sábado, junho 30, 2007

O dever de não ser estúpido

Na história da exoneração da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, pelo ministro Correia dos Campos não descortino nem ofensa nem deslealdade, mas apenas uma enorme estupidez.
O médico Salgado Almeida reproduziu declarações não desmentidas do ministro Correia dos Campos e acrescentou o comentário «Façam como o ministro, não venham ao SAP». A frase só pode ser ofensiva se o ministro Correia dos Campos considera um crime de lesa-majestade imaginar que o povão frequentador do SAP possa imitar o seu comportamento.
Quanto à acusação de deslealdade só pode colher se Correia de Campos, além de introduzir um novo conceito de ministro da Saúde como majestade, também redefinir o sentido de lealdade recorrendo ao cronómetro. Qual foi a «deslealdade» de Maria Celeste Cardoso? Ela não fixou o cartaz. Ela mandou retirar o cartaz quando soube que estava afixado. A sua «deslealdade» consiste na lentidão da reacção. Ao leal não basta obedecer, não basta agir preventivamente em defesa do chefe, não basta agir logo que sabe que o chefe foi ofendido. Tem de agir preventivamente. Para o ministro, é inadmissível que a Maria Celeste Cardoso não se mantenha informada, hora a hora, dos papéis afixados nas paredes do centro. Ou que não mantenha um funcionário a correr pelo centro com a única função de retirar imediatamente qualquer «comentário jocoso» afixado.
Correia de Campos acusa a directora de «falta de preparação» e «deslealdade», mas é ele quem é confuso, autista e desleal. Confuso porque, perigosamente, confunde os conceitos de Estado e Governo. Um centro de Saúde não é um gabinete ministerial. Um centro de Saúde, como uma escola, é Estado. Chegaremos ao ponto de punir os directores de escola que não retiram papéis a gozar com o Governo da sala de convívio dos alunos? Autista porque acusa a directora exonerada de faltar ao dever de «lealdade», sem reconhecer o direito à liberdade de expressão e o direito a não considerar a vigilância das paredes de um centro de Saúde a maior prioridade da sua directora. Desleal porque, como membro de um Governo eleito pelo e para o povo, tem deveres de lealdade para com as pessoas que usufruem e por vezes dependem dos serviços de saúde. E não está a cumprir esses deveres se não vai aos SAP, se não incute confiança nos serviços públicos do qual é o maior responsável, se perde tempo com questões ridículas, se fomenta um clima de delação e medo entre os seus funcionários. É o ministro da Saúde quem devia ser exonerado.

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quinta-feira, junho 28, 2007

A-Listers

Numa destas googlincidências fui parar ao New York Social Diary, o qual desconhecia absolutamente. Coisa nos antípodas do artificialismo cor-de-rosa de grande tiragem. Não sei se me surpreendeu mais o despretensiosimo elegante daqueles pequenos textos de crónica mundana, se o facto de os legítimos jet-setters terem afinal um ar tão bonito e tão feio quanto o resto da humanidade. Pois, já sei, preconceitos.

E, by Jove, pode lá haver tipologia para aqueles personals.

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segunda-feira, junho 25, 2007

A reforma do sistema eleitoral

A reforma do sistema eleitoral apresentada pelo PSD, no sentido de recorrer aos «círculos uninominais» para «aproximar os eleitores dos eleitos», assenta em diversas falácias. Algumas delas já foram apontadas num Fórum TSF, do qual só ouvi uns minutos. Vale a pena sistematizar aqui algumas dessas falácias:
1. Menos deputados significa melhor deputados. A proposta em discussão prevê uma redução de 230 para 181 deputados. Nada nos garante que o novo parlamento tivesse menos 49 medíocres. Constato que em qualquer grupo profissional os bons elementos constituem uma minoria. Suponhamos que os deputados bons sejam dez por cento do total do hemiciclo. Partindo desta hipótese, actualmente temos 23 bons deputados. No novo cenário teríamos apenas 18. Claro que este raciocínio tem as suas limitações e um valor metafórico. A questão principal talvez seja que no novo sistema os critérios de selecção mudariam. As qualidades mediáticas dos candidatos teriam um maior peso do que a sua fidelidade aos quadros dirigentes do partido. Mas as qualidades técnicas não seriam por isso mais valorizadas. Teríamos menos homens «sem vida fora do partido» e mais demagogos.
2. Menos deputados implicam menos despesas. No novo sistema o preço a pagar por menos deputados seria mais dinheiro gasto nas campanhas eleitorais – no limite cada candidato a um círculo uninominal teria direito ao seu cartaz e ao seu planfleto – e mais dinheiro gasto nas assessorias que permitissem olear as correias de representação entre os interesses locais e os porta-vozes no parlamento.
3. Círculos uninominais correspondem a maior diversidade e maior representatividade. Os círculos uninominais promoveriam, sim, mais rostos reconhecidos de deputados. Mas maior oferta de rostos não significaria maior oferta de representação política. Os partidos minoritários veriam a sua presença no parlamento reduzida ou eliminada. Aumentaria o fosso entre os eleitores destes partidos, mesmo que eleitores de protesto, e os parlamentares. Em princípio, as diferenças entre protagonistas do mesmo partido são menores do que as diferenças entre deputados de partidos diferentes. Os círculos uninominais favoreceriam, portanto, uma diminuição da diversidade e da representatividade dos eleitos face aos eleitores.

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domingo, junho 24, 2007

O que faz falta?

A campanha eleitoral por José Sá Fernandes pôs-se muito a jeito para esta réplica do PNR. Em política, como em tudo o resto, é perigoso subestimar e ignorar adversários. Nada tenho contra Sá Fernandes, com quem simpatizo e já teve o meu voto. A avaliar pela campanha em curso, não o voltará a ter. O novo cartaz em exposição mantém o rumo disparatado em tom sibilino: «Houvesse mais Zés…e teríamos o corredor verde». Há aqui «s» a mais – quatro em três palavras – e uma ridícula indefinição acerca dos outros Zés: quem seriam? – o «Zé» Pinto Coelho, o Zé Pereira, o célebre Zé que aparecia nos discursos de Durão Barroso?
Não ouvi a entrevista de José Pinto Coelho e a notícia da TSF não é nada tranquilizadora. O candidato defende a extinção da GNR e da PSP, que seriam substituídas por outras forças policiais. Sublinhe-se que este é o político que criticou as forças de segurança por terem preso, em Abril passado, 31 «camaradas», 27 dos quais em flagrante delito de posse ilegal de armas de fogo. Como se dizia dos psicanalistas no início do século XX, eles são o mal de que pretendem ser a cura…

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Almanaque do Povo

Aniversários: Quatro anos de Portugal do Pequeninos, de João Gonçalves, há já uns dias, e outros tantos de Avatares de um Desejo, de Bruno Sena Martins, acabados de fazer. Muitos parabéns a ambos. Nos próximos dias estarão de parabéns outros mais.
Festas: O santo popular do dia está longe de ser exclusivo do Porto (a despropósito, já espreitaram o dialéctico e martelantíssimo Querido Líder?). Porque raio, então, se fala tão pouco de Angra do Heroísmo, onde decorrem as não menos históricas e épicas Sanjoaninas?
Artigo Indefinido: Lá está, é isto dia sim, dia sim.
Blogues que não conhecia e espreitei: Gazeta Lusitana, Obvious e Instante Fatal.

[Almanaque: BND]

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quinta-feira, junho 21, 2007

Mais fácil é difícil

Vá, malta, todos aos guarda-fatos, às gavetas, e às prateleiras do fundo buscar essas provas provadas de que não somos de ferro, mas que podemos dispensar a prata da casa. Colaborar com esta campanha anual da AMI apenas implica pegar nessas imagens da nossa, cof, cof, beleza interior e deixá-las até amanhã ao fim do dia na farmácia mais a jeito. Que é que custa?

quarta-feira, junho 20, 2007

este...blogue.

Hoje foi a propósito da queixa-crime apresentada contra o autor Do Portugal Profundo, amanhã ou depois será a propósito de qualquer outro sucedido. O que ficará gravado para memória, confrangimento e incredulidade futuras, vamos ver quantas vezes mais, é o tom reaccionariamente escarninho com que ainda se profere nos media dominantes a palavra blogue. O sempre tão ecuménico e ponderado Mário Crespo, hoje, no jornal das nove, estabeleceu um novo recorde.

sábado, junho 16, 2007

Almanaque do Povo

Cantando e Blogando: Entre os vários blogs não-fajutos-e-regulares-de-cantoras-autoras destaco o de Lily Allen e o de Courtney Love (a qual, suspeito, não foi spelling bee pelo Estado de São Francisco).

Fleuma sobre Flama: Jaime Nogueira Pinto partilhando com os leitores notas sobre ficção brasileira. Bê-lê-za.

Tardo: ainda assim venho opinar. Com vários dias de atraso li o Miss Pearls de Papel, na Única da passada semana, agradavelmente fiel ao registo (elegante, espirituoso e com olho para o detalhe) que conhecemos no seu tradicional medium. Porém, há que perguntar - como diria o outro - com toda a frontalidade: que a cepa pearliana é firme e de região demarcada sabe quem conhece e passou a saber quem leu, mas que ... "guarda o sotaque beirão"? Adonde?

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Olivares e Alatriste

O filme do Capitão Alatriste pouco acrescenta e muito retira às aventuras narradas em livro. Só li o primeiro volume dos seis já publicados. Das páginas para a película perde-se um dos trunfos narrativos de Pérez-Reverte, a capacidade de criar suspense, agarrando o leitor. Além de eliminar acontecimentos, o guionista alterou, não se percebe porquê, algumas peripécias fundamentais para compreender a relação entre as personagens. Por exemplo, logo no primeiro livro, o adolescente Iñigo Balboa salva a vida do seu mentor, Diego Alatriste.
A condensação da história reduz a espessura das personagens, que tendem a ser pálidos reflexos das figuras em papel, criando dificuldades aos actores. O inquisidor Emílio Bocanegra, tão marcante na primeira «aventura», quase se esvai na tela. O Conde Duque de Olivares goza da sorte contrária, graças ao desempenho de Javier Cámara. Quem o viu a fazer de enfermeiro em Hable com ella pode apreciar aqui um raro talento de metamorfose. Javier Câmara faz muito de muito pouco, encarnando uma figura que, desde cedo e desde os compêndios de História, desafiou a minha imaginação. É interessante ver como é que os espanhóis vêem e representam talvez o símbolo maior da «tirania» filipina sobre Portugal. Vigo Mortensen, no papel do desenvolto «capitão», parece-me um erro de casting. Em primeiro lugar, porque o seu típico físico está muito mais próximo dos «holandeses heréticos» do que de um aventureiro espanhol. Em segundo, porque o seu registo de underacting é pouco credível naquele contexto. Parece um lonesome cowboy de capa e espada.
Troquei algumas impressões sobre o filme com um amigo espanhol especialista em História Moderna. Ele detesta Reverte, Alatriste e aquele retrato do século XVII que «parece saído das páginas da Hola.» Não sou tão severo. Apesar da série de Alatriste ser usada em Espanha como material didáctico para o ensino de História, o que é discutível, terá de ser julgada mais como obra literária do que como livro de História. É uma ficção que envereda por um caminho pouco trilhado, confluência da recuperação do romance de aventuras com o jornalismo temperado em ambiente de guerra. O primeiro filão deverá ter beneficiado da caução intelectual de Fernando Savater em «A Infância Recuperada». O segundo foi explorado pelo próprio Arturo Pérez-Reverte como repórter de guerra.
Talvez a personagem de Alatriste seja maior do que o filme e os livros por causa da relação que mantém com esse arquétipo literário espanhol que é D. Quixote. Aparentemente, é o oposto. Alatriste nunca combate moinhos de vento, mas pessoas de carne e osso e muitas vezes levado pela dura necessidade do vil metal. Mas este sobrevivente testado no sangue e lama da Flandres também é capaz de se arriscar por um inato sentido da dignidade humana, amizade, amor, lealdade ou galhardia.

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quinta-feira, junho 14, 2007

FAQ'S

Obviamente escabeche, JPH, escabeche.

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quarta-feira, junho 13, 2007

O catolicismo irreal no país real

Os louvores do Público de segunda-feira aos CPM (Cursos de Preparação Matrimonial), com declarações embevecidas de participantes e monitores, desencadearam em mim uma série de reflexões que desembocaram neste post. Como os leitores regulares deste blogue já perceberam, casei recentemente pela Igreja Católica. Sempre encarei o casamento como uma decisão que podia tomar num determinado momento da minha vida e não como um dever ou um objectivo. Quando imaginava, em abstracto, a cerimónia, achava que o mais provável é que fosse uma «seca». As minhas expectativas foram completamente defraudadas, pelas melhores razões, pois gostei bastante de preparar e celebrar o casamento e, agora, aprecio recordá-lo.
Mas este não é um post confessional e intimista. O casamento é também um acto eminentemente social, revelando-nos bastante da sociedade e da Igreja em que vivemos. Foi com surpresa que descobri, por exemplo, que o simplex eliminou as assinaturas do casamento civil. Acho esquisito. Um homem contrai um dos contratos mais importantes da sua vida e nem sequer assina. Dizem-me que a novidade vem de boa tradição, nomeadamente da boa fé dos anglo-saxões nos cidadãos. Não discuto a bondade da tradição, mas registo uma certa inconsequência face às dificuldades de divórcio vigentes em Portugal. Imagine o leitor solteiro que um desconhecido se apresenta numa conservatória com um bilhete de identidade falsificado, a passar por si, e uma mulher disposta a casar. De súbito, face à lei portuguesa, passa a estar casado e para se divorciar é uma embrulhada.
O contacto com a burocracia da Igreja também foi uma surpresa, nem sempre agradável. Não me refiro, como é óbvio, aos padres convidados para presidir à cerimónia, nem a algumas pessoas bastante simpáticas que tratam dos aspectos administrativos. O padre da paróquia da minha mulher, por exemplo, fechou-se connosco numa pequena sala e deu-nos um sermão de uma meia hora, apimentado com um humor peculiar: «vão casar até que a morte os separe…e nenhum de vocês vai matar o outro, não é?» Os tais CPM, que o Público tratou com tanta reverência, alimentaram o repertório de anedotas de alguns amigos nossos que casaram há pouco tempo. São histórias que para mim, entregue desde tenra infância a um «catolicismo esclarecido», levantam a ponta do véu sobre o «catolicismo irreal» do «país real».
Uma história contada em CPM na paróquia de Benfica, em Lisboa: «Depois do jantar, a mulher quer lavar a loiça e o marido quer ir ao cinema. O que é que devem fazer? Resposta certa: a mulher deve lavar a loiça mais cedo e ir com o marido ao cinema.» Esta história tinha uma variante subtil: «A mulher fica em casa a lavar a loiça. O marido vai ao cinema e trai a mulher. De quem é a culpa? Resposta certa: a culpa é da mulher.» Valha-nos Deus.


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segunda-feira, junho 11, 2007

Novos Tribunos


Nas últimas duas décadas pudémos acompanhar uma mutação importante no papel (e na percepção pública) das personalidades ligadas ao mundo do entretenimento. Actores, atletas ou músicos motivados em intervir civicamente conseguiram, nesse lapso de tempo, ultrapassar os limites do espaço que lhes estava tradicionalmente destinado (o mecenato, a benemerência e o compromisso partidário) e são agora senhores de um tribunato, uma magistratura de influência capaz de ombrear (e aliar-se) com individualidades de outros sectores profissionais, organizações não governamentais e fora internacionais para a inscrição de determinada questão na agenda política global. Mandela parece ter sido o primeiro dos líderes a entendê-lo e capitalizá-lo. A razão é simples: tal área socio-profissional ganhou, como nenhuma outra, fluidez e ductilidade mediáticas à escala planetária, e dispõe de (ou tem capacidade de atrair) recursos financeiros consideráveis. Campeado este espaço, não são só os poderes instituídos que recorrem ao entertainer para apoiar e representar uma causa; é o entertainer que que projecta, produz e executa acções de natureza política.
Ignorar este fenómemo, e sobretudo descredibilizar genericamente os seus agentes por serem quem são, como se as suas profissões os desqualificassem para a reflexão e a acção no 'mundo real', é simples preconceito. Basta ler um bocadinho para perceber que muitos deles não estudam só pautas, poses e guiões. Creio que os opinadores highbrow do nosso e outros bairros acabarão, a prazo, por reconhecer a consequência das acções destes novos tribunos.

[Foto: O músico Nelust Wyclef Jean e a actriz Angelina Jolie Voight na apresentação do documentário A Place in Time, no Tribeca Film Festival, em Abril passado.]

sexta-feira, junho 08, 2007

Almanaque do Povo

Dica da Semana: Depois de muitos outros experimentar, o Mappy parece-me ser o mais eficaz achador de ruas e percursos que por aí se arranja.
Blogues que não conhecia, passei a conhecer e gostei: são eles o Fantástica Gramática Automática, o Borboletas na Barriga, o Boas Intenções e Il Miglior Fabbro.

Assim, sim: o site do Instituto de Meteorologia merece elogios. Bom grafismo e legibilidade, secções detalhadas para diferentes públicos, área de previsão, vigilância e avisos para o território nacional e internacional. Serviço público, sem tirar nem pôr.

Nada se perde, tudo se transforma: Já sabem, a deslocalização do nosso desconcertante Fernando Martins merece visita. Até (bl)ogo, Fernando.

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quinta-feira, junho 07, 2007

O último post!

Acaba aqui a minha colaboração neste blogue. Um muito obrigado a todos. A partir de agora estou aqui. A solo!

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Estado deste blogue

quarta-feira, junho 06, 2007

“Jobs for the boys”

O Bloco de Esquerda, quando for poder, quer nacionalizar a EDP, a Galp e, presumo, tudo quanto é empresa privada de tratamento e distribuição de água potável existente no país. Não sei onde irão buscar dinheiro, senão endividando ainda mais o Estado. Mas para já isso não é o mais importante. O mais relevante na proposta não é a ideologia que, putativamente, lhe está subjacente. Relevante mesmo, é o facto de estarmos indiscutivelmente perante uma proposta cujo fim último é a criação de “jobs for the boys.” Afinal, o Bloco reconheceu na sua “Convenção” que precisa de aumentar o número de militantes. Para os mais atentos e susceptíveis à “militância” partidária, uma política de nacionalizações é obviamente uma boa cenoura.

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O novo transporte público

Precisamente hoje, 6 de Junho, termina a tarifa especial, de 6 euros, do cartão anual do novo transporte público de Barcelona: a bicicleta. A partir de hoje haverá duas tarifas: a anual, de 24 euros, e a semanal, de 1 euro. Os aderentes ao novo serviço de transporte público têm neste momento à sua disposição 750 bicicletas distribuídas por 50 estações. Em 1 de Julho serão 1.500 bicicletas em 100 estações. O princípio é semelhante aos dos carrinhos de supermercado: tira-se a bicicleta na estação de partida e deixa-se a bicicleta na estação de chegada, disponível para outro ciclista. Os pormenores do novo serviço podem conhecer-se neste site.
Pensei em escrever este post há cerca de um mês, quando andava por Barcelona. Entretanto surgiram notícias nos jornais do envolvimento da Federação Portuguesa de Cicloturismo na campanha de António Costa e o candidato fez declarações acerca da possibilidade de uma «ciclovia de Belém até ao Parque das Nações.» O meu desafio aos candidatos à Câmara Municipal de Lisboa é que fossem mais longe e pensassem na bicicleta como um novo transporte público de Lisboa, mais saudável e não poluente, que pudesse ser utilizado por quem não pode ou não quer investir dinheiro na compra de uma bicicleta e/ou guardá-la num pequeno apartamento.
É verdade que há muitos clichés adversos à implantação da bicicleta como transporte público em Lisboa: a cidade das sete colinas, a ameaça da chuva, etc. Lembro que a bicicleta é um meio de transporte utilizado em cidades com piores condições atmosféricas do que Lisboa, como Amesterdão e Copenhaga. Barcelona também não é tão plana como por vezes imaginamos, basta pensar que a sua principal Avenida, as Ramblas, sobe da Praça Colombo para a Praça da Catalunha. Se a rede de metro de Lisboa não chega a toda a parte, a rede de bicicletas também podia evitar os grandes declives e concentrar-se em zonas planas ou de declives suaves, como ao longo do Rio, ou do Lumiar ao Saldanha.
A combinação num mesmo cartão do acesso a diversos transportes públicos permitiria que os utentes, desesperados com a expectativa de terem de esperar para entrar num autocarro como uma sardinha espera para entrar numa lata, pudessem optar por uma bicicleta à mão. Ou, em dias de maior calor, em vez de se sentarem nos grandes volvos ao pé das janelas desenhadas para aproveitar a escassa luz do dia sueco, poderem apreciar a aragem de um passeio em pedais e duas rodas.

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Perdão

O ministro Mário Lino ainda não pediu desculpa aos portugueses pelo facto de ter dito que a margem sul do Tejo era um “deserto”. Não sei se valia a pena e não sei se os meus concidadãos já lhe perdoaram ou lhe perdoariam, por não valer a pena, caso o pedido lhes tivesse sido feito. Certo é que, como assalariados do infalível Sócrates, os ministros deste Governo não podem pedir perdão a ninguém. Excepto, claro, ao “Grande Timoneiro”. Às vezes gostava de saber como é que, embatucado, e por causa do disparate do “deserto”, Lino se deixou alegremente fustigar em São Bento pela ira do Sócrates e de que forma é que o perdão foi pedido e repetido e, eventualmente, concedido.

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segunda-feira, junho 04, 2007

Os portugueses são atrasados?

Foi no aeroporto de Lisboa que reparei pela primeira vez no infeliz cartaz de um serviço da Caixa Geral de Depósitos chamado «Oferta Ibérica». A ideia é favorecer a relação entre empresas portuguesas e espanholas permitindo-lhes conhecer melhor o mercado e as particularidades do país vizinho. Uma solução desgraçadamente encontrada foi comparar a «siesta» espanhola com a falta de pontualidade portuguesa. A comparação é não só irritante como até ofensiva.
A sesta é um hábito saudável que os espanhóis tiveram a sabedoria de conservar e partilham com alguns portugueses, principalmente do Sul e do interior. Há estudos científicos provando que a sesta permite ganhos consideráveis de produtividade. A falta de pontualidade, especialmente na «história» do anúncio, significa apenas falta de profissionalismo. Para quem ainda não leu a «tira de banda desenhada», que aparece não só em cartazes como também em páginas inteiras de jornais, devo explicar não se tratar de um «pequeno atraso». O que se vê é um homem de negócios espanhol, com ar sério e uma reunião marcada para as nove e meia. Espera pela chegada do seu interlocutor português das 9.25 às 12.45 para ouvir da secretária: «O Dr. está mesmo a chegar.»
Curiosamente, desta vez, os meus voos ibéricos desmentiram não só o anúncio como experiências minhas anteriores: o voo Lisboa-Barcelona partiu a horas e o Barcelona-Lisboa atrasou-se quarenta minutos. Mesmo que os portugueses fossem sempre menos pontuais do que os espanhóis, justificava-se este exercício de auto-flagelação lusitana? Ou a absurda auto-indulgência de que deviam ser os estrangeiros a adaptarem-se aos nossos atrasos e não nós a esforçarmo-nos por ser mais pontuais? Não seria melhor empregar o dinheiro numa campanha contra a falta de pontualidade? Não deveriam os homens do marketing e da imagem preocupados com a conservação das nossas idiossincrasias concentrarem-se na defesa da petinga, ameaçada pela burocracia de Bruxelas?

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Pacheco Pereira e a Greve Geral



Chegou a minha vez de elogiar Pacheco Pereira. Por causa deste texto sobre a cobertura da greve pelos meios de comunicação social.

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domingo, junho 03, 2007

Ota sempre mais

Em resposta aos comentários feitos aqui ainda direi mais.... Noto com interesse que quem parece saber (cara Nanda) considera que a TAP precisa de um novo aeroporto. Quanto nos custará se a TAP for ao fundo?

Não sei onde estão os estudos da Ota. Mas não vejo no que é isso invalide a pergunta: porque é subitamente há uma quantidade de (dizem-me) especialistas que sabem que a Ota é má e há uma alternativa melhor. Como? Com base em quê?

Alguém (caro Allall) acha possível construir um aeroporto daquelas dimensões sem ter impacto ambiental? Será sempre uma questão de mal menor.

Aqui como em todo o lado (suponho) onde se decide construir um aeroporto fazem-se primeiro estudos preliminares para escolher entre várias localizações possíveis, e só depois se fazem estudos e projectos mais detalhados. É que quanto mais detalhados os estudos e projectos maiores os custos e maior a demora na sua produção.

Mas eu nem sequer contestei que se fizesse isso. Limitei-me a perguntar: faz-se em relação a quantas localizações, com que custos, durante quanto tempo? E sobretudo, a fazer-se é supostamente para obter um consenso político sobre esta decisão. Mas então quais são os critérios técnicos que darão satisfação à Oposição? Alguém tem alguma ideia? Como é que querem que eu leve a sério esta contestação?

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Almanaque do Povo

Marx tem toda a razão: 4 anos de luxo merecem ser felicitados, por isso parabéns ao Almocreve das Petas. Não sei de outro blogue que ande há tantos posts a espalhar erudição pela lusoblogosfera.

Castanhinho, cinzentinho, cremezinho: Quando começa a uma nova estação compro uma das nossas revistas femininas mensais, e por vezes outra estrangeira, para saber como páram as modas. A coisa que mais me faz confusão nos números caseiros é o facto - confirmável após consulta de qualquer das revistas semanais cor-de-rosa - de, tirando modelos, ex-modelos e uma ou outra excepção, os portugueses com dinheiro para gastar no que usam (os que não têm realmente razão para serem foleiros) não terem estilo. O Sartorialist, para abono dos mais desinspirados desta Primavera, lá vai mostrando como o que o comum dos mortais leva vestido para o trabalho (ou para o passeio) não tem de ser obrigatoriamente chato, caro ou canónico.

Ceci n'est pas un boletim meteorológico: A imparável Verbeat aloja um novo blogue, o Atmosfera, onde humores e climas de boa vontade se deixam espreitar.

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Sócrates na Rússia e Fernando Martins no País dos Sovietes

Sócrates foi à Rússia fazer o mesmo que todos os países da UE tentam fazer: conquistar mercados e falar com um “parceiro estratégico” (segundo os documentos oficiais europeus). Por exemplo, a grande preocupação dos sempre nacionalistas e frequentemente russófobos polacos neste momento é... o boicote russo à importação da sua carninha.

Quem não acompanha estas questões provavelmente ignora, mas devia se quer escrever sobre o assunto, que os EUA e o a União Europeia acertaram o fim dos ataques públicos a Putin. Se Sócrates fosse lá pregar faria uma figura ridícula. A justificação dessa opção é simples: como há eleições à porta na Rússia em que a grande mais-valia dos apoiantes de Putin é a sua imagem de homem forte, ele irá responder de forma agressiva a qualquer crítica externa. Isso não excluiu, disse Sócrates em frente a Putin, a troca franca de impressões sobre problemas pendentes (nomeadamente de direitos humanos).

Porque é que Putin se interessa por Portugal? Porque Portugal faz parte do trio que preside à União Europeia, a tal coisa esquisita que os nossos “realistas” não se cansam de dizer que não serve para nada.

PS - O Fernando Martins brinda-me, nos comentários a este poste tão esmerado com o epíteto de esfregona do governo PS. Confesso que estou um pouco desapontado. Só isso?! Vê lá Fernando ainda vão pensar que estás a censurar a tua linguagem! Mas olha que não foram os insultos do Daniel Oliveira e não serão os teus que me impedirão de apoiar este governo quando me apetecer. Achas que eu ligo alguma coisa ao argumento de que se prova independência criticando o governo?! E eu a pensar que eras um emancipado dos complexos pré-25 de Abril! A liberdade de expressão por acaso só serve para criticar o governo? O que me interessou mais não foi o teu argumento foi uma linguagem que considerei de mau-gosto. Não me digas que ficaste ofendido com o comentário a esse propósito?! Então onde está a tua capacidade de encaixe?!?! (Dispenso-me de especular sobre quais serão os teus interesses escusos nestes ataques ao governo, porque essa conversa de taberna não me interessa.) Quanto às minhas ambições, fica descansado: tanto quanto consigo ver são académicas, e aí tu tens mais poder do que o governo.

Um acidente em Lisboa






Ontem à tarde, ao descer o passeio público da Avenida Sidónio Pais, vindo da Feira do Livro, descobri uma fracção de segundo demasiado tarde que a pedra da calçada sob o meu pé direito estava solta. A minha perna direita patinou calçada abaixo e o meu joelho esquerdo amparou a queda. O saldo do acidente foi o joelho esfolado e o gasto de uma cotonete embebida em Betadine. Com piores reflexos e má sorte tinha-me estatelado de costas no chão. Com a mesma dose de reflexos e sorte, uma pessoa idosa ou uma criança podia ter quebrado osso. Talvez por a hipótese lhes acudir à mente, as três idosas que subiam o passeio assustaram-se com o meu desastrado exercício de patinagem lítica, soltando exclamações num português de sotaque britânico. Levantei-me, rapidamente, aliviado por me sentir intacto e desejoso de chegar a casa para examinar o joelho. Hoje voltei ao local do acidente e fotografei-o com a minha máquina digital. Dedico as fotografias ao próximo presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Vale a pena arranjar isto. A imagem de uma cidade não vive só de grandes projectos, mas da atenção às pequenas coisas que podem fazer grandes danos.

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