quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Grandes Portugueses, Grandes Derrotados



Começaram ontem os documentários dos Grandes Portugueses. Por falta de tempo não sei quantos irei ver. Mas estou curioso para ver se os apresentadores levam a questão da defesa do laureado a peito, ou preferem fazer um trabalho menos de juízo e defesa, e mais de interpretação histórica, para mim mais interessante. Uma via media seria insistir sobretudo na questão do impacto destas figuras. Veremos (alguns).

Já a ideia de reunir dez pessoas no domingo para discutir (também e até principalmente) história de Portugal sem incluir um único historiador é um pouco estranha. Mas torna-se cómica quando têm abundado neste programa as lamentações pela falta de conhecimento da história.

Quanto ao casalinho Cunhal-Salazar, de que todos falam, ainda direi mais. Não insultem Álvaro Cunhal. Não o transformem retroactivamente num democrata burguês. Ele resistiu, como outros comunistas, corajosamente ao Estado Novo. Mas resistir a uma ditadura nunca foi prova de querer construir uma democracia. Cunhal queria fazer uma outra ditadura, melhor, do proletariado, comunista. A democracia à ocidental que ele tentou evitar mas acabou por aceitar foi um mal menor e não pode ser tida na conta dos seus méritos.

Oliveira Salazar era um político muito hábil. Mas por muito hábil que fosse precisou da polícia, da prisão arbitrária, da tortura e da censura. Precisou de ser ditador para se aguentar no poder. O que Salazar não precisou foi de criar o atraso português, esse herdou-o. E em certos aspectos bem medíveis – por exemplo a taxa de analfabetismo – deram-se avanços importantes durante o seu regime. (O 25 de Abril não caiu dos céu aos trabalhões: a sociedade tinha mudado muito desde 1928). Todos as pessoas com alguma maturidade sabem que não há santos sem mácula e que até os piores ditadores conseguem fazer umas coisas. O anti-salazarismo primário e ignorante não ajuda, nem a perceber o Estado Novo, nem a combater o fantasma de Salazar, pelo contrário, só o alimenta.
Dois grandes portugueses? Dois grandes derrotados da história. Mário Soares ficou em 12, mas se algum destes dois ganhar, ganham um prémio de consolaçãozinha: um concurso. Soares ganhou onde realmente conta. Foi a sua política - de levar Portugal do império para a Europa e da democracia para a ditadura - que triunfou e não a deles. Aliás, se não tivesse triunfado não havia sequer este concurso como escape para militantes de causas defuntas.
PS - Votar, votar, não voto, prefiro gastar o dinheiro numa boa biografia. Mas por muitas falhas que possa vir a ter o programa, tem pelo menos o mérito de suscitar debate sobre temas interessantes e levar a TV pública a fazer mais documentários.

8 Comments:

Blogger Fernando Martins disse...

Bom texto com um interessante lapso. A política de Soares levou "Portugal [...] da democracia para a Ditadura." Só não percebi se estás convencido que sem Soares não teria havido democracia em Portugal depois do 25 de Abril? Que o Soares e uns capachos que o rodeiam pensem uma coisa dessas... ainda vá que não vá, agora um historiador como tu!

11:49 da manhã  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Obrigado Fernando, não sei se haveria ou não, por exemplo o que seria um PS dirigido por Manuel Serra em vez de Soares, mas sei que no processo de transição tal como ele foi o papel dele foi decisivo. Até prova em contrário manda dizer o historiador :)

6:07 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

É claro que sim. Foi Soares, ele mesmo, o responsável pelo nosso percurso democrático, primeiro, europeu, depois. Não querer ver isso é pura cegueira. Ou ignorância.

10:41 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Na minha ignorância, e que insisto em não abandonar, sublinho o gosto pelo culto da personalidade que muitos portugueses praticam da extrema-direita à extrema-esquerda. Diga-se de passagem que Mário Soares, modestamente, a aprecia (e muito). Nessa sua modéstia nada o diferencia de Cunhal ou de Salazar.

3:30 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Portugal e os Portugueses ...
Sempre em busca de protagonismo a qualquer preço. Todos, no seu tempo foram justos e todos foram crueis. Porque será que sempre 'adoramos' crucificar quem já 'saiu de cena'?
A RTP sempre na senda dos "programinhas-verborreia da treta"

8:26 da tarde  
Anonymous Censurado da Liberdade disse...

Viva Salazar! Esse não o podem acusar de Ladrão.

Hoje só vejo senhores pançudos á custa do herário público. Para esses foi bom o 25 de Abril. Para eles o povo são uma cambada de energúmenos sem voz e que devem ser educados á sua maneira, a socialista é claro.

Chamam a isto democracia, chamam a isto liberdade? É por isso que 60% já nem votam.

Eles continuam a comer tudo e a não dar nada.

12:21 da manhã  
Anonymous Bochechas canalha disse...

Soares foi o maior pulha e traidor que Portugal já viu.

Pisou a bandeira, esbanjou dinheiro público. Foi mais para ser servido do que para servir.

Nascido em berço de ouro, agente da CIA.

Abandonou os Portugueses das ex-colónias e provocou um êxodo maciço e uma independência racista e inilateral destas, deixando-as em guerra civil.

Grandes feitos... do bochechas.

Todos estes amam mais o socialismo do que amam a Portugal. Traidores.

12:26 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Já vos estou a ver em Castela como da outra vez em 1385.

12:28 da manhã  

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