Histórias Exemplares
Cunningham é um épico perverso, interessado em dissecar a alienação humana e a irrupção do pesadelo no sonho americano. A intenção não podia ser mais séria, o método é uma ironia em crescendo até ao nível do humor corrosivo. A nível formal, o tão característico e imitado realismo norte-americano é invadido por referências de géneros literários marginais: o fantástico, o thriller, a ficção científica. O que o narrador mostra é um mundo paradoxal em que os seres humanos se vêem ameaçados por um processo de artificialização, de confinamento e de diluição do humano numa sociedade cada vez mais tecnológica e complexa. Mas a condição humana não se extingue, desloca-se, sendo apropriada por seres hoje desconhecidos ou situados além da fronteira do humano, como os ET ou robôs.
O problema não é Cunningham servir de novo meta-literatura, mas serem fracos os fios ligando três histórias, passadas em diferentes séculos, e os poemas de Whitman, usados como mote. Demasiado fracos para cimentar um romance. Suficientes para justificar a reunião, num só livro, de três histórias com classificação de bom a óptimo. Por ordem crescente.
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