Blair fez 10 anos

Blair em Portugal é uma espécie de deserto político. É um saco de porrada da nossa direita e da nossa esquerda. As acusações de que Blair não passa de mero propagandista são risíveis, sobretudo feitas em Portugal. Quantos livros ou centros de reflexão produzem os partidos portugueses? Onde estão pensadores como Anthony Giddens ou centros como a Policy Network, empenhados em dar uma filosofia política minimamente coerente mas respondendo aos problemas actuais a uma Terceira Via viável entre o capitalismo desenfreado e o marxismo ultrapassado?
Quem quiser avaliar com justiça o impacto de Blair tem de se perguntar: quem, do ponto de vista da esquerda, poderia ter sido eleito e feito melhor? Tem sobretudo de se constatar que hoje na Grã-Bretanha é impossível a qualquer partido dizer que vai baixar os impostos. (Veja-se David Cameron). Porque a pergunta que domina o debate público é: se cortamos as receitas do Estado, então o que sucede com a qualidade dos serviços público na saúde ou na educação? Foi essa a viragem decisiva que Blair conseguiu fazer. Não seria mau que em Portugal se chegasse ao mesmo nível de maturidade política.
Em política externa a sua avaliação tem de ser mais negativa. A aposta numa aproximação simultânea à Europa e aos EUA e numa política de intervencionismo humanitário naufragou, em boa parte, no Iraque. Mas nem tudo é negro: do Kosovo até Quioto há muito para elogiar. E é inegável que a Grã-Bretanha conta muito no palco internacional.
Sobretudo, há que não esquecer algo quase completamente ignorado em Portugal: a questão irlandesa. Não é por acaso que Blair quer fechar o seu ciclo de governo com o regresso da normalidade à Irlanda do Norte. Pelo resto, mas sobretudo se a solução para a questão irlandesa for durável, Blair irá ser recordado como um dos maiores primeiro-ministros britânicos de sempre.
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