segunda-feira, julho 31, 2006

Israel e o uso da aviação contra forças irregulares

Quem quiser perceber as tácticas de Israel contra o Hizballah deve ler esta obra (já) clássica de David Omissi sobre o uso da aviação nas tarefas de policiamento imperial pelos britânicos no período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Preocupados com a questão de manter um princípio de força mínima necessária os britânicos desenvolveram, a partir de 1920, tácticas de destruição de infra-estruturas e de aviso prévio às populações civis - visto que os guerrilheiros se misturam sempre e por sistema com elas - mediante o lançamento de panfletos a avisar para abandonarem uma determinada povoação ocupada por guerrilheiros que seria atacada dali a pouco. Tal como no caso de Israel, isso não evitou desastres: populações que não sabiam ler (sequer árabe, daí ter-se recorrido a gravuras); ou que simplesmente não tinham como ou para onde ir, ou vontade de sair. Sobretudo, o que parecia força mínima nos anos trinta, deixou de parecer, por exemplo, quando nos anos sessenta os britânicos tentaram recorrer a tácticas semelhantes no Iémen. A norma internacional sobre o uso da força tinha mudado - nomeadamente com as várias Genebras - como se explica aqui.
Israel está agora a confrontar-se com os custos disso mesmo e com as dificuldades de responder proporcionalmente a um inimigo irregular que, há partida, está mais disposto a sofrer baixas militares e civis. Mas se conseguir uma força de interposição internacional e o acordo do Hizballah (e da Síria e Irão) a uma retirada das suas forças da zona de fronteira terá alcançado uma grande vitória. Só não vejo bem porque é que os sírios (ou iranianos) iriam nisso, neste momento, em que aparentemente (mas as aparências frequentemente iludem) ninguém está a falar com eles.

O Papa Pio XI e o Nazismo

Em 1926 Pio XI excomungou os membros da Action Française, o movimento francês de extrema direita que professava doutrinas estatistas e racistas. (A excomunhão é um gesto muito raro no papado moderno.)

Em 1931, na encíciclica Non Abbiamo Bisogno, Pio XI ataca o regime fascista italiano e a sua estatolatria: deixa claro que o catolicismo nunca aceitará subordinar-se totalmente a qualquer Estado.

Em 1933, Pio XI assinou a Concordata com a Alemanha, depois de Hitler inesperadamente tomar o poder, com grande hesitação: o argumento fundamental foi que assim a Igreja teria o texto de um tratado para melhor se defender da esperada perseguição nazi. Desde 1934 que a imprensa vaticana, e a imprensa católica na maior parte dos países (inclusive Portugal), se envolveu numa polémica crescente com o nazismo e a respectiva máquina de propaganda.

Em 1937, na sua encíclica Mit Brennender Sorge [Com Ardente Preocupação], Pio XI denunciou a perseguição dos católicos alemães pelo nazismo, e condenou o culto do Estado e da Raça como uma idolatria incompatível com a fé cristã. Ela foi lida em todas as Igrejas Católicas da Alemanha (onde tal foi possível). Há quem defenda que esta encíclica explicitamente crítica do estado das coisas na Alemanha, por que não citar o nome de Hitler ou o nazismo, não ataca nenhum dos dois. Na época ninguém teve essas dúvidas. E que alguém as possa ter hoje parece incrível, mas é verdade. O papa dá-se ao trabalho de escrever um carta (encíclica) em alemão (uma língua difícil), dirigida aos católicos alemães, sobre a situação dos católicos na Alemanha, lida nas igrejas católicas alemãs, a denunciar o racismo e o totalitarismo de Estado, e não tinha o nazismo, que estava então no poder na Alemanha e que era ambas as coisas, como alvo! Parece uma coincidência um bocadinho inconcebível. Mas o anticatolicismo primário não se detém perante pormenores factuais como este.

De acordo com o mesmo raciocínio, o Vaticano também nunca se opôs a Estaline ou a Lenine visto que nenhum dos dois é citado nominalmente na encíclica Divini Redemptoris, também de 1937, atacando o comunismo. Na verdade as encíclicas não citam por regra estadistas presentes. Além de o nazismo (há apenas quatro anos no poder) ter então, e ainda hoje, um estatuto doutrinal mais ambíguo que o comunismo, havia ainda um pequeno problema prático: atacar explicitamente Hitler e o Partido Nazi na Alemanha em 1937 era um crime. Pio XI exigiu grande coragem dos padres e bispos alemães que leram a encíclica, pedir-lhes que cometessem suicídio talvez fosse um bocadinho demais.
Em 1938 Pio XI afirmou numa mensagem aos peregrinos belgas que o visitavam: "Abraão é o nosso Patriarca e origem. O anti-semitismo é incompatível com o venerável facto que tal representa. É um movimento com o qual nós, cristãos, nada podemos ter a ver. Não, não, digo-vos, é impossível a um cristão aderir ao anti-semitismo. É inadmissível. Por Cristo e em Cristo somos os descendentes espirituais de Abraão. Espiritualmente, nós somos todos semitas."

Pio XI, apesar de já estar mortalmente doente, empenhou-se em combater as leis raciais italianas de 1938, tendo o Vaticano e a imprensa católica levou a cabo uma campanha contra elas. O embaixador português tem por esta altura uma derradeira audiência com o papa. Eis o registo que deixou do essencial das palavras de Pio XI: "«Resista, Portugal, e defenda-se de certas insinuações, insinuações pérfidas» (absolutamente textual) «que podem prejudicá-lo gravemente e tendem à desorganização do mundo e à desorientação das almas. É preciso que resista», diz o Santo Padre, com os olhos firmados nos meus, energicamente. Aproveitei um instante de silêncio para intervir, dizendo: Portugal resiste e resistirá porque é cristão e tem quem o dirija. Pio XI repete: «mas aquelas insinuações ne sont pas que trop perfides et dangereusesPortugal, digo eu, conhece bem o veneno do bolchevismo. Então o papa - sem a menor surpresa para mim, seja dito - interrompe e diz, com firmeza e uma pontinha de contrariedade: «Mas eu não me refiro ao comunismo, refiro-me ao racismo, ao nazismo criminoso que perverte as almas …, etc.» Calei-me […] numa expressão de filial e respeitoso interesse por todas as invectivas de Sua Santidade contra o regime alemão…"

Andanças 2006

Começa hoje a 10.ª edição do Andanças, na aldeia de Carvalhais, perto de S. Pedro de Sul. Descobri o festival em 2002. Perdi, portanto, os míticos festivais dos anos 90 em que todos se conheciam nos bailes. O festival tem vindo a crescer, com todas as vantagens e desvantagens inerentes ao sucesso. Há dois anos os organizadores mudaram o período do festival da última semana de Agosto para a primeira. Passou a coincidir com o festival do Sudoeste. Mesmo assim, o público continuou a aumentar, pois muitos visitantes dividem a semana entre os dois festivais. Eu, desde que conheço o Andanças, só falhei o festival do ano passado. Este Verão farei apenas uma curta mas indispensável incursão no próximo fim-de-semana. Ainda não conheço o programa em pormenor. Sei que conta com grandes grupos estrangeiros como os Naragonia e os Minuit Guibolles, além dos portugueses Mu e Uxu Kalhus (um grupo fundamental, que se pode ver na imagem). Vale a pena dançar isto.

"[...] e só neles achei bruteza, secura sordidez, soledade e entulho."


A actual crise do Médio Oriente é, sobretudo, um fenómeno de produção de ruído político. Como demonstram os acontecimentos mais recentes, a dita produção do citado ruído está totalmente nas mãos das máquinas de propaganda das inúmeras facções que se digladiam. Perante isto, os media, em geral, raramente conseguem ser mais do que uma espécie de idiotas úteis total e voluntariamente nas mãos dos bons e dos maus que se confrontam até à exaustão mediática. Para esquecer e combater tanta mediocridade política e cobardia intelectual, lembrei-me da velhinha Relíquia. Lá fui e de lá saí escolhendo este pedaço (está logo no princípio):
"De resto, esse país do Evangelho, que tanto fascina a humanidade sensível, é bem menos interessante que o meu seco e paterno Alentejo: nem me parece que as terras favorecidas por uma presença messiânica ganhem jamais em graça e esplendor. […] desde as figueiras de Betânia até às águas caladas na Galileia, conheço bem os sítios onde habitou esse outro intermediário divino, cheio de enternecimento e de sonhos, a quem chamamos Jesus Nosso Senhor – e só neles achei bruteza, secura sordidez, soledade e entulho.
Jerusalém é uma vila turca, com vielas andrajosas, acaçapada entre muralhas cor de lodo, e fedendo ao sol sob o badalar de sinos tristes.
O Jordão, fio de água barrento e peco que se arrasta entre areais, nem pode ser comparado a esse claro e suave Lima que lá em baixo, ao fundo do Mosteiro, banha as raízes dos meus amieiros: e todavia, vede!, estas meigas águas portuguesas não correram jamais entre os joelhos de um Messias, nem jamais as roçaram as asas dos anjos, armados e rutilantes, trazendo do Céu à Terra as ameaças do Altíssimo!"
Eça de Queirós, A Relíquia.

sábado, julho 29, 2006

Sete palmos de monopólio

A Servilusa é uma agência funerária de nome nacionalista e capitais maioritariamente espanhóis. Tem sido mortífera para muitas pequenas empresas do ramo de carácter familiar. Em parte por causa da abordagem profissional e inovadora da sua actividade. Mas também porque estabeleceu acordos com capelas de Lisboa que excluem as agências concorrentes ou obrigam-nas a pagar um aluguer à Servilusa para usar as referidas capelas. A situação não me parece nada pacífica, mas tem escapado a controvérsias. Os falecidos, como é óbvio, não se queixam, e os familiares, em horas de luto, não perdem tempo a questionar distorções da concorrência. Qualquer discussão de preço parece uma afronta à memória de quem se perdeu para sempre. Recentemente, a Servilusa pediu mais de mil euros pelo aluguer de uma carrinha, por um dia, para transportar, de Lisboa a uma aldeia ao pé de Trancoso, oito participantes num funeral. Neste caso, as pessoas decidiram recusar a «oferta» e resolveram o problema com um sistema de boleias e uma noite dormida na aldeia. Mas como seria se as boleias não chegassem ou não houvesse oportunidade de dormir uma noite na aldeia? A escolha seria entre uma viagem de ida e volta de Lisboa à Beira Alta, num só dia, de carro, com um enorme desgaste físico e emocional, ou a aceitação da «oferta». Porque naquela capela não trabalhavam outras agências com outras alternativas. Vale a pena pensar nisto. É sinal de que estamos vivos.

Almanaque do Povo

Acabar bem: via Pedro Correia, um dos Corta-Fitas, constato o expirar do prazo de validade do blogue Aos 35, de Pedro Boucherie Mendes, não sem um generoso e belo post de despedida.

Fato Consumado: Por culpa da briosa Miss Pearls e interposta responsabilidade do aprumado Lord ASS, dei por mim admirando The Sartorialist. A ideia de fotografar a moda das ruas é de antanho, mas o ângulo que Scott Schumann nos mostra não é muito habitual: a elegância não tem de ser encenada e não é propriedade exclusiva do jovem fashionista, do rico impecável ou do transeunte excêntrico, ela pode estar na velha senhora que sai do serviço religioso, no cavalheiro que compra o jornal, na rapariga que segura o primeiro café do dia. Estão lá, claro, os conhecidos que assistem a desfiles, como também estão os pintores que tratam do cenário desses mesmos desfiles. E está, perdoe-se-me a ignorância, todo um mundo de pormenor no atavio masculino que me era insuspeito.

56 Anos: No próximo mês assinalar-se-á o 55º 56º aniversário da quarta Convenção de Genebra, responsável pela revisão textos de 1864, 1906 e 1929, e pela criação um novo documento relativo à protecção das pessoas civis em tempo de guerra. Incluindo alguns protocolos aprovados posteriormente, é ainda este o corpo de disposições que orienta todo o Estado civilizado quanto à tão falada proporcionalidade da acção em circunstância de conflito armado. Quem conheça a história das convenções não pode deixar de constatar o que elas trouxeram de positivo, não apenas no plano das intenções, mas no que de efectivo têm conseguido instituições que delas decorreram, como a Cruz Vermelha; mas também não pode deixar de se inquietar com a aplicabilidade desses princípios às novas formas de conflito, que se afastam visivelmente dos conceitos clássicos de Estado vs. Estado ou de guerra civil. Escapa-se-me a razão por que se não tem discutido Genebra na lusoblogosfera.
Reprodução: BND]

sexta-feira, julho 28, 2006

Dúvida Metódica II


Mas a mesma pergunta pode ser devolvida aos "amigos (cegos) de Israel", e em várias versões: Qual a estratégia que recomendam aos palestinianos e os libaneses que discordam da imposição de fronteiras por Israel? Marchar heroicamente em campo aberto contra um dos exércitos mais bem treinados e apetrechados do mundo? E, já agora, acham que está tudo a correr bem nesta crise, ou há alguma coisa que se pode ou poderá vir a criticar na resposta de Israel?

Sobretudo, qual a solução que consideram adequada e realista para esta crise? (Sobre isso, e sobre o problema fundamental da proporcionalidade num conflito assimétrico falaremos depois.)
PS - Aproveito ainda para anunciar para breve uma série muito especial de Leituras Terroristas de Verão! (Completamente grátis! Só têm de comprar os livros primeiro.) Se os terroristas não nos deixam em paz durante as férias, também não os deixaremos em paz a eles!

quinta-feira, julho 27, 2006

Dúvida Metódica I

Será que se Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Patriarca organizasse um Partido de Deus (ou Hizballah para os nossos leitores arabistas) e uma milícia armada (as Brigadas de Santo Antoninho?) passaria a ser mais estimado pelo Bloco de Esquerda? Ou seria preciso mais qualquer coisa?

CPL... Quê?


A CPLP, ou comunidade dos países de língua (oficial) portuguesa, está a caminho de se transformar-se no Commonwealth: é um triunfo simplesmente existir “com dignidade”. Países pobres como os nossos, a precisar de gastar bem o seu dinheiro, deveriam ter mais para mostrar. A não ser que se assuma que tudo não passa de reuniões periódicas para troca de informações entre governos. Mas para isso não parece necessária qualquer estrutura permanente.
A verdadeira base desta comunidade é cultural e linguística. Cultivá-la devia ser prioridade absoluta. Mais vale fazer pouco e bem. Um exemplo prático, a exigir uma pinga dos recursos dos países lusófonos, seria formar-se uma academia ou instituto internacional da língua portuguesa que teria pólos em todas as capitais lusófonas, estaria ligada em rede, e teria por missão elaborar um verdadeiro dicionário, histórico e de uso corrente, da língua portuguesa em todas as suas variantes regionais e nacionais, no modelo do Oxford English Dictionary.

O português só terá a ganhar em ser enriquecida constantemente por acréscimos africanos, brasileiros, europeus. A riqueza de uma língua está na sua variedade. Desde que, claro, haja forma das variantes se perceberem, de se conhecerem mutuamente. As barreiras seriam muitas, a avaliar pelas ridículas oposições ao acordo ortográfico. Possivelmente uma das suas fontes seriam as instituições já existentes que se dedicam a fazer dicionários, mas poderiam muito bem ser associadas ao projecto. Isto poderia ir de par e daria real sentido a uma ofensiva diplomática consistente e coordenada para obter o reconhecimento do português como língua oficial na ONU. Mas seria, por si mesma, uma grande e relativamente barata realização. É possível que já mais alguém se tenha lembrado disto, mas nunca é demais insistir em tal assunto.

Depois poderia pensar-se em redes de cooperação na educação e investigação – desde logo para estudar o património cultural e histórico comum – usando até financiamentos já existentes. Assim como mecanismos para facilitar as trocas ao nível das indústrias culturais. Tudo isto podia ser feito com uma estrutura burocrática mínima. Mas talvez seja pouco lusófono pensar em dar prioridade à prática sobre a burocracia e os discursos. Em português nos desentendemos muito bem.

quarta-feira, julho 26, 2006

Vidas Civis

A ideia de que nas guerras não devem morrer civis é uma ideia radical e recente, que muito me apraz registar em princípio, mas que sou forçado a reconhecer que é muito difícil de implementar na prática.

Israel atinge civis? Sim. Mas provavelmente e regra geral ao tentar atingir alvos do Hizballah e do Hamas, pelo contraste entre o número de vítimas e o seu enorme potencial militar. (Já o ataque ao posto de observação da ONU parece altamente suspeito, embora possa ter partido de um descontrolo local).
O Hizballah ou o Hamas também têm procurado atingir alvos militares isrealistas - foi com ataques a soldados do Tsahal que esta crise começou. Mas o seu armamento é muito mais limitado e muito menos preciso. Quando à acusação de que o Hamas ou o Hizballah revelam uma particular perversão por se "misturarem com civis" ela é pura propaganda. Qual é que é a novidade? Todas os movimentos de guerrilha em todos os tempos foram acusados de cobardia pelos exércitos convencionais por se refugiarem entre a população civil. Não é cobardia: é uma necessidade táctica imposta pela sua fraqueza. Nunca ouviram falar em Mao e na máximo de que os guerrilheiros devem sobreviver entre a população como peixe na água? Os militares de Napoleão queixavam-se dos guerrilheiros portugueses e espanhóis misturados com mulheres, crianças (e padres) aquando das "Invasões Francesas" no início do século XIX. Os militares britânicos queixavam-se de que os movimentos armados sionistas contavam com a cumplicidade da população judaica na Palestina que Londres tentava governar antes de 1948. Etc.
Talvez haja especialistas de relações internacionais em Portugal que sejam insensíveis aos mortos civis nesta crise. Eu cá deparo-me na maior parte dos casos com textos completamente parciais e sentimentalistas. Parece-me que a função dos analistas deveria ser analisar. (E nesse contexto apontar, eventualmente e entre variados outros factores, para as normas costumeiras na comunidade internacional.) Não é com certeza sua função politizar ou moralizar: para isso já há políticos e líderes religiosos. Queixar-se da insensibilidade dos analistas perante um conflito faz tanto sentido como queixar-se da frieza de um médico perante um homem a esvair-se em sangue.

terça-feira, julho 25, 2006

Mais intervencionismo, não!

Com o novo desenvolvimento do chamado conflito israelo-árabe em curso (o ataque do Hezbollah ao norte de Israel), já há quem defenda o envio de uma força internacional de interposição para a fronteira israelo-libanesa. É suposto essa força ir defender Israel do Hezbollah melhor do que os Israelitas se estão a defender agora? Não creio. É suposto essa força ser aceite pelos xiitas do sul do Líbano como um elemento neutro entre eles e Israel? Não creio. Achou-se há coisa de um ano atrás que a saída das forças sírias do Líbano era motivo de comemoração – e em abstracto até seria (curiosamente, comemorou-se mais na Europa e na América do que em Israel). O problema foi que o Hezbollah passou a estar à solta num país fictício que não tem força para controlar nem grupos armados no seu interior nem as suas próprias fronteiras. Os Sírios retiraram e deixaram a responsabilidade e o campo abertos ao voluntarismo daqueles que sempre ocupam o vazio. No entanto, na situação actual, enviar uma força de interposição parece ser mais uma falsa solução: cara, recebida como interferência “ocidental” pelos Xiitas e provavelmente potenciadora de problemas acrescidos para os governos árabes moderados (Jordânia e Egipto) se tivessem de a integrar. Além de que os Israelitas sabem melhor o que fazer para se defenderem (e para defenderem a sua fronteira a norte, que também é libanesa).

sexta-feira, julho 21, 2006

Na Guerra

Via Andrew Sullivan chego ao artigo The YouTube Wars, de Ana Marie Cox, publicado na Time de anteontem. Cox fala-nos deste que é o último punhado de terra deitado sobre os tempos da informação controlada em cenário de guerra: qualquer soldado pode hoje, com uma simples câmara digital e acesso à internet, gravar e divulgar um testemunho ou acção bélica sem a edição de terceiros.
A maioria desse registos [disponíveis por busca no YoutTube, entre outros motores] é confrangedora: quem os vê, mesmo que os antecipe, não deixa de se chocar com a juventude dos seus autores/protagonistas, com a excitação e a alienação características de uma situação em que a violência extrema é facto de todos os dias. Há também alguns testemunhos de angústia e incerteza no futuro, reflexão que num cenário de morte iminente deve ser tormento indesejado. Ninguém espere encontrar narrativas ou enquadramentos nestes vídeos; talvez daqui a alguns anos estes mesmos autores possam dar um sentido mais completo ao acto que suponho ser filho do mesmo impulso que nos leva a tirar uma foto num momento que não queremos esquecer, mas que não compreendemos porque estamos nele, no momento. Hoje à noite irá para o ar a aguardada reportagem Iraq Uploaded, na americana MTV, por excelência a televisão da geração em combate. Estes documentos estarão muito longe da coerência e qualidade dos documentários Report from the Aleutians (1943), San Pietro (1945) e Let There Be Light (1946), encomendados a John Huston durante o seu serviço no Corpo de Sinaleiros dos EUA. Porém, tal como com estes, as forças armadas e a sociedade americana em geral estão a ter muita dificuldade em lidar com a crueza da imagem que as suas imagens transmitem.

[Foto: MTVNews, Iraq Uploaded]

A Oriente: Crise de Novo

O efeito de cansaço é normal: mais uma crise, mais uma vez no Médio Oriente? O que é que isto nos interessa? Convém lembrar que além de alimentar as guerrilhas ideológicas primárias entre “amigos de Israel” e “amigos dos palestinianos” em Portugal (que realmente não interessam nada), este conflito entre o Hamas e o Hizballah fez subir, de novo, o preço do petróleo e ameaça portanto directamente o nosso frágil crescimento económico.
A crise é, como sempre, complicada. Mas simplifiquemos um pouco. A ala moderada do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) parecia estar à beira de aceitar uma proposta do presidente palestino Abbas para se aproximar do reconhecimento de Israel. A ala militar mais radical da Hamas rapta um soldado israelita e usa-o para recordar a sua força e a situação dos prisioneiros palestinianos em Israel. O governo de Israel, o mais civilista e moderado dos últimos tempos vê-se obrigado a mostrar-se duro. Sobretudo depois do Hizballah (Partido de Deus) ter feito subir a parada ao abrir uma segunda frente libanesa, raptando também soldados israelitas. Quem recorda a Israel as virtudes do diálogo, quem demoniza o Hamas e o Hizballah não percebe algo de fundamental nesta crise: as disputas entre moderados e duros no seio destas organizações.

Estes raptos de soldados exigiram uma longa preparação e ocorrerem nesta altura não é um improviso, nem é politicamente neutro. As alas mais duras do Hamas e do Hezballah movimentos afirmam-se assim como campeões da causa palestina e mostram que o unilateralismo da paz imposta israelita tem custos num conflito que continua a ter uma importante dimensão regional. Servem também os propósitos da Síria e do Irão, ao mostrar a sua capacidade de criar confusão na região. (O Daniel Oliveira, directamente de Damasco, fala da popularidade do Hizballah na capital síria. Seja adesão sincera, ou ecos da propaganda oficial, ou provavelmente ambas as coisas – algo que estrangeiros de passagem terão dificuldade em distinguir – não é por acaso. Uma operação deste tipo nunca seria realizada sem a aprovação de Damasco e de Teerão).
Israel tem o direito de auto-defesa? Tem. Mas o direito de auto-defesa nunca é, por definição, absoluto. Ele implica necessariamente uma resposta proporcional. Ninguém pode reagir como lhe apetece porque foi atacado. No entanto, é difícil argumentar que algum governo israelita pudesse ter reagido de forma diferente no contexto actual.
Já a tese de Israel ameaçado na sua sobrevivência é, no mínimo, altamente improvável. Israel é um país pequeno numa zona de tensões e riscos, mas tem dos exércitos mais bem treinados e equipados do mundo. Sobretudo, Israel é já, ao contrário do Irão, uma potência nuclear com mais de cem ogivas: ou seja, tem a capacidade de literalmente destruir qualquer país da região. E tem a protecção dos EUA. Igualmente sem sentido é a ideia de que a União Europeia é sistematicamente hostil a Israel, defendida, mais uma vez, por JPP (em texto no Público, publicado no seu blogue). Se a UE o fosse realmente podia paralisar com facilidade a economia israelita que é totalmente dependente das trocas com a Europa, e teria até alguma legitimidade para o fazer visto que o acordo comercial incluiu um compromisso explícito de Israel com o processo de paz. Claro que o que ninguém consegue fazer é competir com os delírios supostamente pró-israelistas de Washington, aliás muito negativos para os reais interesses de Israel (algo que JPP até reconhece.)

Por outro lado, os palestinianos também têm o direito – reconhecido na carta da ONU – de resistir à ocupação estrangeira atacando alvos militares. E o Hizballah reclama para o Líbano uma parcela de território que Israel retém (com o argumento de que a ser de alguém é da Síria) e responde aos bombardeamentos israelistas com o tipo de armamento que tem disponível. Tudo isto mostra como a segurança de Israel é frágil na ausência de uma paz geral (que seja difícil ninguém discute). Ou seja, se começarmos a discutir legitimidades dificilmente chegamos a algum lado.
Isto não é uma guerra, embora possa parecer. Basta comparar-se a situação com a invasão de 1982, e notar-se-á a substancial diferença. Trata-se de coerção estratégica. Israel procura paralisar o Líbano, para coagir a população não-xiita e os demais partidos libaneses, assim como a comunidade internacional interessada em estabilizar o País do Cedro e em deter o fluxo de refugiados, a pressionar o Hizballah.

A ideia de que se pretende destruir o Hizballah é uma miragem propagandística. A sua popularidade – por boas e más razões – entre a população xiita libanesa, a sua organização celular, e os seus apoios externos tornam isso impossível, mesmo que o seu líder fosse morto. Aliás o movimento é filho da invasão israelita do Líbano em 1982, pelo que certamente não será destruído por bombardeamentos localizados. Mais realista é o objectivo reduzir alguma coisa o potencial militar da Hizbullah. Mas para o fazer substancialmente seria necessário invadir. No entanto, isso seria o sinal de que este exercício de coerção estratégica estaria a falhar e poria os soldados israelitas em risco.
Uma solução política, ao contrário do que os “falcões de sofá” fazem crer, é a saída de longe mais provável e desejável da crise, sobretudo se se tratar de recuperar os soldados israelitas com vida. Israel desejaria ainda, idealmente, aproveitar para criar uma barreira entre a Hizballah e a sua fronteira norte. Nesse aspecto uma força internacional transitória, depois substituída pelo exército libanês, poderia ser um resultado muito importante desta crise. Mas, quer isso aconteça, quer não, e se o passado serve de guia, Israel vai sempre acabar por libertar alguns prisioneiros em troca dos soldados – afinal, já o fez em troca de cadáveres. Desde que haja algumas garantias de que a Hizballah e o Hamas não voltarão a repetir a brincadeira nos próximos tempos. (Aliás, o exército israelita estará certamente a estudar e corrigir os erros que permitiram este desastre.)
Um jogo de xadrez, em suma, mas mortífero e perigoso. Seria estranho que este governo israelita se deixasse cair na armadilha de uma escalada sem fim. E o Hizballah, embora seja um dos pioneiros dos ataques terroristas suicidas, está longe de ser uma organização suicida. O Hamas está no poder na Palestina. Mesmo o Irão e a Síria terão interesse, para mostrar o alcance da sua influência, e para evitar um crescendo da pressão internacional e regional sobre os seus regimes, em eventualmente conter a crise. Mas se há algo previsível no Médio Oriente é a sua imprevisibilidade. E se um soldado israelita é morto? E se um foguete ou uma bomba mata demasiado civis? E se Israel realmente elimina algum líder do Hizballah? Teremos de esperar para ver. Esperando que o petróleo não suba mais, e que os custos em vidas inocentes não cresçam.
PS Aproveito para recomendar a quem tiver DVD “americano” a magnífica série: The 50 Years War: Israel and the Arabs. Para quando, por exemplo, no Canal 2?

Dar-se Importância



Há neste blogue uma história de Piratas e de um Narciso. Os primeiros ainda não apareceram - pelo menos aqueles com "olho de vidro e cara de mau." O segundo é uma presença diária já lá vão uns anos.

quinta-feira, julho 20, 2006

50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian – 2.ª entrega.


Em carta enviada a Armindo Monteiro, escrita pouco mais de um mês após o falecimento de Calouste Gulbenkian, Oliveira Salazar definiu aquelas que deveriam ser as grandes linhas de acção da Fundação, linhas essas que, no geral, se viriam a cumprir.
Uma vez que o testamento de Gulbenkian dava “uma ideia da finalidade geral” mas “indicação nenhuma acerca da forma como se” deveriam “aplicar os rendimentos da Fundação”, Salazar estava disposto a propor a Azeredo Perdigão que os “rendimentos” não teriam “talvez” de ser distribuídos “pelas numerosíssimas instituições que certamente apresentariam “pretensões e pedidos”, uma vez que tais somas “no fundo pouco adiantariam à vida dessas instituições”. Defendia, isso sim, que seria “preferível tomar nas mãos um problema – ou científico, ou artístico ou de assistência e saúde – e concentrar aí os meios e atenções.”
Sobre a distribuição geográfica da utilização dos fundos da Fundação, Salazar reconhecia que algo deveria ser gasto no Reino Unido, uma vez que Gulbenkian tinha nacionalidade britânica, e na Arménia, já que essa era a sua origem. No entanto, o grosso deveria ser despendido em Portugal uma vez que o facto da Fundação ter sido constituída com sede em Portugal “era o reconhecimento que o sr. Gulbenkian entendia dever ao País pelas condições que a ele lhe permitiram fixar residência, viver e trabalhar pacificamente e aumentar aqui e durante esse período a sua fortuna e rendimentos.” Pelo que concluía: "Não devemos ser egoístas mas parece que Portugal deverá beneficiar generosamente da Fundação. Este ponto é porém delicado e eu não me atrevi a dizer uma palavra a sequer sobre ele ao Dr. Azeredo Perdigão."
Na mesma carta Oliveira Salazar apresentava as suas dúvidas e receios naquilo que respeitava à “liberdade de movimentação de fundos” da Fundação e “acerca do qual” se deveriam “ter hesitações e cuidados.” E depois precisava: “Suponho que, sendo a maior parte, senão a totalidade dos rendimentos da Fundação constituída em dólares, depositados em bancos americanos, se pretende saber se esses dólares podem ser convertidos em libras, através de tal ou tal moeda, aqui ou ali. Também se poderia pôr, e talvez com mais razão, o caso da conversão dos dólares em escudos e sua transformação posterior nas moedas correspondentes às aplicações legais. Devemos pensar que, por favor da Providência e por designação do Sr. Gulbenkian, o nosso país pode contar neste caso com uma reserva potencial bastante interessante em dólares. Não creio poder-se dizer nada a este respeito por ora; suponho porém que os responsáveis pela administração da Fundação também compreenderão interesse para nós do aspecto considerado. [“Carta de Oliveira Salazar para Armindo Monteiro” Lisboa, 25 de Agosto de 1955. AOS/CO/PC – 44C, fls. 31-35 (pasta 1)].
Numa outra carta que escreveu a Theotónio Pereira - na altura embaixador em Londres - dando-lhe conta das suas preocupações sobre o futuro da Fundação, Oliveira Salazar sobre este mesmo tema de natureza financeira e monetária escreveu: “Uma das perguntas constantes do apontamento do Doutor Armindo Monteiro referia-se a um aspecto da maior importância e delicadeza – a possível mobilização dos rendimentos da Fundação. Estes rendimentos são todos em dólares e são depositados nos Estados Unidos. A questão é para ser tratada com o maior melindre e discrição; mas compreende-se bem se esses rendimentos pudessem ser convertidos em libras, por exemplo, para serem gastos, por exemplo, em escudos, haveria uma cobertura preciosa que nos escaparia para ficarmos com outra que podíamos talvez dispensar. E não adianto mais neste ponto, mas ele interessa grandemente, ao que se vê, [a] Lord Radcliffe.” [“Carta de Oliveira Salazar para Pedro Theotónio Pereira”. 22 de Setembro de 1955. AOS/CO/PC – 44C, fls. 61-69 (pasta 1).]

Silly Season volta a atacar: nu de cortesia


Um senhor de meia idade, passeia-se pela Caparica, nos anos setenta. Numa praia nudista repara numa jovem colaboradora devidamente despida que sai da água. Rapidamente tira os seus calções, coloca-os debaixo do braço e cumprimenta a menina. Relatado o facto à família, esta interroga-se: «Nu!?» «Nu, sim senhor! Afinal, se estivesse de chapéu também o tinha tirado.»
PS - Ouvido ontem.

Calvin explica a mentalidade gregária dos colectivistas

50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian – 1.ª entrega

A 18 de Junho de 1953, Calouste Sarkis Gulbenkian redigiu, assistido pelo advogado e amigo Azeredo Perdigão, o seu segundo testamento. Nele manifestava o desejo de que fosse criada com a parte da sua fortuna que a ela consignava, e com sede em Lisboa, uma Fundação que levaria o seu nome. [O percurso e a importância de Calouste Gulbenkian, o famoso “Mr. Five Percent” – relativos aos 5% que detinha na Turkish (depois Iraq) Petroleum Company –, na história da produção e comércio do petróleo, iniciada na década de 1890, encontra-se em Daniel Yergin, The Prize: The Epic Quest for Oil, Money, and Power, Free Press, 2003, pp. 185-187 e 200-206. A partir de Novembro de 1948, na sequência de um conjunto de acordos complexos e quase ininteligíveis assinados no Hotel Aviz em Lisboa, Gulbenkian era mais do que 5%. Idem, ibidem, pp. 417-419.]
Em carta de 23 de Junho de 1953, Azeredo Perdigão informaria Salazar de que o “Sr. Calouste Gulbenkian, antes de sair para França, outorgou, finalmente, o documento de que deve resultar a criação da Fundação Calouste Gulbenkian, com sede em Portugal, e para a qual reservará a maior parte da sua fortuna, o que, a efectivar-se, como tudo indica que se efective, constituirá um acontecimento de verdadeiro interesse nacional.” E continuava: “Fico inteiramente ao dispor de V. Ex.a para lhe expor, pessoalmente, quando e onde V. Ex.a determinar, com a necessária reserva, e em tanto quanto o permita a obrigação de guardar segredo profissional, as bases fundamentais da referida Fundação.” [“Carta de Azeredo Perdigão a Oliveira Salazar”. 23 de Junho de 1953. AOS/CO/PC – 44C, fls. 2-3 (pasta 1).] Salazar ainda tardou a receber Azeredo Perdigão. A 8 de Agosto o advogado de Gulbenkian enviou nova missiva ao Presidente do Conselho pedindo-lhe que o recebesse com alguma urgência, independentemente de Salazar ter outros assuntos mais importantes em que pensar. De qualquer modo, Salazar respondera já à carta que Azeredo Perdigão lhe enviara na última semana de Junho. [“Carta de Azeredo Perdigão a Oliveira Salazar”. 8 de Agosto de 1953. Loc. cit. fls. 4-5.]
Gulbenkian faleceu a 20 de Julho de 1955.[ No mês de Abril de 1955, uma carta de Azeredo Perdigão informava Salazar, a pedido deste, do estado de saúde de Gulbenkian: “Encontra-se já o mesmo senhor […] em estado de manifesta confusão mental. Salvo um regresso absolutamente improvável, considero-o incapaz de manifestar uma vontade juridicamente eficaz.
Mas o testamento tal como foi feito mantém-se inteiramente.
Não me consta que haja sido alterado, e, pelo contrário, tanto os médicos, como os familiares do doente, garantem que não existe qualquer outra disposição de última vontade.
A ser assim, como creio que seja, a criação da ‘Fundação Gulbenkian’ deve estar assegurada.” “Carta de Azeredo Perdigão a Oliveira Salazar”. 7 de Abril de 1955. Loc. cit. (fls. 7-8).]No espaço de um ano, a 18 de Julho de 1956, o decreto-lei n.º 40 690 aprovava os estatutos da Fundação Calouste Gulbenkian redigidos por Salazar, Marcello Caetano e Azeredo Perdição. O mesmo Azeredo Perdigão – depois de afastado Cyrill Radcliffe que Gulbenkian escolhera para a presidência da Fundação – viria a dirigir os destinos daquela importante instituição de “utilidade pública” dedicada a desenvolver “actividades caritativas, científicas e culturais” em vários países e regiões, desde Portugal e respectivos territórios ultramarinos, até ao Reino Unido e Commonwealth, passando pela França, EUA, Brasil, China, Japão e Médio Oriente, estando ainda prevista uma importante ajuda ao “povo arménio”.

quarta-feira, julho 19, 2006

Fazer ciência (8)

Fazer ciência (7)

Fazer ciência (6)

Fazer ciência (5)

Fazer ciência (4)

Fazer ciência (3)

Preguiça


A propósito das VINTE MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS, que o Abrupto lançou há uns dias e que já vai para aí em cem – graças ao democrático contributo dos seus inúmeros leitores –, lembrei-me que poderíamos aqui, no Amigo do Povo, dar o nosso contributo para o desenvolvimento e expansão da preguiça intelectual na blogosfera. Por isso proponho que escolhamos AS VINTE RECEITAS DE REFERÊNCIA DA CULINÁRIA PORTUGUESA:
Para mim são:
1) Bife de vaca com batatas fritas e ovo a cavalo.
2) Bife de vitela com batatas fritas e ovo a cavalo.
3) Bitoque de porco com batatas fritas e ovo a cavalo.
4) Francesinha.
5) Sardinhas assadas com salada mista e batatas cozidas com pele.
6) Sopa de cação.
7) Bifes de atum de cebolada.
8) Jaquinzinhos com arroz de tomate.
9) Cozido à portuguesa.
10) Farturas.
11) Carapaus alimados.
12) Tripas à moda do Porto.
13) Rissóis de camarão.
14) Massada de cherne.
15) Ervilhas com ovos e chouriço.
16) Bolas de Berlim.
17) Pingado.
18) Meia torrada com manteiga Primor.
19) Sopa da pedra.
20) Pastel de nata.
Se em menos de uma semana não tivermos, pelo menos, mais mil sugestões, devemos, autores e leitores do “Amigo do Povo”, fazer uma profunda autocrítica. Nessa altura deveremos ser capazes de perceber por que raio só alguns são capazes de produzir um blogue preguiçoso com muitos leitores.
Também sugeria aos leitores e aos restantes amigos do povo – cá de dentro – que avançassem para a publicação regular de fotos, não sobre o trabalho, mas, sobre qualquer outro tema. ATENÇÃO: Não pode ser sobre a preguiça em qualquer parte do mundo, a começar pelos blogues.

terça-feira, julho 18, 2006

Fazer ciência (2)

Fazer ciência (1)

Católico quase mata Hitler: 18 de Julho de 1944


Claus Schenk, Conde de Stauffenberg, foi o oficial profundamente católico - e explicitamente inspirado pela doutrina de tiranicídio de São Tomás Moro - que colocou a bomba que quase matou Hitler em 18 de Julho de 1944 e liderou o golpe para o derrubar. Foi executado. Ele e mais umas centenas. (O embaixador alemão na Santa Sé só escapou porque os Aliados tinham ocupado Roma). Cerca de metade das vítimas do Holocausto pereceram depois desta data.
Estas redes clandestinas estavam em contacto com o papa Pio XII desde o final dos anos trinta. Foi assim que o papa soube antecipadamente da ofensiva alemã de Maio de 1940, tendo prevenido as neutrais Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo, e depois de uns dias de hesitação, a Grã-Bretanha e a França.
Suponho que haja quem considere estes actos uma escandalosa violação da separação entre a Igreja e o Estado.

PS - Não estou disposto a assumir o manto da histórica apologética. Mesmo num blogue não me interessa andar a servir de advogado de defesa ou acusação. Prefiro procurar perceber o que se passou nas circunstâncias da época, na sua complexidade. Mas tendo em conta a quantidade de propaganda virtual que tem obscurecido esta questão, tentarei colocar, para equilibrar, alguns postes com exemplos factuais ou citações documentais do tipo de posições vaticanas e de católicos que se opuseram ao nazismo. Para quem quiser aprofundar o conhecimento das redes de resistência a Hitler, uma obra de referência é: Peter Hoffmann, The History of the German Resistance 1933-1945.

Alzamiento: 18 de Julho de 1936


Há sessenta anos atrás começava a Guerra Civil de Espanha, que iria dilacerar o país vizinho por três anos e que tanto impacto teve em Portugal. Uma primeira constatação óbvia: uma guerra civil não começa num país a viver numa democracia normal. A Espanha tinha entrado numa espiral de violência desde pelo menos a revolta das Astúrias três anos antes.
Em todas as guerras civis, o papel das elites políticas é essencial. A aceitação da violência como instrumento político pelos dirigentes comunistas e anarquistas, pela Falange, e, ainda mais trágica e inesperadamente pela maioria do PSOE - a que só homens do calibre, por exemplo, de Julián Besteiros resistiram, sem terem depois conseguido escapar ao turbilhão - tinham levado o país vizinho à beira da catástrofe em que se iria precipitar pela via de uma conspiração de militares reaccionários.
Uma guerra civil "clássica" implica a divisão das forças armadas - ou seja a formação de "dois" exércitos paralelos. Foi o que sucedeu em Espanha. Em que os militares revoltosos, dirigidos pelos generais Sanjurjo, Mola e Franco, não conseguiram obter a adesão de muitos oficiais e membros das forças de segurança.

Nada seria pior do que continuar na História, e na memória política, uma guerra civil. Não significa isto esquecer. Significa resistir a uma leitura militante, o que na altura era muito difícil, mas a que uma boa crítica histórica e uma sólida democracia, hoje, obriga.
Houve atrocidades dos dois lados, mais e durante mais tempo do lado dos vencedores do que dos vencidos. Mas o essencial é que as guerras civis são sempre o triunfo da lógica da violência na política. São a derrota de todos os mecanismos liberais de respeito pelos direitos do adversário. São o império do combate ao "inimigo interno", às "quintas colunas". Foram talvez 50.000 os assassinados do lado republicano. Foram talvez 150.000 os assassinados do lado franquista. Todos eles merecem ser recordados. Todos eles merecem, sobretudo, que se estude com rigor o que aconteceu, até para que não volte a acontecer.
Infelizmente já não temos connosco o maior historiador contemporâneo espanhol, Javier Tusell, tragicamente falecido em Fevereiro de 2005. Mas fica a recomendação de uma das suas várias obras fundamentais sobre este tema: Franco en la Guerra Civil. E ainda dois livros recentes de Stanley Payne: creio que já traduzido em português temos The Spanish Civil War, the Soviet Union, and Communism; e o recém publicado: The Collapse of the Spanish Republic.

Aniversários.

No dia em que em Portugal a Fundação Calouste Gulbenkian cumpre 50 anos, em Espanha evocam-se os 70 anos da sublevação armada que conduziu à guerra civil. Tentarei escrever alguma coisa sobre os dois temas entre hoje e quinta-feira.

segunda-feira, julho 17, 2006

Tempo de Antena

Não sei se os programas radiofónicos interactivos, como agora se dizem, são mais desopilantes para quem os ouve, se para quem verbaliza em directo o que já não aguenta calar. Segui para o trabalho sintonizada no Antena Aberta, hoje dedicado à discussão da primeira fase dos Exames Nacionais do Ensino Secundário. O tópico importa, mexe com a vida de muitas famílias, é "quente". Contudo, como na maior parte das ocasiões em que fui ouvinte, a fragilidade de um género mediático que faz da democratização do acesso à antena e do nivelamento da toda e qualquer opinião as suas bandeiras redunda não em informação, mas entretenimento do bom. Entre professores tentando explicar que, em grande medida, os maus resultados são crónicos e se devem a uma falta generalizada de hábitos de estudo, responsáveis ministeriais elucidando o auditório acerca do processo de produção, distribuição e avaliação da exames, e pais preocupados com as médias exorbitantes de acesso a Medicina, interveio uma representante da CONFAP que afirmou, solene, que todos os alunos da presente fase deveriam ter direito a uma prestação extraordinária de provas porque:

- Houveram vários erros em pontos de exame a várias disciplinas, houveram irregularidades como telemóveis a tocar, houveram até exames feitos fora das salas de aulas habituais, (...) e que o que aqui se trata não é os pais a quererem uma oportunidade para os filhos levantarem as notas!

Seguiu-se-lhe uma outra senhora, professora aposentada de Biologia, que terminou uma intervenção de acentuada crítica aos novos programas disciplinares e aos critérios de correcção em vigor, dizendo:

- E para além de tudo isto, se há uma coisa que me dói muito, ao fim destes anos todos, é ouvir dizer que houveram, houveram, houveram, quando houve, houve, houve!

Como é que uma pessoa se pode concentrar no essencial de um debate quando há acessórios destes?

Ironia quase suprema

A subida no preço do petróleo, provocada em parte pela instabilidade na política internacional que o Irão não se tem cansado de fomentar, ao menos, nos últimos meses, ameaça, ainda este Verão, não apenas liquidar a pouca saúde que resta às finanças públicas daquele país enigmático, mas, sobretudo, provocar uma profunda crise social e política. Tudo pelo facto de o Irão exportar petróleo e importar gasolina, ao mesmo tempo que a vende a preços artificialmente baixos. Está tudo aqui bem explicadinho (para quem não tem, basta só fazer registo).

domingo, julho 16, 2006

Declaração de interesses.


Apoio totalmente a reacção política de Israel ao rapto de dois soldados seus por terroristas do Hezbollah. A acção militar israelita só acontece porque, infelizmente, o Líbano não é um Estado independente e soberano nos termos normalmente considerados, embora seja responsável pelos acontecimentos que provocaram a ofensiva do Estado judaico.
Mas a acção militar israelita, como os actos de agressão sistematicamente protagonizados pelos seus inimigos, só acontece porque os seus naturais amigos e/ou aliados (UE e EUA) nunca definiram claramente os limites de segurança e de soberania de Israel que aceitam poderem ser postos em causa. Será este facto, e não outros, esta ambiguidade intolerável, que poderá transformar a actual crise num acontecimento de proporções incalculáveis.
Na política internacional há, muitas vezes infelizmente, vida para além do direito internacional. Ainda assim convém sublinhar uma verdade que tem sido escamoteada na generalidade dos media: Israel tem agido na actual crise de acordo com o direito internacional na defesa dos seus interesses como Estado.

Borregar? Claro que sim!


José Blanco, “secretário de Organização do PSOE”, afirmou que o “processo de paz” com os terroristas bascos poderá ser um êxito apesar do comportamento do Partido Popular. Se fracassar, como os socialistas espanhóis acham provável que aconteça, esse fracasso dever-se-á, em grande medida, à atitude da direcção daquele Partido da direita espanhola. Na mesma declaração, naturalmente concertada com a direcção do PSOE e as figuras mais políticas do Governo, Blanco afirmou ainda que a atitude do PP e da sua liderança, além de politicamente irresponsável e imoral, estava a conduzir ao seu isolamento e, portanto, à diminuição das intenções de voto no partido que José Maria Aznar liderou por mais de uma década. E este apoucamento do PP preocupava o PSOE.
O mais interessante nesta importante declaração política proferida por José Blanco não reside nas acusações ao PP e a Rajoy. Reside, isso sim, na preocupação pela possibilidade de, pela sua intransigência, o PP se tornar numa formação política sem quaisquer possibilidades de poder vir a disputar uma vitória em eleições legislativas ao PSOE. Em circunstâncias normais – caso a Espanha fosse um país normal e Zapatero e os seus cúmplices políticos normais – dir-se-ia que a preocupação manifestada decorreria de receios em relação à produção de um desequilíbrio político sério no sistema político como consequência de um esvaziamento do seu segundo partido. Ora não é isso que está em causa. O que está em causa é muito mais cínico e simples. Zapatero já percebeu que o diálogo com os terroristas só trará a paz se a paz for sinónimo de derrota da democracia e das suas instituições. Visto isto, e apesar das actuais sondagens favorecerem largamente o PSOE, as peripécias das negociações com os terroristas desgastaram, desgastam e desgastarão de tal modo o Governo e Zapatero que terão sempre para os socialistas terríveis consequências. Se o PP estivesse no processo de paz, o mal e, sobretudo, as responsabilidades, repartir-se-iam pelos dois. Não sucedendo tal coisa, e como estão as coisas, é óbvio que o PP paga agora uma factura média e, talvez, aceitável e comportável. Quanto ao PSOE, pela sua responsabilidade e voluntarismo – voluntarismo em tuo idêntico àquele que desgraçou a República em 1936 – pagará no futuro uma factura elevada, inaceitável e incomportável.Portanto, as declarações de Blanco querem dizer que o PSOE – ou alguém do interior do PSOE e do Governo – começa a perceber – talvez demasiado tarde – não apenas o triste caminho em que se meteu mas, sobretudo, que nele segue sozinho – por mais que vários pequenos partidos nacionais e regionais jurem que o apoiem nas negociações com os terroristas. Mas as declarações de Blanco querem ainda dizer que além de andarem a negociar a torto e a direito, os socialistas espanhóis e o seu chefe estão começar a tentar alijar responsabilidades num processo político que iniciaram falando com terroristas e ignorando a sensibilidade e a opinião do PP. Isto é só o início. No entanto, e em linguagem militar, esta atitude verbalizada hoje por Blanco classifica-se como, se não estou em erro, borregar.

Revista de Imprensa ou a Silly Season volta a atacar

Um emigrante à terra tornado tem sempre vontade de saber as novidades, as fofocas. Naturalmente vira-se para a imprensa lusa. Virei-me primeiramente para a imprensa de referência que não está disponível fora de portas. (Salva-nos o DN). E só o Público chegou para escrever a presente prosa.
O Público está cada vez mais gralhado. Já só falta mesmo gralhas flagrantes chegarem aos títulos da primeira página. Mas, como toda a gente sabe, vale pelos textos de opinião (sem link, claro, vão ler às bibliotecas).
Pacheco Pereira (no Público de 13 de Julho) disserta como tem sido habitual sobre os intelectuais, o povo e o futebol. JPP acha que esta vaga de amor intelectual ao futebol só é explicável pelo desejo da intelectualidade conquistar o povo. (Nós aqui não fazemos segredo do que o nosso objectivo é realmente ganhar a amizade do povo. Mas isso é uma tarefa de todos os dias e não apenas a respeito do futebol.) Quando ao dito cujo futebol gostaria de sugerir a JPP uma hipótese revolucionária: que haja intelectuais - ou seja, pessoas que escrevem - que realmente gostem de futebol (como o povo), assim como gostam de outras artes performativas como o ballet ou a ópera.
Eduardo Prado Coelho (no Público de dia 14) confessa que nunca leu blogues. O que não o impede de tratar mais este tema que desconhece. São, confessa, demasiado confessionais e juvenis para ele. Prefere fazer silêncio sobre o assunto escrevendo sobre ele. Há quem possa estranhar tal amor ao silêncio e gosto pela reflexão aturada no autor de uma crónica diária das mais confessionais da imprensa portuguesa (o que é dizer muito). Eu vi a coisa como uma inconsequente confissão veraneante de adolescente (a idade não tem a ver com os anos).
Finalmente, o texto mais divertido de todos. O ilustre comissário central do PCP Vítor Dias (no Público de dia 14) resolve exigir ao papa que peça perdão pela ditadura de Franco! Isto vindo do PCP que apoiou - e até agora nunca pediu desculpa pelo facto - os mais criminosos regimes do século XX que mataram milhões de crentes em crenças várias, e continua a defender a Coreia do Norte, ou a China ou Cuba. Deve estar à tua espera, camarada! E fica uma ideia revolucionária para um comunista: que tal deixar espaço para se fazer história a sério sobre estes temas do passado, em vez de atirar com propaganda barata e mal alinhavada?

Chateaubriand


“Como me es imposible prever el momento de mi fin, y a mis años los días concedidos a un hombre no son sino días de gracia, o más bien de rigor, voy a explicarme.”
Assim começa o prefácio das Memóires d’outre-tombe publicadas em França entre 1848 e 1850. Escritas por um aristocrata francês, um dos grandes autores da literatura francesa e mundial, as memórias de François de Chateubriand (na verdade, e em grande medida, apontamentos do seu diário) são um trabalho único e monumental que retrata não apenas uma vida, mas também a história da França, de boa parte da Europa e da América do Norte – que Chateaubriand visitou – entre duas datas do maior significado (1789 e 1848) para a formação do mundo moderno e que E. J. Hobsbawm intitulou, no seu melhor livro, como The Age of Revolution.
Memóires d’outre-tombe são o relato de uma vida e de sociedades que atravessaram, à custa dos maiores sacrifícios, a fronteira que separava o mundo dito tradicional e o mundo chamado moderno. François de Chateaubriand (1768-1848), como Alexis de Tocqueville, representaram e ainda representam a rejeição das soluções políticas radicais, ao mesmo tempo que sempre defenderam a edificação prudente de sistemas políticos liberais, democráticos e cumpridores da lei, com a religião e as igrejas a desempenharem um papel insubstituível de cimento político, social, ideológico e cultural.
Há muito que pensava comprar e ler as Memóires d’outre-tombe. Simplesmente não se me dava lê-las em francês, não existia tradução capaz nem disponível em inglês, muito menos em português ou em espanhol. Tropecei nelas, salvo seja, ontem no El Corte Inglés aqui em Lisboa. É uma elegante edição da Acantillado Bolsillo. Publicada esta tradução em Espanha em 2004, passou este ano, em Fevereiro, a edição de bolso. O cheiro, o formato, o aspecto gráfico e, aparentemente, a tradução, tal como os dois textos introdutórios, são excelentes. Vem tudo – quatro volumes – dentro de uma caixa bela e sóbria que, tal como a capa, equilibram na perfeição o branco do texto com o “fundo” vermelho e o negro. Tudo por € 39.
Termino com mais uma citação:
“Hace cuatro años que, a mi regreso de Tierra Santa, compré cerca de la aldea de Aulnay, en las inmediaciones de Sceaux y de Châtenay, una casa de campo, oculta entre colinas cubiertas de bosques. El terreno desigual y arenoso perteneciente a esta casa no era sino un vergel salvaje en cuyo extremo había un barranco y una arboleda de castaños. Este reducido espacio me pareció adecuado para encerrar mis largas esperanzas; spatio brevi spem longam reseces [Horacio, Odes, I, ii, não ponhas grandes esperanças na breve vida]. Los árboles que he plantado prosperan, son tan pequeños aún que les doy sombra cuando me interpongo entre ellos y el sol. Un día me devolverán esta sombra y protegerán los años de mi vejez como yo he protegido su juventud. Los he elegido, en lo posible, de cuantos climas he recorrido; me recuerdan mis viajes y alimentan en el fondo de mi corazón otras ilusiones.
Si alguna vez son repuestos en el trono los Borbones, lo único que les pediría, en recompensa por mi fidelidad, es que me hicieran lo bastante rico como para añadir a mi heredad la zona colindante de bosque que la rodea: ésta es mi ambición; quisiera aumentar en algunas fanegas mi paseo: aunque que soy un caballero andante, tengo los gustos sedentarios de un monje […].” Escrito a 4 de Outubro de 1811.

sábado, julho 15, 2006

C'est la vie!

Com este calor de “ananazes”, ou de “escachar”, adjectivação que se lê nos romances de Eça de Queirós, a vontade que se tem é ligar o ar condicionado e ficar aqui a "postar". Dir-me-ão alguns: e então a praia? Ao menos cedo pela manhã, ou ao fim da tarde! Não posso! Tiraram os adenóides e as amígdalas ao Vasco na passada terça-feira. Por isso, almoço ligeiro, sesta à tarde e passeio duas horas antes do pôr do sol. Trabalharei ainda um pouco sobre a diplomacia portuguesa no Médio Oriente aquando da crise do Suez que cumpre agora cinquenta anos. É a vida!

Mãe Rússia



Em tempos que já lá vão, ainda o muro de Berlim vivia, alimentei o projecto de visitar a periferia da Rússia - então União Soviética - entrando, qual Lénine em Abril de 1917, de comboio a partir de Helsínquia e alojando-me por uns dias na então Leninegrado (hoje São Petersburgo). Eram os tempos – penso que áureos – do Inter-rail. Problemas de saúde que me apoquentaram ano após ano obrigaram-me a adiar para sempre a viajem.
O meu fascínio pela Rússia vem-me não sei de quando e mas sei de quê: da sua literatura excelente e única, da sua história política, dos filmes de Eisenstein, do PCP e de Álvaro Cunhal, ou de Júlio Verne e Miguel Strogoff. Estupidamente, por preguiça, nunca me pus a aprender russo.
Hoje de madrugada, para matar a insónia, andei pelo blogue de José Milhazes, esse misterioso português na Rússia. E por lá, além de mais um texto sobre a difícil relação entre Maniche e o Dínamo de Moscovo, de outros sobre a cimeira do G8 em São Petersburgo, a repressão na Bielorússia e a política de Putin para o Cáucaso, encontrei um link para uma visita virtual ao Kremlin. Não é o Palácio de Inverno na capital do norte mandada erigir por Pedro Grande para modernizar o seu império emulando a Europa central e ocidental. É uma incursão por aquilo que há de mais belo e oriental na história da Rússia dos czares que precedeu Pedro o Grande ou que, já depois deste, preferiram a velha Rússia tradicional e tradicionalista que, como no tempo dos sovietes, desconfiava profundamente do, e às vezes odiava o, Ocidente não cristão ortodoxo ou não comunista.

sexta-feira, julho 14, 2006

How true...


Uma provocação para o fim de semana e para um blogue de "historiadores", ainda para mais "desalinhados"... (inspirado pelo dia de hoje e por aquilo que se diz, mais de duzentos anos depois, sobre o que aconteceu à Bastilha em 1789).

Recomendo...

... a "sauna da democracia" publicada ontem por Pedro Mexia no Diário de Notícias (via O Jumento). Só não sei se é para levar muito a sério.

A sério?

"Ousar lutar, ousar vencer!"


Ainda não li nem ouvi reacções: contra, a favor ou de meias tintas. Mas penso que as intervenções de ontem do presidente da república sobre a família, nomeadamente sublinhando e criticando o egoísmo de muitos "pais" e, portanto, a leviandade com que se encaram - Estado e cidadãos - tanto os casamentos e os seus derivados como as separações, devem merecer um sentido aplauso. Ao contrário de Marx – salvo seja – penso que nem tudo o que é sólido se dissolve no ar. Basta que siga a velha máxima: "Ousar lutar, ousar vencer!"

Hoje no DN

Almanaque do Povo

Return of the Batas: A ilustradora Lucy Pepper, formerly-bloggerly-known as Vit'n'Madge'n'Violet, inaugurou há uns dias o Blogzira, onde para bem da nossa sanidade mental podemos, além de apreciar a sua bela bonecada, continuar a descobrir:

a) para que serve uma Tia;

b) quantas variações de bigode são produzidas no seio da Guarda Nacional Republicana;

c) de que maneira os condutugas preferem provocar um acidente rodoviário na corrente semana;

...etc.


Contra-Fogo: Parabéns a Nelson d'Aires, fotógrafo free-lancer e blogger, vencedor do prémio FNAC "Novos Talentos/Fotografia" deste ano, atribuído no passado dia de 23 Junho a Contra-Fogo. Gostos muito dos seus trabalhos, sobretudo do seu olhar sobre manifestações religiosas, actos de culto e peregrinações. Ele diz que são observações de um homem sem fé, eu vejo ensaios de um homem que questiona.

Caso ainda não conheçam, recomendo: Branco Sujo e 15 Den.

[Reprodução: BND]

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quinta-feira, julho 13, 2006

A Ofensa Razoável


Ao que parece a FIFA quer fazer uma acareação entre Zidane e Materazzi. O objectivo será aferir da legitimidade da atitude do jogador francês no derradeiro jogo do campeonato do Mundo, sobretudo depois de tanto Zidane como Materazzi terem dado versões algo diferentes dos factos que terão levada à marrada impiedosa com que o jogador francês derrubou o seu colega italiano.
É claro que fosse Materazzi moço forcado, a investida de Zidane teria sido bem encaixada – já estou a ver Buffon, salvo seja, como rabejador –, e a investida do cornúpeto não teria tido consequências de maior. Como assim não foi, a FIFA quer ficar a saber tudo e, no fim, deliberar, parecendo óbvio que não se poupará a esforços branquear a atitude de Zidane e assim justificar o título de melhor jogador do mundo dado ao francês.O pior é se a moda pega. Imagine-se o que sucederá, daqui para a frente, quando todos os organismos de justiça de futebol, uma coisa à escala mundial, se virem perante a inevitabilidade de acarearem todos os protagonistas de casos de agressão (e nem me passa pela cabeça que não o façam). Vem a acareação e imaginem-se os agressores a apresentarem uma enorme lista de ofensas pessoais que consideraram totalmente inaceitáveis e, portanto, legitimadoras do uso da violência; por seu lado, os agredidos a desmentirem tudo jurando que apenas lançaram sobre o agressor e a sua família umas quantas ofensas razoáveis. Passo seguinte, instados pela FIFA, todos os organismos de justiça e disciplina por esse mundo fora terão de listar as ofensas razoáveis e irrazoáveis. O problema será nas competições internacionais. Parece óbvio que aquilo que ofende muito espanhol poderá ser relativamente indiferente para um japonês, ao passo um inglês não poderá não ligar ao dobro daquilo que será uma enorme ofensa para um egípcio.

Boas Intenções


Se tudo correr como os políticos e os burocratas de Bruxelas imaginam, é óbvio que irá acabar, ou quase, o autêntico assalto à mão armada que é o custo das chamadas em "roaming" dentro da União Europeia. No entanto, é possível que ou nada acabe por correr como planeado pela Comissão ou as operadoras de telemóvel venham a conseguir fazer valer os seus interesses. Mas é bom recordar como foi visível e é visível, ao menos no último ano, que a intenção da Comissão em regular/regulamentar os custos do "roaming" na U. E. pôs o mercado a funcionar. Houve sinais de concorrência entre operadoras e os preços baixaram efectivamente. Aguardemos novos episódios.

quarta-feira, julho 12, 2006

Sinto muito mas não estão convidados!


Hoje é o dia do jantar dos seis meses - mais coisa menos coisa - de aniversário de "O Amigo do Povo". Seremos cinco mais uma, o que prefaz quatro cavalheiros e duas damas (o Bruno leva a noiva). Aguardo o evento com emoção mas sempre achei - embora nunca o tenha confessado - que devíamos ter alargado o evento aos nossos fiéis leitores. Sobretudo por serem tão poucos, tão dedicados e tão críticos.

Para ser lido


Ontem no Diário de Notícias, um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros fazia uma interessante análise da "passagem" de Freitas do Amaral pelas Necessidades. Sinceramente, acho que vale a pena ser lido. Pelas opiniões lavradas acerca de Freitas do Amaral e da sua "diplomacia", as suas ambições políticas, a sua relação com Sócrates e com o resto do Governo, mas, sobretudo, pela forma como se define, sendo parcimonioso nas palavras, o perfil político de uma das figuras mais enigmáticas da vida pública portuguesa nos últimos 35 anos. Atenção às referências à burocracia do Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao Vaticano (em sentido lato, claro está), sendo em tudo isto o opinante parte interessada e conhecedora. Umas vezes directamente, outras não sei como dizê-lo.

Uma ajuda


No passado Domingo o Público dava destaque, incluindo um artigo de opinião de Mário Mesquita, à disponibilização on-line, pelos "arquivos nacionais" norte-americanos, de documentação respeitante a Portugal nos anos de 1973 e 1974 - nomeadamente de parte da correspondência diplomática trocada entre a Embaixada dos EUA em Lisboa e o Departamento de Estado em Washington. Como, tanto quanto percebi, o "sítio" daquele diário não disponibilizou qualquer link para os documentos, eu deixo-o aqui. Oxalá seja útil e dê algum gozo aos curiosos que o visitem.

terça-feira, julho 11, 2006

A Parede


Faz por estes dias um cento de anos que Robert Baden-Powell, soldado chegado a general, reconhecido e aclamado em Inglaterra desde a vitoriosa resistência ao cerco a Mafeking, se hospedou na casa de campo do notório e um tanto infame magnate da imprensa, Arthur Pearson, no Surrey. O milionário, considerado entre a alta aristocracia e a gentry não mais que um buscão, um fura-vidas, desenvolvia no recato dos seus tempos livres actividades filantrópicas insuspeitadas. Foi este o primeiro homem que Baden-Powell escolheu para conversar sobre o seu plano de adaptar o já editado manual de actividades de exploração do território, Aids to Scouting (1899), a um público infanto-juvenil, o primeiro passo no desencadear do escutismo, um método de aprendizagem e diversão que não é mais nem menos que um jogo de crescimento, da chegada com alegria e carácter à idade adulta.
Procuramos sempre o que nos é familiar, quando entramos num local de culto. Ao visitar a St. Paul's Cathedral não me ocorreu de lá sair sem achar o memorial do homem a quem dediquei bom tempo de vida e estudo. Com a ajuda de dois funcionários da cripta, demos com não mais que uma parede por trás da qual se encontra a homenagem ao homem que largou o exército, e com ele um expectável curso de prestígio e tradição, para dirigir o que se tornou o maior movimento de crianças e jovens alguma vez criado, ao homem que jaz em campa rasa em Nyeri, nessa África menos famosa que a de Dennis Finch Hatton ou de Karen Blixen, mas a mesma, e cujo legado se encontra hoje igualmente escondido sob o estereótipo do jovem incauto que arrasta a velhinha pela passadeira. We're terribly sorry, ms., we're refurbishing, you see? I do see.
Daqui a um ano, por data do acampamento-teste do método de Baden-Powell na ilha de Brownsea, em Dorset, iniciar-se-ão comemorações do centário da criação do escutismo. Não interessa que as fardas, o código de cavalaria e a bondade numa acção estejam fora de moda. Interessa que o escutismo continue a funcionar pelo mundo como escola de auto-suficiência, liberdade e paz. E continua.

segunda-feira, julho 10, 2006

Diário Ateísta (ou mais exactamente) Diário Anti-Católico

O Diário Ateísta devia ter a coragem de afirma as suas verdadeiras convicções. Devia mudar de nome e passar a chamar-se Diário Anti-Católico ou, talvez, Diário Anti-ICAR Etc. O ateísmo é só um pretexto para estes fanáticos. O que realmente os move é uma hostilidade doentia e cega a toda forma de religião, mas sobretudo ao Catolicismo. Em suma, estão a dar má fama ao ateísmo.

Alguma vez viram alguma discussão sério sobre as bases filosóficos, ou até, Deus meu, científicas do Ateísmo? Só se for quando o Rei fez anos. Ataques bacocos ao Catolicismo é dia sim, dia sim. Num século em que dezenas de milhões foram mortos por ideologias estatistas, anti-clericais, anti-religiosas, anti-católicas e ateias, isso é assunto que não lhes interessa discutir. E quando o fazem é para recordar que o ateísmo não é uma religião, não é uma igreja (para quem não tivesse percebido), e portanto, não pode ser atribuída a essa descrença militante nada feita no combate às crenças religiosas no passado e ainda hoje em países como a China, o Vietname, Cuba, a Coreia do Norte. Santa lógica, realmente!

É ilustrador do grau cómico de manipulação da história a que esta gente está disposta a ir que se proponham falar da cumplicidade do Catolicismo com o Holocausto, a propósito das relações – por sinal frequentemente tempestuosas – do Vaticano com Mussolini, numa altura em que não havia qualquer perseguição dos judeus em Itália (até os havia membros do Partido Fascista), e em que nem havia perseguição aos judeus sequer na Alemanha, pela simples razão de que os nazis não tinham tomado o poder nesse país! Isto, claro, além de ocultarem que o Vaticano se opôs tenazmente, quer às leis raciais italianas de 1938, quer à aliança de Mussolini com Hitler.

Há muito coisa que se pode debater nas relações entre o catolicismo e o judaísmo. E há alguma coisa que se pode discutir sobre o que o Vaticano podia e devia fazer durante a Segunda Guerra. Que havia anti-semitismo católico e cristã é algo que não merece dúvida. Que só a sua secularização e "cientifização" por determinadas correntes de Darwinismo social lhe deu uma lógica de extermínio industrial do nazismo é não menos evidente. Ou o facto de que Pio XI e Pio XII condenaram claramente o racismo nazi (e não só); e tiveram desde o início uma postura de grande reserva e cada vez mais aberta hostilidade face a Hitler e ao seu regime. Os Católicos e o Vaticano fizeram mais do que qualquer outra organização não judaica para salvar judeus e outras vítimas da perseguição nazi, como foi repetidamente reconhecido na alturas e nas décadas logo a seguir à Segunda Guerra Mundial por personalidades judaicas tão variadas como Einstein, Chaim Weizmann ou Golda Meir. Argumentar que estas figuras estavam todas enganados quanto ao fundamental, ou desejosas de cair nas boas graças do Vaticano, numa questão tão delicada, é simplesmente ridículo. Este ano, indignado com a manipulação histórica gritante e o tráfico das vítimas do Holocausto para efeitos de ataques à Igreja católico, o rabi e historiador David Dalin publicou The Myth of Hitler’s Pope. É uma obra de divulgação, mas que, para variar, cita abundamentemente as fontes da época e alguns historiadores de referência, ao contrário de uma chusma de obras com os seus olhos em vender no rico mercado do anti-catolicismo militante, e que se concentram em imaginar aquilo que o Vaticano deveria fazer. Mas não creio que daqui venha grande diferença. O fanatismo anti-católico é, como qualquer fanatismo, pela sua natureza, impermeável à crítica.

TAP, TAP


A seguinte carta foi dirigida ao Instituto Nacional da Aviação Civil, por sugestão de um funcionário da DECO. Não obteve qualquer resposta

«Excelentíssimos Senhores


João Miguel Furtado Ferreira d´Almeida, portador do Bilhete de Identidade
n.º 8152647, sócio da DECO n.º 0954438-55, vem por este meio reclamar contra o atraso do voo TP 728 da companhia aérea TAP, que deveria ter partido do aeroporto da Portela para Madrid às 17 e 30 de 23 de Junho do ano em curso. De facto, veio a descolar já passava das 21 e 30.
Não é a primeira vez que o signatário é prejudicado por um atraso num voo da TAP. No entanto, desta vez o facto foi particularmente gravoso, pois tratava-se de uma viagem de fim-de-semana, tendo regressado dia 25, no voo TP 715, que mais uma vez se atrasou, embora menos. No dia 23 de Junho, o signatário chegou ao aeroporto da Portela por volta das 18 horas, pois o check-in era às 18 e 30 e teve de atravessar Lisboa de táxi a partir de São Bento, pelo que temia engarrafamentos de trânsito. Acabou por chegar a Madrid por volta da meia-noite, hora local.
O signatário sente-se defraudado como consumidor, pois se optou pelo avião como meio de transporte, em vez do comboio ou do automóvel, foi justamente por causa da alegada rapidez da viagem. Se soubesse o tempo que demorava a viagem de facto, teria preferido ir de comboio ou de carro.
Acresce que, apesar do atraso de 23 de Junho se ter verificado sobre a hora do jantar, a companhia não ofereceu qualquer compensação de carácter alimentar. É com tristeza que o signatário é levado a reconhecer que a TAP presta um pior serviço do que a Companhia Aérea da Tanzânia: no Verão passado apanhou um voo desta companhia do Aeroporto do Quilimanjaro para Zanzibar. O avião atrasou-se uma hora, mas os passageiros foram compensados com a oferta de uma bebida não-alcoólica. Em Portugal, o mesmo passageiro teve de pagar do seu bolso um lanche-jantar improvisado, no aeroporto, no valor de sete euros. Em Madrid, em vez de dividir o táxi com a pessoa que o ia esperar e irem jantar com um grupo de amigos, teve de pagar o táxi só do seu bolso e ir ter com essa pessoa depois do jantar. Pagou do seu bolso 25 euros de táxi desde o Terminal 2 até à Ronda de Toledo.
Creio portanto que a TAP me devia indemnizar dos 19, 50 euros que não teria gasto caso a companhia tivesse prestado o serviço que paguei.
Agradeço resposta a esta carta no prazo de 10 dias.

Com os melhores cumprimentos,

Lisboa, 29 de Junho de 2006

João Miguel Almeida»

sábado, julho 08, 2006

Não acredito, mas...

É claro que não acredito em maldições, mas não podiam ter escolhido outra altura para abrir o túmulo de D. Afonso Henriques?

O cúmulo do fair play

A nossa última prestação no Mundial 2006 mostrou até que ponto era injusta a acusação de falta de fair play: a malta foi tão porreira com o país anfitrião que até marcou um golo pelos adversários. E, neste campo, não temos grandes razões de queixa dos alemães: um deles até tentou retribuir com outro auto-golo. Por azar, a bola bateu nas pernas do guarda-redes germânico.

Mísera sorte! Estranha condição!

Talvez porque sou um recém-convertido ao futebol, em momentos de crise sou assolado por dúvidas absurdas: se cada equipa marcou dois golos no Portugal-Alemanha, por que é que não empatámos?

sexta-feira, julho 07, 2006

Dúvidas sobre uma exumação anunciada


Em Portugal, a exumação de um rei é um assunto meramente administrativo? Basta a autorização do IPPAR ou da ministra da cultura? E da cultura porquê? Porque Santa Cruz é património nacional e o túmulo de D. Afonso I lá está? Mas não se trata de um panteão real, integrado no "panteão nacional"? E assuntos dessa monta são meras questões administrativas interpostas à iniciativa dos investigadores de ADN?

Talvez seja esta a oportunidade de se debater esta questão que, tal como a questão do protocolo, não é de somenos importância (seria se fôssemos uma sociedade de ratos ou de baratas, mas somos uma sociedade de seres humanos que cultivam a dignidade nos seus assuntos privados e sobretudo nos comuns). Uma vez que não existe uma chefia de Estado dinástica entre nós (à qual caberia dar ou não estas autorizações), o que me parece sensato é que a abertura de túmulos de chefes de Estado deveria estar dependente da autorização do chefe de Estado em funções, neste caso do presidente da república em funções. E isto deveria estar consagrado na lei.