Sobre o último filme de Scorsese,
The Departed, já Nuno Markl escreveu muitas observações acertadas
aqui. Scorsese filma a «fúria de viver» das suas personagens com um vigor que lembra as obras-primas que são
Taxi Driver e
Touro Enraivecido. A minha apreciação do filme pode estar inflacionada pelo facto de não ter visto a trilogia de filmes de Hong-Kong de que
The Departed é um
remake. Mas, numa altura em que se anda para aí a discutir o que é um plágio, estamos perante o exemplo de como se pode pegar numa história já contada por outros e fazer dela uma obra pessoal. Também as teorias que arrumam os autores por grupos étnico-geográficos não são para aqui chamadas. O americo-italiano e nova-iorquino Scorcese filma os irlandeses de Boston como se tivesse crescido com eles. É mesmo possível que o distanciamento face ao projecto inicial tenha favorecido o humor negro e o rigor da economia narrativa.
Que Jack Nicholson é um grande actor nunca é demais repetir. A surpresa vem de Leonardo DiCaprio. Não sei porquê, mas todas as mulheres minhas conhecidas que viram o filme detestavam-no como «menino bonitinho» e gostaram de vê-lo na pele de um polícia proletário e angustiado. O triângulo amoroso é o lado mais frágil do enredo, mas Scorsese nunca foi um «cineasta de mulheres» e Sharon Stone, em
Casino, deixou um rasto singular na sua obra.
Será que o título não insinua um carácter de testamento não só de Scorsese, mas também de um olhar e de um ouvido nascidos nos anos 70 de que a banda sonora do filme é um esplêndido
requiem?
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