiram mostrar a sua superioridade ética ou moral. Será imprescindível que apresentem "projectos" ou "programas" e, sobretudo, formas exequíveis de os aplicar. Em resumo, e apesar de ser o que é o ponto de partida das auto-desejadas candidaturas, tudo será e terá muito de política e quase nada de ética.
E depois há que recordar o facto de Portugal ter à frente de muitas das suas autarquias “independentes” pouco ou nada recomendáveis. Ao menos do ponto de vista “ético.”

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Timor-Leste: Colónia da Santa Sé.

Os resultados provisórios, e os definitivos que se adivinham, das eleições presidenciais em Timor-Leste, fazem com que me ocorra apenas uma coisa. Timor-Leste nunca devia ter sido colónia portuguesa ou mais uma província indonésia. A sua vocação era ser um território ultramarino da Santa Sé, governado em regime de mandato deste 1919. Ficava tudo mais claro e os timorenses seriam, indiscutivelmente, gente mais feliz.

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Cavaco Silva no Jamor

Ao que tudo indica, o presidente Cavaco Silva tomou, finalmente, uma decisão acertada. Vai assistir à final da taça de Portugal no estádio nacional aqui ao lado no Jamor. Com o presidente a assistir, logo ele que vive, e bem, em Belém, aumentam seriamente as possibilidades dos “Belenenses” levarem para o Restelo o tão desejado trofeu. Oxalá não me engane e consiga comprar um bilhetinho para assistir à contenda. Logo eu que estive na final, já lá vão quase vinte anos, em que o Belenenses derrotou um então super-Benfica. Desta vez (só) há que vencer o favoritíssimo Sporting Clube de Portugal.

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quinta-feira, maio 03, 2007

Carmona no País das Maravilhas


Parece que o PSD finalmente se cansou de cavar. Nada me ocorria mais a a propósito da crise em Lisboa do que o ditado americano: if you are in a hole stop digging (se estás num buraco pára de cavar). Mas os bons conselhos são sempre difíceis de seguir. Sobretudo por alguém tão claramente destituido de bom senso quanto Carmona Rodrigues, que parece disposto a continuar, sozinho, a cavar mais a sua própria sepultura política.

Não me agrada esta judicialização da vida política, mas ela resulta dos princípios de alto rigor fixados pelo líder do PSD. (O PS nesse aspecto é mais prudente: autarcas seus só devem demitir-se quando formalmente acusados, senão há um risco real de se tornar as câmaras ingovernáveis, ficando à mercê de quem se lembrar de lançar umas quantas acusações).

Mas sobretudo o que me preocupa é a impunidade com que se tem destruído o espaço público em Lisboa a favor de um lucro privado desmedido. O que me assusta é o completo desnorte e ausência de projecto de futuro em anos decisivos para a afirmação international de Lisboa, uma cidade com um enorme potencial. Veremos o que nos propõem.

E, caro, é legal mas não é legítimo que o PSD não faça cair também a Assembleia Municipal, é mesmo gravíssimo que não o faça como argumentou António Capucho. Lisboa vive uma crise gravíssima de governabilidade. As eleições custam tempo e dinheiro. O mínimo que se pode e deve exigir é que depois de toda esta confusão se criem as condições para realmente se sair dela e começar de novo. E até não deverá ser difícil ao PSD apresentar candidatos credíveis, para bem da cidade.

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Turquia Democracia

É estranho logo ter havido quem tenha saltado para a crise na Turquia como a oportunidade para mostrar que não faz parte da Europa. É verdade que os militares pesam muito na Turquia, mas isso causa-nos estranheza a nós? Afinal, se a Europa fosse assim tão esquisita quanto a processos de transição não nos tinha deixado entrar na CEE em 1985 (ainda tínhamos um presidente militar) até porque não teríamos podido começar a negociar a adesão até 1982 (tínhamos os militares no Conselho da Revolução). Tem a Turquia uma questão de lacismo de Estado algo intolerante? Tem, mas não é propriamente o único país da Europa a tê-la, basta pensar na França, e até há quem, em Portugal, pareça querer ressuscistar o problema. Tem a Turquia um problema de separatismo violento? Tem, mas a Espanha não faz parte da UE?


A verdade é que nos últimos anos, e mais uma vez agora, a Turquia parece ter escolhido o bom caminho para ir resolvendo as suas crises: convocar eleições cuja democraticidade não é contestada. Falta ainda reduzir o peso dos militares, dar plena igualdade aos cristãos locais, cuidar mais dos direitos dos curdos. Mas como é que se ajuda seriamente a consolidação da democracia na Turquia? Pensem em Portugal há umas décadas atrás. É a dizer: a Europa não vos quer porque ainda não são suficientemente democráticos? Ou a afirmar: avancem com as reformas, que estamos à vossa espera? Claro que muita coisa pode correr mal (lembram-se das FP 25 ou a tentativa de golpe de 23 F em Espanha?), mas isso não é razão para desistir já.

O grande problema, na verdade, está noutras questões e está na própria Europa. A Turquia é demasiado populosa e demasiado pobre, tem de controlar o seu crescimento demográfico e reformar a sua economia. Será o primeiro grande país muito pobre a entrar na UE, e isso tornar ainda mais urgente a reforma e o reforço das instituições comuns. Além disso, há ainda o pequeno problemazinha que muitos no Ocidente gostam muito de eleições no Oriente, desde que seja para eleger os "seus" candidatos. Claro que uma democracia não é só vencer eleições, mas os islamistas turcos deram razões a alguém, até agora, para duvidar das suas credenciais democráticas e europeístas? E convém lembrar que a história parece mostrar, desde há muitos séculos, que não há paz duradoira na Europa sem se resolver minimamente os complexos problemas do seu flanco sul. Fazer dos turcos plenamente europeus sem deixarem de ser turcos, sem deixar de ser muçulmanos, eis um projecto digno do século XXI.
IMAGEM: Primeiro-Ministro Erdogan e a sombra de Ataturk.

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quarta-feira, maio 02, 2007

Blair fez 10 anos

Parece mais velho, mas é verdade: Blair fez dez anos como primeiro-ministro. É obra em política, que é primeiro que tudo é uma arte da sobrevivência. Sem se durar não é possível fazer obra durável.

Blair em Portugal é uma espécie de deserto político. É um saco de porrada da nossa direita e da nossa esquerda. As acusações de que Blair não passa de mero propagandista são risíveis, sobretudo feitas em Portugal. Quantos livros ou centros de reflexão produzem os partidos portugueses? Onde estão pensadores como Anthony Giddens ou centros como a Policy Network, empenhados em dar uma filosofia política minimamente coerente mas respondendo aos problemas actuais a uma Terceira Via viável entre o capitalismo desenfreado e o marxismo ultrapassado?

Quem quiser avaliar com justiça o impacto de Blair tem de se perguntar: quem, do ponto de vista da esquerda, poderia ter sido eleito e feito melhor? Tem sobretudo de se constatar que hoje na Grã-Bretanha é impossível a qualquer partido dizer que vai baixar os impostos. (Veja-se David Cameron). Porque a pergunta que domina o debate público é: se cortamos as receitas do Estado, então o que sucede com a qualidade dos serviços público na saúde ou na educação? Foi essa a viragem decisiva que Blair conseguiu fazer. Não seria mau que em Portugal se chegasse ao mesmo nível de maturidade política.

Em política externa a sua avaliação tem de ser mais negativa. A aposta numa aproximação simultânea à Europa e aos EUA e numa política de intervencionismo humanitário naufragou, em boa parte, no Iraque. Mas nem tudo é negro: do Kosovo até Quioto há muito para elogiar. E é inegável que a Grã-Bretanha conta muito no palco internacional.

Sobretudo, há que não esquecer algo quase completamente ignorado em Portugal: a questão irlandesa. Não é por acaso que Blair quer fechar o seu ciclo de governo com o regresso da normalidade à Irlanda do Norte. Pelo resto, mas sobretudo se a solução para a questão irlandesa for durável, Blair irá ser recordado como um dos maiores primeiro-ministros britânicos de sempre.

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terça-feira, maio 01, 2007

Trabalhadores de todo o Mundo! Uni-vos no Descanso!!!


A Democracia dos Outros

A Turquia, que muitos querem meter a qualquer preço na União Europeia, atravessa nas últimas semanas uma crise política que está pôr em causa o funcionamento de um regime democrático ainda muito débil. Apesar de a economia turca crescer hoje com taxas superiores a 5% ao ano, sucedem-se acontecimentos que nos fazem pensar que mais valerá à União Europeia que temos não importar problemas de que não só não necessita como jamais será capaz de ajudar a resolver. Há dias, em prol da defesa do Estado laico, tiveram lugar na Turquia várias manifestações e pressões absolutamente ilegítimas das Forças Armadas sobre as instituições democraticamente eleitas. Tudo porque, aparentemente, poderá vir a ser eleito no parlamento, e para ocupar a presidência da República, um homem que não esconde as suas moderadas simpatias pelo Islão. Entretanto, hoje, teve lugar um acto de repressão policial brutal da polícia sobre manifestantes que desejavam dirigir-se à Praça Taksim, em Istambul, para homenagear os 37 manifestantes que ali foram mortos aquando das celebrações ocorridas no longínquo 1.º de Maio de 1977. Uma Praça que desde 1980, ano de golpe militar, se encontra encerrada a qualquer acto político ou cívico. Resumindo e concluindo: ainda bem que a Turquia não faz parte da União Europeia. E já agora que a União Europeia nunca venha a fazer parte da Turquia.

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Algures na Catalunha... alô!

Ao João e à Ana Teresa:

[...]
Parce que d'un baiser tu changes tout un monde,
Que j'anime les grandes forces pures de ta chair,
Qui n'avaient pas, enfouies, trouvé leur plénitude,
Et qu'au travers de l'instant nuptial, je sais être
Sur l'immense courant qui joint les solitudes
Des hommes depuis toujours, et la solitude divine
A la leur, et tout près, cette solitude de nous-mêmes,
A celle de la vie que nous faisons éclore.
[...]

Patrice de la Tour du Pin, La Mise au Monde d'Amour

P.S. Chers amis du peuple, me revoilà... Ana Cláudia, merci...