quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Pela fertilidade

Uma das críticas feitas ao projecto de despenalização do aborto até às 10 semanas a referendo é que poderia afectar negativamente a taxa de fertilidade das portuguesas, que já se encontra a níveis muito baixos. Tenho sérias dúvidas acerca da justeza destas críticas, por duas razões: em primeiro lugar, nenhum aborto será autorizado sem que a grávida passe por um gabinete de acompanhamento e aconselhamento onde lhe serão apresentadas alternativas e os apoios que poderá receber caso leve a gravidez até ao fim; em segundo lugar porque a realização de um aborto seguro eliminará as maleitas associadas ao aborto clandestino que podem incapacitar as mulheres para outras gravidezes.
Escrito isto, considero que a baixa fertilidade actual é de facto um problema do nosso país e que deviam ser tomadas medidas para resolvê-lo. Até porque creio que ela resulta, pelo menos em parte, de problemas sócio-económicos. Apresento aqui uma proposta simples, concreta, mas que poderia ter um impacto significativo: baixar o período de carência dos seguros de saúde que prevêem despesas de gravidez, parto, etc. A pertinência do público-alvo desta medida parece-me indiscutível: trata-se de potenciais mães cujos sentimentos de responsabilidade as leva a fazer seguros antes de ficarem grávidas. Acontece que o período de carência deste seguro, por exemplo, na Médis, é de 18 meses. O que significa que terá de mediar um ano e meio entre o momento em que pais responsáveis decidam ter o filho e aquele em que a grávida esteja protegida pelo seguro. A idade em que uma mulher tem o primeiro filho tem tendência para subir, especialmente entre aquelas que gozam de maior escolaridade. A redução significativa do período de carência podia portanto representar mais um filho nos casais que recorrem a este seguro, ou, no mínimo, diminuir os riscos associados à gravidez. Uma mulher com mais de 35 anos dificilmente se pode dar ao luxo de adiar uma gravidez por razões contratuais.
É certo que outros seguros de saúde que protegem a mulher grávida oferecem períodos de carência mais curtos: o da Unibanco é de 300 dias e o da Multicare também. Não tendo feito uma comparação minuciosa de todas estas alternativas, parto do princípio que a vantagem de um menor período de carência é compensada por outros tipos de custos. Se queremos aumentar a taxa de fertilidade em Portugal temos de oferecer melhores condições às mães responsáveis e não contar com as gravidezes indesejadas.

5 Comments:

Blogger David R. Oliveira disse...

Caro amigo e vizinho!permita-me então umas tantas observações. Ponto 1 - não vou questionar a sua posição no que à despenalização do aborto diz respeito. A sua é clara, a minha também.O senhor pelos vistos vota, eu não. Estamos falados;
Ponto 2 - imprecisões suas que não podem ser contornadas: não há seguros de gravidezes, há seguros de saude que prevêem pagamento de despesas com uma gravidez e com partos, etc;
Ponto 3 - períodos de carência mais curtos. Isso só na companhia de Seguros - SNS.Nas companhias de seguros, nas outras, até nem é difícil introduzir períodos de carência mais curtos ... o que lhe garanto é que o seguro se custa 50 com um período de 100, passará a custar 150 com um período de 50.
Meu caro amigo,
todos temos o direito a reivindicar dos nossos leitores alguma condescendência com algumas asneiras que por vezes aqui deixamos ( nos blogs) mas ... uma coisa são asneiras ou tra é emitir uma opinião, é assim que o escreve, que revela - desculpe- me lá não o pretendo ofender - um absoluto desconhecimento do que fala e uma ignorância absoluta do que é a indústria seguradora.
Tenho pena ...mas também lhe prometo que não é por isto que deixarei de lhe dar crédito e continuar a ler os seus escritos.
David Oliveira

10:34 da manhã  
Blogger Fernando Martins disse...

Meu caro João,
Ainda estou para ver se os "gabinetes de acompanhamento" vão existir e se alguma vez existirem vão funcionar. Depois, e mesmo que existam, em circunstância alguma poderão impedir uma mulher de abortar. Se assim fosse a pergunta do dia 11 tinha que ser outra e o aborto não seria feito a pedido da mulher.

2:08 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

"indústria seguradora"... está tudo dito sobre o que esse sr. oliveira diz sobre uma daS "industrias" mais devedoras de favores do estado, com maiores margens de lucro e com mais má-fé e burlonas do nosso país. VIVA A INDÚSTRIA SEGURADORA!

2:33 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Caro David Oliveira,

Nunca pretendi escrever um texto com conhecimentos especializado sobre seguros. Se o texto fosse para publicar numa revista técnica certamente teria mais cuidado e não escreveria «seguro de gravidez» mas outro termo mais rigoroso. Num blogue, não vejo, francamente, qual é o problema de chamar a coisa pelo nome que lhe chamam muitas das candidatas a este seguro.
Não ponho em causa a racionalidade económica do seguro. Aliás, releia, em próprio admito que seguro com um período de carência de 300 dias deverá ter custos que um seguro de carência de 18 meses não terá.
O que eu ponho em causa é a racionalidade de que a despenalização do aborto afectará negativamente a fertilidade em Portugal. E o que digo é que ser há cidadãos e instituições privadas empenhadas em promover a fertilidade em Portugal, então deviam era oferecer melhor condições à mulheres que desejam ter filhos. A diminuição do período de carência de «seguros de saúde que prevêem o pagamento de despesas com gravidezes e parto» seria uma medida nesse sentido. Se ela devia ser financiada pelo Governo ou por instituições privadas nem sequer é uma questão abordada neste post.

João Miguel Almeida (continuo com problemas em assinar com o meu novo username e password)

7:39 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Caro David Oliveira,

Já corrigi o post no sentido de uma maior propriedade de termos. Agradeço esta crítica técnica. Sublinho que o objectivo do texto não é discutir discutir questões técnicas, mas opções cívicas. De qualquer modo, assumo a minha quota parte de responsabilidade na defesa do rigor da língua. Espero que continue a ler os meus posts e a criticá-los.

12:24 da manhã  

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