Carne para alcatrão
[foto subtraída à Aba de Heisenberg]
um blogue desalinhado
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Finalmente, Scorsese, um dos maiores cineastas norte-americanos vivos, e Forest Whitaker, um dos meus actores preferidos, ganharam o Óscar. No caso de Whitaker, o Óscar podia ter vindo mais cedo, quer por causa do papel em Bird de Clint Eastwood, quer por um dos muitos magníficos papéis secundários que desempenhou. Para Scorsese, o Óscar tem um sabor imerecido a consolação. The Departed é um dos melhores filmes que realizou nas duas últimas décadas, mas não está ao nível de obras que marcaram uma época como Taxi Driver ou Ranging Bull. Nem está ao nível da obra-prima de Eastwood, Cartas de Iwo Jima. Fica a suspeita que o rival de Scorsese perdeu porque se atreveu a realizar um filme falado em japonês, quase só com actores japoneses, que punha em causa os clichés norte-americanos sobre a II Grande Guerra Mundial no momento em que decorre uma outra guerra, no Iraque. Scorsese, que na sua juventude foi um maverick (um touro sem marca e portanto incontrolado pelo sistema) chega ao Óscar com um remake do primeiro filme de uma trilogia asiática que é um sucesso comercial. Eastwood, que começou no cinema como uma estrela de segunda ordem, mostra-se um autêntico maverick quando já conta mais de setenta anos. Ironias da História do cinema. A minha admiração vai toda para Eastwood. Quanto a Scorsese, dada a sua formação católica, espero que, depois de obter o ídolo dourado, se redima continuando nos trilhos abertos pelo seus filmes maiores.
Cartas de Iwo Jima é uma obra-prima de Clint Eastwood, cineasta que começou como actor em westerns spagheti e, na fase final da sua carreira, faz de um filme da II Grande Guerra, simultaneamente, um western e um filme de samurais. A busca da «última fronteira» já levou Clint Eastwood à estratosfera e agora coloca-o no pacífico, numa ilha rodeada de mar como uma cidade, um rancho ou um acampamento de colonos pode estar cercado pelo deserto ou por uma planície infinda. A surpreendente variação é que os soldados norte-americanos desempenham agora o papel de «índios» empenhados no último assalto.Etiquetas: Almanaque

Falta o mais importante: ver o que substituirá o Mil Folhas. Críticável, melhorável, claro, mas do melhor que tínhamos. Será caso para dizer, sic transit gloria mundi, ou então, estes romanos são loucos.
Espero, no entanto, que tudo isto corra pelo melhor e seja um sinal de vitalidade. Porque faz falta imprensa de qualidade em Portugal. E porque a surgir algo de novo à procura do indispensável sucesso comercial desconfio que será para baixar de nível e não para o alevantar.
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É bom saber que, na vizinha Espanha, um cidadão nigeriano poderá ser ilibado num caso de violação que o tem feito passar um mau bocado. A peritagem ao tamanho e volume do seu pénis, a pedido pelo seu advogado, poderá servir como prova da sua inocência. Será então caso para dizer que há males que vêm por bem. Ou nem isso!
Uma das críticas feitas ao projecto de despenalização do aborto até às 10 semanas a referendo é que poderia afectar negativamente a taxa de fertilidade das portuguesas, que já se encontra a níveis muito baixos. Tenho sérias dúvidas acerca da justeza destas críticas, por duas razões: em primeiro lugar, nenhum aborto será autorizado sem que a grávida passe por um gabinete de acompanhamento e aconselhamento onde lhe serão apresentadas alternativas e os apoios que poderá receber caso leve a gravidez até ao fim; em segundo lugar porque a realização de um aborto seguro eliminará as maleitas associadas ao aborto clandestino que podem incapacitar as mulheres para outras gravidezes.
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou neste vídeo que a questão do aborto não podia ser considerada a partir das dicotomias de esquerda/direita ou religiosas/ateias. Completamente de acordo. O Professor citou um nome da esquerda portuguesa para ilustrar este ponto de vista. É pouco. Eu acrescento mais duas figuras de esquerda, de projecção internacional, que proibiram o aborto e, infelizmente, têm sido esquecidas neste debate: Estaline e Ceausescu.
No referendo de dia 11 de Fevereiro irei votar Sim. Ponderei muito se devia ou não a escrever um post a explicar as minhas razões. Em primeiro lugar, porque não considero que uma lei deste tipo devesse ser decidida em referendo. Em segundo lugar, porque a blogosfera é um meio hostil à ponderação e ao debate sereno, potenciando todos os demónios despertos pela necessidade da sujeição a voto de decisões implicadas em assuntos fundamentais. Mas o referendo está aí, não faz sentido ignorá-lo, e o blogue é o meio de que disponho para expor o meu ponto de vista.Etiquetas: Almanaque
