domingo, maio 20, 2007

As Vantagens do Atraso

Ontem à tarde, entre as três e meia e as seis e meia, deambulei pelo Parque das Nações. Fi-lo depois de deixar o meu filho no Oceanário onde um coleguinha de escola festejou o seu 5.º aniversário. Na primeira hora e meia andei pelo Centro Comercial "Vasco da Gama" que me pareceu o mais povoado de todos aqueles que até hoje me foi dado a conhecer. Não havendo filme decente exibido no horário que me convinha refugiei-me, literalmente, numa boa livraria Bertrand que desconhecia. Depois saí e fiz uma caminhada junto ao rio e ao largo de uma marina fantasma e decadente, não sei se abandonada ou ainda em construção.
Mas para além do espectáculo proporcionado pela marina e pela acelerada degradação do espaço público em algumas zonas do Parque das Nações, da ausência de estacionamento automóvel capaz de absorver a procura, da construção selvagem de perfil suburbano, notei uma forte presença do Portugal rural naquele espaço. Essa presença pareceu-me ser resultado da descida a Lisboa dos familiares de muitos estudantes universitários finalistas que ontem participaram na já clássica “benção das fitas”. A ruralidade portuguesa agrada-me por várias razões. Mas sobretudo por ser social e politicamente coerente. Do mundo rural do nortenho, ou do centro, lá estava o velho Portugal que apoiou Salazar e Caetano e nos últimos 34 anos combateu e venceu o PREC e tem votado, acima de tudo, no PS e no PSD. Do sul, e sobretudo do Alentejo ou das cidades da margem esquerda do Tejo, veio a ruralidade que combateu o “fascismo”, fez a reforma agrária e ainda vai votando no PC. É claro que esta ruralidade tem mudado e, em boa medida, acabará por se transformar radicalmente ou desaparecer. Mas por agora ela existe e resiste. Uns dirão que ela é o preço a pagar pelo nosso imenso atraso. Para mim é uma das vantagens enormes produzidas pelo nosso atraso. Dá-nos estabilidade e identidade. Apesar dos seus custos pagos quotidianamente pelo país e, sobretudo, pelos próprios rurais. Mesmo que estes não se importem.

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