quinta-feira, novembro 30, 2006

D. Duarte e a Democracia




O livro "D. Duarte e a Democracia – Uma Biografia Portuguesa", de Mendo Castro Henriques, foi apresentado em Lisboa por Manuel Alegre e no Porto por Paulo Teixeira Pinto. Creio poder afirmar que a escolha destas duas personalidades para o lançamento do livro pretendeu demonstrar que o Duque de Bragança pode unir aquilo que é aparentemente contraditório. Não menos importante é a sensação, transmitida por estes eventos, de que é possível entre nós vencer os velhos facciosismos de que se alimentam as falsas causas e os pequenos ódios históricos que envenenam a nossa relação com o passado e uns com os outros.

Daquela possibilidade foi exemplar o discurso proferido pelo ex-candidato presidencial socialista no Teatro Gymnasium, no Chiado, a 22 de Novembro, desmistificando ideias feitas sobre o senhor D. Duarte e, em grande medida, sobre a memória histórica da instituição real e o seu significado na actualidade. É rara a capacidade demonstrada por um republicano socialista como Alegre de dizer o que, estranhamente, mesmo entre alguns “monárquicos”, nem sempre parece muito evidente: que o herdeiro da Coroa de Portugal encarna tanto uma tradição dinástica quanto uma tradição de liberdades civis e políticas, nomeadamente aquelas que, aperfeiçoadas sob a monarquia ao longo do século XIX, a república autoritária de 1933 se esforçou por denegrir, desprestigiar e fazer esquecer – o Estado de Direito, as liberdades de expressão e de associação, o moderno parlamentarismo ou as eleições pluripartidárias.

No discurso de Alegre, tal como na nova biografia por si várias vezes elogiada, ficou patente que o Duque de Bragança tem sabido manter a causa real acima de facções – mesmo de facções monárquicas –, apenas se comprometendo com aquilo que entende ser o interesse nacional e esse património já antigo, embora não contínuo, de direitos, liberdades e garantias. Independentemente das preferências de cada um relativamente à forma da chefia do Estado (electiva ou dinástica), um retrato mais claro do Duque de Bragança e da causa real nele encarnada podem agora colher-se no novo livro de Mendo Castro Henriques – e no discurso de Manuel Alegre.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Terras Paralelas

Há-de haver por aí alguém que tenha lido a saga Crise nas Infinitas Terras*, publicada há uns bons anos pela DC, e que cá chegou em doze versões gibi da Abril. Quem não, siga os links. Tento não ler ou ver notícias todos os dias, mas normalmente acabo por fazê-lo. Ficando com a sensação de que o Anti-Monitor anda a brincar com o Multiverso outra vez. Não chego a perceber se o catastrofismo está nas teclas de quem as dá, se tenho de mudar de lentes. Valha-me Leibniz.

*Não vendo. Empresto sob caução. São meus e do meu irmão. Quando um de nós tiver descendentes faremos as partilhas.

As linhas de Deus


Bento XVI foi à Turquia mostrar a sua satisfação por este país ter seguido o modelo da França e da sua constituição laica. Daí concluiu: «o diálogo entre a razão europeia e a tradição muçulmana está inscrito na existência da Turquia moderna.» Para não se ficar por declarações de princípio, afirmou desejar que a Turquia fizesse parte da Europa. Como chegou aqui partindo das premissas do discurso de Ratisbona e das suas reticências, enquanto cardeal, à integração europeia da Turquia? Talvez, apesar das virtudes teológicas da racionalidade, não seja de desprezar a sabedoria popular portuguesa: «Deus escreve direito por linhas tortas...»

Cardia contra a «nebulosa de esquerda» em 1974

À União Nacional da ditadura podia ter sucedido uma «união de esquerda» durante o período revolucionário? Que papel é que desempenhou Mário de Sottomayor Cardia durante a transição para a democracia? Eis questões às quais a História sobre o período revolucionário, ainda nos seus primórdios, deve responder. Este meu post, apresentando uma memória sobre a tese de Cardia do risco da diluição dos recentes partidos de esquerda no MDP, foi contestado. Não só por pessoas adeptas da visão do PCP sobre o assunto, mas também por historiadores afirmando desconhecer documentos sustentadores da tese. Não sendo eu um especialista da época, transcrevo aqui excertos de um documento que, pelos vistos, é pouco conhecido, mas útil para a História e o debate a fazer. Trata-se de uma entrevista de Sottomayor Cardia ao jornal «A Capital» em 30 de Agosto de 1974. Os sublinhados são meus:
«Desde a sua fundação como partido o Partido Socialista encontra-se estreitamente ligado à C.D.E. Aliás vários dos seus actuais dirigentes militam na C.D.E. desde o seu lançamento, em 1969. A C.D.E. é uma forma de actuação que vem do passado e o Partido Socialista nunca preconizou a sua morte artificial. Nesse ponto, subscrevo inteiramente uma concepção que foi apresentada no sentido de que o M.D.P. devia ter uma morte dialética. Morte dialética não pode, porém, confundir-se com uma reanimação artificial. Ora o que se verifica é que, de facto, o M.D.P. está a cumprir uma das suas funções que é a de encaminhar os democratas para as opções partidárias que melhor lhes correspondam. Na medida em que se constitua como travão a essa orientação e definição dos democratas, transforma-se numa estrutura de índole antidemocrática e antipluralista. Nomeadamente, se pretende arrogar-se uma representatividade das forças antifascistas ou das forças de esquerda, para a disputa do acto eleitoral, entra no domínio do absurdo.
Prosseguiu o dr. Sottomayor Cardia:
- No passado, a C.D.E. disputou eleições porque, nessa altura, a unidade possível era a unidade entre democratas e não a unidade pública entre partidos. Hoje, há partidos e partidos fortemente implantados. Assim, a unidade entre as forças antifascistas e democráticas e nomeadamente as que constituem a coligação governamental deverá ser uma unidade responsável, em que cada um sabe quem são os parceiros e não apenas uma mera nebulosa. Cada um deve ter a noção de qual é a força relativa dos aliados. Ora a representatividade das forças coligadas só pode ser aferida por disputa eleitoral entre listas partidárias sob a égide de partidos ou, eventualmente, de coligação de partidos. Mas isso é completamente diferente da imprecisão que, por razões de segurança, era necessária no passado, mas se tornou inadmissível agora. Somos revolucionários e não conservadores, a menos que se estivesse, o que seria reprovável, perante um fenómeno de encobrimento.
- Afirma-se no comunicado do Partido Socialista que “sem concorrência partidária não há democracia”. Qual o significado da afirmação e até que ponto, pretendendo o M.D.P. disputar as eleições, obsta essa “concorrência partidária”?
- Não a entravará se a si mesmo se constituir como partido. Mas, nessa altura, provavelmente, deixará de ter a colaboração da maioria dos seus dirigentes. Dificilmente se concebe que entre os quadros dirigentes se encontre uma maioria de pessoas que não tenha ainda uma definição partidária.
- O Partido Socialista afirma que “seria ofensa ao eleitorado democrático retirar-lhe a opção entre as diversas organizações partidárias de esquerda ou compreendidas entre a esquerda e o centro-esquerda. Pretendendo o M.D.P. disputar as eleições não terá então o eleitorado uma nova opção?
- O M.D.P., segundo julgo, gostaria que o Partido Comunista, o Partido Socialista e não sei se o P.P.D. não concorressem com listas próprias às eleições. Ora isso seria retirar ao eleitorado uma opção. Se a C.D.E. de Lisboa vier a transformar-se em partido, será naturalmente uma organização partidária como as outras. Logo, os seus militantes e aderentes não o poderão ser igualmente de outros partidos. Quanto a nós, uma vez verificada essa tendência, retiramos os nossos militantes e aderentes da actividade da C.DE. de Lisboa.»

terça-feira, novembro 28, 2006

Velho e Novo

A Aeroportos e Navegações Aéreas anunciou que vai investir quase 400 milhões de euros na “expansão do Aeroporto de Lisboa.” É óbvio que o investimento no Aeroporto da Portela e na sua “expansão” só irá parar quando, finalmente, o Aeroporto da capital tenha chegado à Ota. Ficarão nessa altura igualmente felizes aqueles que querem uma "nova infra-estrutura aeroportuária" para a capital - a famosa "placa giratória" - e aqueles que insistem que na Portela é que é bom. Poderia eventualmente tentar saber-se se fica mais em conta a “expansão” deste ou a construção do outro. Mas não parece que essa seja questão de grande importância para o actual Governo. Mesmo que ele esteja absolutamente empenhado em mandar construir “a placa.”

Plágio, Blogues, Made in Britain


É uma coincidência curiosa que os meios literários londrinos se vejam animados por dois temas bem semelhantes a recentes debates portugueses. Bom sinal? Mau sinal? Sinal talvez de que plus ça change...

O primeiro desses debates diz respeito a uma acusação de plágio a Ian McEwan. Na escrita de Atonement ele teria plagiado um texto duma escritora de bestsellers de médicos e hospitais (também não sabia que existiam!) recentemente falecida. A defesa de McEwan neste texto no Guardian é muito semelhante à de Miguel Sousa Tavares: não copiei, limitei-me a procurar boas fontes, para as quais aliás chamei a atenção. Tal como sucedeu com Sousa Tavares, vários críticos têm reconhecido que McEwan é justamente conhecido por fazer trabalho de casa, e portanto o facto de se basear (mas não copiar) relatos testemunhais não poderá desapontar os seus leitores devotados. E há até quem retome o argumento já usado neste blogue pelo amigo João Almeida: roubar sempre se roubou em arte, com mais ou menos talento (o efectivo plágio até nisso falha porque é preguiçoso, distraído ou mal intencionado ao fazer cópia fiel ou mal disfarçada). Um bom exemplo é Shakespeare (que melhorou muito os “originais”). Sendo que aqui há um detalhe (talvez) importante: no tempo do Bardo não havia direitos de autor para ninguém.

A segunda polémica diz respeito ao dos blogues e à suposta propensão dos mesmos para fazerem uma crítica destrutiva (e mal escrita) das artes em particular e do Mundo em geral. A questão é resumida, e a defesa dos bloguerati divertidamente assumida aqui, talvez não por acaso no blogue de artes do Guardian. Mais um belo exemplo de como a imprensa pode (saber) aproveitar esta onda da blogosfera.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Clássicos para o Povo: Edmund Burke in Love

A propósito do filme de Sofia Copolla, Marie Antoinette - aliás, estranhamente lido pela maioria da crítica apenas como um conto de adolescente perdida quando tem muitas pistas políticas para bom entendedor - ocorreu-me, esta bela declaração de amor do seriamente filosófico Edmund Burke. Houve quem na época explicasse toda a crítica à Revolução Francesa deste velho e perigoso esquerdista - que, apesar de britânico, tinha apoiado os revolucionários norte-americanos e denunciado abusos imperialistas na Índia - pela devoção platónica de Burke pela jovem rainha francesa que ele tinha contemplado embevecido algumas dezenas de anos antes. Parece evidente que ela terá desempenhado algum papel na violência da denúncia, mas nem por isso o conjunto de argumentos perde peso. Ganham apenas outro charme. Aqui fica a passagem charmant essencial, a recordar-nos o quão interessante pode ser a história sentimental:
It is now sixteen or seventeen years since I saw the queen of France [Marie Antoinette], then the dauphiness, at Versailles; and surely never lighted on this orb, which she hardly seemed to touch, a more delightful vision. I saw her just above the horizon, decorating and cheering the elevated sphere she just began to move in,—glittering like the morning-star, full of life, and splendour, and joy. Oh! what a revolution! And what a heart must I have to contemplate without emotion that elevation and that fall! Little did I dream when she added titles of veneration to those of enthusiastic, distant, respectful love, that she should ever be obliged to carry the sharp antidote against disgrace concealed in that bosom; little did I dream that I should have lived to see such disasters fallen upon her in a nation of gallant men, in a nation of men of honour, and of cavaliers. I thought ten thousand swords must have leaped from their scabbards to avenge even a look that threatened her with insult. But the age of chivalry is gone. That of sophisters, economists, and calculators, has succeeded; and the glory of Europe is extinguished for ever.
Fonte: Edmund Burke, Reflections on the French Revolution, 1791.

Well done, Mr Bond


Visto hoje o novíssimo Casino Royale, tenho de tirar o chapéu a Daniel Craig, absolutamente convincente no papel do melhor agente secreto do mundo. É um dos melhores filmes da série e ele um dos melhores 007 da história. Eva Green (também na imagem) é a parceira perfeita para este primeiro desempenho do novo Bond... James Bond.

domingo, novembro 26, 2006

Não Me Chamo, Chamam-me

[Interior do Palais Bourbon]

lá disse de minha justiça. Dizer que este é um blogue de esquerda tem tanto cabimento como dizer que ele é de direita. Chamemos-lhe Síndroma do Arco Parlamentar, que tal?

Mário Cesariny (1923-2006)


Tudo está
eternamente
escrito
(Spinosa)

Tudo está
eternamente
em Quito
(Uma Rosa)

Podia ser um clássico


O Bruno Cardoso Reis lançou o repto aos nascidos ou educados pós-25 de Abril de mostrarem que leram os clássicos. Eu concordo, mas vou mais longe. Num período em que, na senda de um programa televisivo, se discute quem são os «grandes portugueses», por que não discutir o cânone português? Não haverá obras que permanecem por preguiça intelectual como de leitura obrigatória nos programas de ensino secundário e outras injustamente esquecida?
Combate Desigual é uma obra de Francisco Sousa Tavares publicada em edição de autor em 1960. Podia ser um clássico. Aqui fica um excerto:
«Assente no princípio duma representação nacional, expressiva da opinião pública sobre os critérios de administração, como poderia o liberalismo institucionalizar-se em Portugal - onde como vimos não havia opinião pública, nem possibilidade de representação, nem ideal administrativo?
O povo perdera os seus modos antigos de representação e não tinha a evolução mental necessária para que o desejo de intervir na vida pública desse vida autêntica às formas políticas do liberalismo. Estas portanto se não serviam o povo, serviriam os políticos. E daí o erro fundamental do liberalismo português como de quase todo o liberalismo latino: não haver nascido do povo para o Poder, mas do Poder para o Povo (...) Porque o sistema liberal apenas serviu para transformar a coisa pública numa luta aberta de camarilhas, que não correspondiam a planos ideológicos, mas apenas a tribos políticas, a sistemas de pessoas em vez de sistemas de critérios.»
Francisco Sousa Tavares, Combate Desigual, Lisboa, Edição de Autor, 1960, pág. 33.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Propostas de discussão

Numa entrevista dada ao Le Monde, José Saramago queixa-se da indisponibilidade existente no mundo de hoje para discutir a democracia. Em nome da defesa da dita, propõe que a discussão se faça “internacionalmente.” Faz bem! O problema é que o nosso Nobel nada quer discutir. Da proposta de discussão passa para a conclusão de que “certamente” o resultado só poderia ser um: que “não vivemos em democracia” e que a democracia não passa de uma “fachada” (ou vice-versa).
Num texto escrito há dias no seu blog, Pedro Mexia parecia querer convencer-se de que “A libido retira-nos sensatez” e que essa era “a única razão por que” queria “chegar a velho.” Lendo e ouvindo José Saramago, Lobo Antunes ou outros velhotes notáveis que andam por aí, ficamos cada vez mais com a certeza de que não será sequer com a velhice que ganharemos “sensatez”… já para não falar na perda da “libido.” A não ser que a sensatez, e muito menos a libido, não sejam aquilo que pensávamos e que sentíamos que eram.

Uma estrela no Miniscente




Hoje é a vez da estrela de O Amigo do Povo responder a uma das mini-entrevistas do Miniscente dedicada aos blogueadores.

Perguntas ardilosas


Do ponto de vista do senso comum, da política e da moral, com quem é que vale mais a pena negociar?
A Administração G. W. Bush com o Irão e/ou a Síria? Zapatero com a ETA? Blair com o IRA? O Governo de José Sócrates com os perigosamente corporativos sindicatos portugueses?

quarta-feira, novembro 22, 2006

EPIC 2014

Nunca tinha ouvido falar de EPIC 2014. Dei com a referência a esta curta-metragem em Flash num artigo de Michael Hirschorn, na Atlantic de Dezembro. A curta tem quase dois anos, e segundo Hirschorn (vice-presidente executivo de programação e produção na VH1) a sua fama entre as gentes dos novos media é inversamente proporcional à detida entre os media clássicos.
Vale a pena ver esta ficção futurista, provocadora e suficientemente verosímil para nos pôr a pensar no futuro próximo da imprensa. Como vale ler Hirschorn, que tanto aponta as suas fragilidades, quanto reconhece as suas qualidades proféticas. Chegará o mesmo o tempo em que ler um jornal será coisa de elite restrita, ou de uma geração passadista?

[Fotograma: Robin Sloan e Matt Thompson]

Nasce uma nova Estrela em Hollywood


As críticas a The Departed, mesmo as mais sagazes, têm mostrado uma estranho preconceito na sua análise do filme: ignoram completamente uma série de actores secundários mas com um papel central! Este é, acima de tudo, o filme que marca a chegada dos telemóveis à maioridade como protagonistas de cinema! Os telemóveis mostram finalmente ser capazes de arcar com uma pesada carga dramática. Longe vai o tempo em que os agentes infiltrados tinham de andar com denunciadores microfones. Agora trair é mais simples com um telemóvel. Mas será realmente? Com Scorsese os telemóveis são elevados à categoria de objecto de suspense, e mostram ser capazes disso.
ADENDA - Parece que houve mais quem tenha notado, antes dos eruditos de Princeton...

terça-feira, novembro 21, 2006

"Orgasmo global sincronizado"

Está-se a preparar, com a maior seriedade e sem nenhum segredo, uma iniciativa que pretende ajudar a trazer a paz ao mundo através de um orgasmo global sincronizado (acontecimento que deverá ter lugar dentro de 30 dias e algumas horas, no próximo solstício). Eu que sempre vi no sexo uma manifestação de poder em todo o seu esplendor e, portanto, de violência (o que só demonstra que a violência nem sempre é uma coisa má), confesso que não percebo o “programa”. Não quero com isto dizer que os orgasmos e o sexo não sejam do melhor – ou até o melhor – que há em nós. Mas conseguir a paz através do orgasmo, devo confessar, é coisa que nunca vi e que nunca me tinha passado pela cabeça. Não há normalmente, e pelo menos, alguma coisa que pelejar para lá chegar? Portanto, o objectivo da iniciativa deve ser outro (ou outros). Um pretexto... Ora para mim um orgasmo nunca deve ser um pretexto, excepto se se tratar de uma terapia. Deve ser sempre um fim em si mesmo, muito embora para o atingir se possam passar momentos tão bons ou melhores do que um orgasmo.

Mr Eeden, again...

Uma lição de economia, de um comentador que sabe pensar: aqui.

Poligamia

Ultrapassada a batalha da liberalização do aborto, que a esquerda moderna portuguesa abraça e talvez já considere vencida, venho propor mais um tema “fracturante” para a sua agenda. Francisco Louçã, Helena Roseta, Luís Fazenda, Daniel Oliveira, Ana Drago, Joana Amaral Dias e tantos outros e outras, "embora" começar a luta pelo direito à poligamia não apenas de facto, mas de jure. Não é possível esperar mais… Os ventos da história nunca sopraram tanto a vosso favor! Os portugueses não suportam mais que não abracem este tema. E as vossas consciências também não!

segunda-feira, novembro 20, 2006

Outras memórias de Cardia...

A morte de Sottomayor Cardia foi uma perda para a democracia portuguesa. Será que a intenção de escrever as memórias, declarada a pessoa próxima, chegou a ser concretizada e é possível publicar a obra? O memorialismo português não é tão pobre como por vezes se diz mas certamente sairia muito enriquecido com a publicação das memórias de um protagonista da transição para a democracia em Portugal. Sobre este e outros aspectos da acção de Cardia, José Leitão, um dos fundadores do PS e o segundo líder da Juventude Socialista, escreveu no seu blogue um testemunho que já deu polémica. Em causa a oposição de Cardia à estratégia que, nos primeiros meses da Revolução, pretendia diluir o PS e o PPD em listas do MDP/CDE...

Vinho Reformista

Em Setembro de 2006 cumpriram-se 250 anos do alvará do Marquês de Pombal que criou a Região Demarcada do Douro. Não me parece que se tenha assinalado muito, com festa ou com estudo, agora que o comemorativismo de tudo e de nada está tão na moda.
Mas talvez seja fácil perceber porquê. É que 250 anos depois esse gesto de intervencionismo do Estado ainda continuará manchado pela polémica (as manchas de vinho custam a sair). Afinal trata-se de uma excepção na agricultura portuguesa e na incapacidade nacional para gerar marcas internacionalmente reconhecíveis.
Haverá provavelmente muitos que lamentarão que o ilustre Marquês de Pombal tenha procurado trazer para Portugal (não imitando, mas emulando) o espírito reformista que medrava pelo resto da Europa, perturbando a paz bucólica do vale do Douro.
Haverá provavelmente muitos que lamentarão que o ilustre Marquês de Pombal não tenha escutado a voz da rua, não tenha atendido os direitos adquiridos dos revoltosos taberneiros do Porto que queriam continuar a vender uma zurrapa qualquer, e que não tenha recuado na sua medida.
Mais de dois séculos depois a pobre região do Douro e o Porto ainda continuam a sentir os efeitos do espírito modernizador e intervencionista do Marquês de Pombal. O Vinho do Porto ainda aí está. É um vinho doce reformista, mas que provavelmente terá um travo amargo para muitos.

A propósito do rejuvenescimento da sra. Royal...

Já tinha pensado nisto, mas não tinha dito nada. Parece-me mesquinho andar por aí a comentar as cirurgias plásticas de cada um. Sobretudo porque, além de nada ter a criticar ao facto em si, tenho a certeza de que será cada vez mais uma inevitabilidade para cada um dos nossos concidadãos. Agora que há dois pesos e duas medidas político-ideológicas... isso é óbvio. A não ser, claro está, que a imprensa bem pensante deteste Berlusconi por simples “inveja” ou por pura “homofobia”.

domingo, novembro 19, 2006

Almanaque do Povo

Dizes Tu, Digo Eu: O Geração Rasca está a promover uma votação para apurar os favoritos de 2006, nas categorias de Melhor Blog Individual Feminino, Melhor Blog Individual Masculino, Melhor Blog Colectivo, Melhor Blog Temático, Melhor Blog e Melhor Blogger. A data limite para a publicação e/ou envio de votos é 7 e Dezembro, os resultados serão publicados três dias mais tarde.

[este blogue aproveita para agradecer aos bloggers que nos últimos dias o nomearam]

Série que mais gostei de ler nesta semana (e que só quem ande muito de comboio percebe porquê): Alfa Pendular, Classe Conforto, #1, #2, #3, #4, #5, #6, de Luís Mourão, no blogue Manchas.


Blogues que já toda a gente conhece, mas que me apetece destacar à mesma, e pronto: Um Amigo Pop e irmaolucia.


[frontispício nostradamesco]

Etiquetas:

Almas gémeas

Todos nós possuímos, algures nesse mundo, ao menos uma alma gémea. A do dr. Santana Lopes está na Alemanha. A de Gerhard Schröeder está em Portugal. Pelo menos a avaliar pelo tom deste interessante comentário às memórias escritas pelo antigo chanceler social democrata. Como não podia dexair de ser, li com um sorriso nos lábios esta passagem:
"And just in case you were wondering too, never once in this book does Schröder presents himself as contemptible or disreputable. Every one of his decisions was right, every one of his proposals, crowned with success. There are no blunders to speak of. If anything did go wrong, it was the fault of others, whose weaknesses he is magnanimously prepared to overlook, as long as confessions were made. Of course other people have different opinions, one is a democrat after all, but these opinions are "absurd", "distorted" "unrealistic" by turns and if he feels himself being backed into a corner, then an "I'm certain of it" or an "I am utterly convinced" always comes in useful for silencing persistent doubters."

sábado, novembro 18, 2006

Irreverente, inteligente e brilhante.

Por razões que não são para aqui chamadas, raramente leio o Público e, portanto, as crónicas do Rui Ramos todas as Quartas-feiras. Hoje dei com esta reproduzida no blogue da revista Atlântico. É Rui Ramos no seu melhor. O da longa conversa, pela madrugada dentro, no corredor (literalmente) da Residência dos Estudantes em Madrid já lá vão dois anos. Irreverente, inteligente e brilhante.

Em memória...

... de Sottomayor Cardia! José Medeiros Ferreira no seu melhor.

Sem segundas intenções e sem maldade!

A "Food and Drug Administration" pôs um ponto final à proibição de utilização de implantes mamários de silicone nos EUA por razões estritamente cosméticas (já lá iam 14 anos de proibicionismo). Tardou mas foi. É claro que a decisão mereceu e merece críticas. Também não esquece importantes avisos e cuidados e impõe limitações (a cirurgia está proibida a mulheres menores de 22 anos). Certo é que a partir de agora as norte-americanas não terão que cruzar a fronteira, ou de recorrer a uma cirurgia semi-clandestina no interior dos EUA, para melhorar o aspecto das suas maminhas - por boas (ou más) razões. E só Deus sabe como um belo par de mamocas pode fazer tanta gente feliz. Sem segundas intenções e sem maldade absolutamente nenhuma!

O Cortejo dos Penitentes…

Tal como sucedeu noutras ocasiões, também a intervenção militar no Iraque está tornar-se, por parte dos seus principais protagonistas e responsáveis políticos, num ridículo cortejo de penitentes. O maior deles, neste momento, é Tony Blair. Se de tanto se penitenciar vier a perecer, só me resta fazer votos para que a sua alma possa descansar em paz. Afinal, parece ser esse o seu maior desejo. Sendo que, e muito naturalmente, não está só.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Clinton sobre Mónica ou uma definição muito limitada de "relações sexuais"

Um presidente dignifica-se a si, ao seu cargo e ao seu país. Quem o interroga, também. Cheguei aqui através da "geração rasca."
President Clinton Fights Back

Uma excelente peça telivisiva, com Bil Clinton, já antigo presidente, no seu melhor. Porém, nem tudo parece aquilo que é.
Bill Clinton On Letting Osama Get Away

quinta-feira, novembro 16, 2006

HUMANOS - QUERO É VIVER [Humanos, 2004]

Se qualquer razão é razão para ouvir Camané, a letra de Variações é muito boa razão.

Choisir une dame!

Na foto pode ver-se Sègolène Royal. Olhos pequenos mas muito bonita, elegante e com óptimo ar.
Os e as socialistas francesas escolheram Ségolène Royal para sua candidata à Presidência da República. É o sinal de que também em França não se resiste ao culto da imagem. Veremos se é eleita e se for para onde levará a França e os franceses - presumindo que em política se tem, ou se deve ter, alguma ideia de tal coisa.
De qualquer modo, ao tentar recordar-me de uma francesa notável e notada por causa do talento político exibido na governação do Estado, só me vêm à memória duas mulheres de Antigo Regime. A boa Josefina (que da governação tinha um conceito muito próprio, estribado que era nas partes baixas de Napoleão Bonaparte) e Maria Antonieta que, em boa verdade, era austríaca e europeia mais do gaulesa. Já lá vão mais de 200 anos. Moral da história (assim de repente): não há nada mais eficiente do que o jacobinismo para correr com as mulheres da vida pública. Não sei se me fiz entender.

Na Furgoneta

Gostei tanto de Little Miss Sunshine. Não tem nada de excelente, a não ser o elenco de actores, entre os quais se contam os meus mui caros Toni Collette (Sheryl) e Steve Carell (Frank).
A família, como a furgoneta, não funciona grande coisa, mas vai funcionando. Os momentos em que todos a empurram, quase a perdem, correm atrás, são dos melhores. Se nada mais houvesse, e há, tanto quilómetro galgado valeria pelo mudo abraço de Little Miss Olive (Abigail Breslin) a Dwayne (Paul Dano) - o amor fraterno tem sempre maneira de nos chamar de volta ao mundo.

E se o ridículo matasse… cheira-me que teríamos eleições antecipadas em Espanha.

No mínimo, o presidente Zapatero acha-se um predestinado. Ele é a “desfranquização” de Espanha (já com seguidores em Portugal); ele é a resolução da questão autonómica em Espanha; ele são as negociações de paz no País Basco, ele é a aliança de civilizações – cujo nome já diz tudo sobre o seu iluminado arquitecto –; ele é a sua intenção de, através de compromisso público assumido em discurso comovente, construir um monumento à paz em Madrid; ele é, agora, a sua absolutamente extemporânea iniciativa de paz para o Médio Oriente e que logo juntou o outro grande idiota do momento na política europeia – o inestimável Chirac. A diligência de Zapatero, para que se veja como era pensada, equilibrada e estimada no mundo e na região, foi recebida com grandes aplausos por palestinianos e apelidada assim como que ridícula por um alto funcionário israelita que preferiu manter o anonimato. Como se não bastasse, parece que não só o Governo italiano está disposto a tornar o duo num trio, mas, mais grave ainda, estas idiotices têm muitas vezes o condão de pegar. Mas como se não bastasse, Zapatero lá vai dizendo que apesar de tudo coisa tem pernas para a andar, o importante é fazer qualquer coisa, etc., etc.… Eu, por mim, sugeriria ao nosso querido amigo Zapatero… porque não ficar mudo e quedo poupando-se a ele, à Espanha e a Portugal – tantas vezes confundido com o seu vizinho – ao ridículo?

The Departed

Sobre o último filme de Scorsese, The Departed, já Nuno Markl escreveu muitas observações acertadas aqui. Scorsese filma a «fúria de viver» das suas personagens com um vigor que lembra as obras-primas que são Taxi Driver e Touro Enraivecido. A minha apreciação do filme pode estar inflacionada pelo facto de não ter visto a trilogia de filmes de Hong-Kong de que The Departed é um remake. Mas, numa altura em que se anda para aí a discutir o que é um plágio, estamos perante o exemplo de como se pode pegar numa história já contada por outros e fazer dela uma obra pessoal. Também as teorias que arrumam os autores por grupos étnico-geográficos não são para aqui chamadas. O americo-italiano e nova-iorquino Scorcese filma os irlandeses de Boston como se tivesse crescido com eles. É mesmo possível que o distanciamento face ao projecto inicial tenha favorecido o humor negro e o rigor da economia narrativa.
Que Jack Nicholson é um grande actor nunca é demais repetir. A surpresa vem de Leonardo DiCaprio. Não sei porquê, mas todas as mulheres minhas conhecidas que viram o filme detestavam-no como «menino bonitinho» e gostaram de vê-lo na pele de um polícia proletário e angustiado. O triângulo amoroso é o lado mais frágil do enredo, mas Scorsese nunca foi um «cineasta de mulheres» e Sharon Stone, em Casino, deixou um rasto singular na sua obra.
Será que o título não insinua um carácter de testamento não só de Scorsese, mas também de um olhar e de um ouvido nascidos nos anos 70 de que a banda sonora do filme é um esplêndido requiem?

quarta-feira, novembro 15, 2006

Achado nas traduções

A minha experiência com a Wikipédia é positiva, que é o mesmo que dizer que, consultando-a, ainda não tinha detectado erros ou aldrabices de monta.
Contudo, ao googlar um dos decretos do Concílio Vaticano II, fui parar à definição deste, em português-brasileiro. Comparei-a com as versões inglesa e francesa (semelhantes, bastante desenvolvidas, muito ricas em hipertexto), espanhola e italiana (sucintas, diversas, porém igualmente correctas), e constatei que têm muito pouco em comum com a bizarra entrada na nossa língua. Esta resume-se a um parágrafo com factologia muito sumária, outro com informação parcial e opinião (afirma-se o facto de ter havido uma face católica de crítica ao Concílio, recusando-o com a justificação de não ter carácter dogmático; questionam-se os "rótulos" "conservador" vs. "revolucionário"), e um último com desinformação (invocam-se o Concílio e uma suposta "pouca clareza dos textos" como causadores dos problemas da igreja contemporânea, culminando com a alusão, contraditória e enganosa, ao que foi dito por Bento XVI aqui), simplesmente.

Wikipedistas lusófonos, que tão diligentemente elaboraram entradas como aquelas sobre dioceses e coisas que tais, quem quer que sejam, onde quer que estejam, não vos seria possível fazer algo acerca disto, criar uma entrada cientificamente correcta e estritamente informativa que substitua aquilo que agora lá está?
[Foto: Concílio Ecuménico Vaticano II (à saída da sessão inaugural,), 1962]

Ana Lítica

É mais grave não ter um leitor mp3 ou não ter uma máquina fotográfica digital?

[Dolmen, Mezio]

Os enforcados...

Imagem: Paul Cezanne, A Casa do Enforcado.
Sobre Blair, Saddam, a discutida condenação à morte por enforcamento deste e a hipocrisia do primeiro (mas não só a dele), talvez valha a pena ler o Financial Times aqui.
Radiohead - High and Dry [The Bends, 1995]

terça-feira, novembro 14, 2006

Almanaque do Povo

Leitor distraído: Já saiu a aguasfurtadas 10 , reparou?
Plugging a blog: Abre a 25 de Novembro.

Blogues que não conhecia, passei a conhecer e gostei: Escrito a Lápis, de João Barrento. Pastoral Portuguesa, de Rogério Casanova. O Contrário, de Dinarte Vasconcelos. f, world, de Fátima Rolo Duarte.
Sempre no nervo, sempre desconcertante: vide José Pimentel Teixeira entrevistado por Luís Carmelo.

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Novo blogue sobre Lisboa


Para lisboetas e amantes de Lisboa em geral, um novo blogue com "pesos pesados", O Carmo e a Trindade. Pode ser a "Corte", pode ser a sede do centralismo, pode ser o que quiserem, mas é Lisboa...! Linda de morrer e onde vale a pena viver.

P.S. Melhor que Lisboa, só uma vila (e concelho) à qual conto dedicar post mais trabalhado...

Eleições Americanas e Iraque (encore more sites)

Quem quiser ler (ainda mais) textos meus sobre o impacto das eleições americanas pode ver este no sítio do IEEI. As boas notícias é que há mais por onde escolher... Quem quiser ler o controverso relatório de 2004 do grupo de trabalho do CFR co-dirigido pelo novo responsável da defesa, Robert Gates, a que faço referência nesse texto, eis Iran : Time for a New Approach. (O sítio Council on Foreign Relations tem aliás sempre muita informação a respeito destas questões. E o número mais recente da Foreign Affairs por eles publicado tem um artigo interessante sobre o papel internacional do Congresso).

Mas a respeito do impacto externo das eleições americanas e das opções disponíveis vale mais a pena ler o discurso de ontem de Tony Blair, voltando a colocar a questão da Palestina em cima da mesa.
Quem quiser ter uma ideia do tipo de alternativas - quase boas, más e feias - que estão a ser discutidas nos EUA relativamente à guerra de guerrilhas no Iraque vale a pena ler este paper recente de Anthony Cordesman, Options for Iraq : The Almost Good, the Bad, and the Ugly. Cordesman é um veterano do Pentágono e um dos melhores analistas militares americanos. E há ainda o site do próprio Iraq Study Group, com quem Bush e Blair se acabaram de reunir, e em que se percebe que não andam muito longe dessas conclusões.
Em 2003 não faltava quem previsse que os críticos da guerra se iriam arrepender amargamente de não reconhecerem o génio de Bush e companhia. É fácil imaginar o que teria sucedido se essas previsões se concretizassem. Agora parece que quem avisou do desastre pendente e o tentou prevenir é que tem de arranjar uma saída para ele. Pensando bem, é injusto, mas faz sentido. Afinal, os críticos da política externa e de defesa dos EUA nos últimos anos - como Robert Gates - mostraram que sabiam do que falavam. Só não esperem milagras. Mas reflectindo melhor isso é pedir demais aos bushistas. Eles estão sempre há espera de milagres! Foi assim em 2003 e é assim agora!

domingo, novembro 12, 2006

Clássicos para o Povo: Portugal hoje, Machiavelli ontem


Há que ter em conta que nada há de mais difícil de manejar, de sucesso mais incerto, e de mor perigo, do que iniciar mudanças na disposição de um Estado. O reformador faz inimigos entre todos aqueles que prosperavam com a velha ordem das coisas, e recebe apenas apoio incerto do que poderão vir beneficiar com as novidades. O apoio destes últimos é temeroso: em parte porque receiam os adversários das reformas que têm os direitos adquiridos do seu lado; em parte, porque os homens são por norma desconfiados, e não aceitam realmente as novidades até as terem experimentado. [...] E para além do mais a rua é volúvel, é fácil de convencer, mas é difícil de manter nessa convicção [...]

Niccolò Machiavelli, O Príncipe, Livro VI ("Dos principados novos...")
PS – Incito todos os meus colegas de blogues nados ou educados no pós-25 de Abril a mostrarem que leram os clássicos. Vamos, todos juntos, resolver um dos problemas mais urgentes do país!

Amigos do povo, a sério.

Como é que se pode, digam-me, levar a sério a oposição dita de esquerda ao primeiro-ministro José Sócrates? Uma oposição interna (no PS) e uma oposição externa (nos PCP e no BE) que enche a boca com o povo, que ataca o governo por não ouvir a rua. (Talvez falte dizer qual delas?). Em suma, estes críticos do governo são todos uns grandes amigos do povo. Mas, surpresa! Na questão do aborto acham que vote quem votar, vote-se como se votar há que respeitar.... a vontade soberana do parlamento! Povo, qual povo?! Não chateiem! Há é que usar o poder legítimo da maioria no Parlamento para fazer triunfar a causa de vanguarda da liberalização do aborto! Democracia participativa? Deixem-se de lérias! O povo votou, está votado: o parlamento é que manda! Este tipo de posições e contradições é para ser levada a sério, ou será simples propaganda?

Autoflagelação

Vital Moreira quer apagar a porca mancha franquista que suja a Universidade de Coimbra, sugerindo que se retire o título de Doutor Honoris Causa conferido a Franco no longínquo ano de 1949 e, claro está, exigindo que se investigue, denuncie e julgue aqueles que terão proposto tão gordurosa iniciativa.
Medeiros Ferreira, mais ambicioso, quer atacar Salazar e o salazarismo que campeiam livremente na sociedade portuguesa antes de embarcar numa cruzada anti-franquista.
Presumindo que o salazarismo e o franquismo ainda existem, respiram e são erradicáveis, pergunto-me se não haverá coisa mais franquista (ou salazarista) do que pretender apagar ou erradicar aquilo que realmente existiu e hoje só sobreviverá, ao menos em Portugal, com denodada protecção do Estado e do regime. Visto de outro modo, o salazarismo só sobrevive, e ainda sobreviverá, porque aqueles que vieram depois, com o peito cheio de ar, não conseguiram, apesar de muito terem prometido, apagar a memória e o exemplo deixado pelos dois ditadores. É triste? Claro! Mas é aquilo que temos. Antes de bater nos mortos talvez valha a pena um pouco de autoflagelação.

Não choro por Saddam Hussein. Choro por nós e pelas suas vítimas…

Nunca gostei de me remeter a posições confortáveis em situações que são obviamente difíceis e polémicas. Não perfilho, portanto, unanimismos que são falsos na sua essência. Não quer isto dizer que às vezes não ceda à tentação. Mas esta não será uma dessas situações.
Por isso não choro lágrimas de crocodilo (ou quaisquer outras) pela futura execução de Saddam Hussein, como não me indigno com a farsa que, do ponto de vista formal, foi o seu julgamento. Da mesma forma que não me indignaria, antes rejubilaria, se o mesmo destino e julgamento tivessem tido Mao, Estaline, Hitler, Pinochet e uma procissão de gente sinistra e má que preenche os anais da nossa história ao menos no último século. Nunca me incomodou que Nuremberga tivesse sido tecnicamente uma farsa. Nem nos momentos mais inocentes da minha vida. Neste particular, eu, como as figurinhas acima nomeadas, embora cada um à sua maneira, não passamos do testemunho da bondade e pertinência das teorias evolucionistas. Quem olhe à sua volta, ou se debruce sobre o trabalhinho executado pelos Saddams deste mundo, não pode negar que as nossas raízes, a nossa essência, não podem de facto ser outras senão as de uns primatas que apareceram em África há uns 4 milhões de anos e que, apesar da sua relativa inteligência, sempre se entretiveram a espalhar a dor e o sofrimento entre os da mesma espécie.
Como não me sinto superior a nada nem a ninguém, não peço aquilo que nós, apenas macacos bastante menos peludos e muito mais inteligentes, de facto não somos nem nunca seremos capazes de dar a quem quer que seja. Sobretudo quando esse alguém não conseguiu matar ou, ao menos, adormecer a besta que habitava em si. E daí a pergunta: porquê perdoar quando tudo nos ensina que não há redenção possível? Que ninguém pense que por não se condenar Saddam Hussein à morte a “civilização” – que não duvido que exista – avança. Necessitamos exactamente do contrário. Se se executar Saddam estaremos a reconhecer perante nós mesmos aquilo que somos e as barbaridades que airosamente cometemos e cometeremos vezes sem fim. Ou será que é porque condenamos a execução de Saddam hoje, aqui, que garantimos a impossibilidade de andarmos no futuro atrás do nosso semelhante para lhe infligir sofrimento pela mais absurda das razões. Não aprendemos nada com o que se passou na Bósnia ou no Rwanda há uma dezena de anos? Não percebemos que aquela violência aparentemente absurda, mas tão nossa, se poderá repetir, se está a repetir, se irá repetir, lá como em qualquer outra parte do mundo. Não sejamos hipócritas, reconheçamos aquilo que somos e que cada um de nós será um dia capaz de matar com as suas próprias mãos pela mais mesquinha das razões. A maior das mentiras do nosso tempo é continuarmos a fingir que acreditamos ser a história um processo linear e o progresso uma realidade inequívoca inventada mas não provada pelo racionalismo moderno e, acima de tudo, pelos factos. Se assim fosse o século XX teria ocorrido há, pelo menos, dois milhões de anos. Infelizmente foi ontem. E se se repetir, e vai repetir-se, vejamos em que circunstâncias chegaremos ao século XXII. Se chegarmos.
Nota: Se alguém quiser ler em inglês um texto pertinente sobre a bondade do julgamento e da pena que calhou a Saddam Hussein, faça o favor de se dirigir aqui.

sábado, novembro 11, 2006

"¿Por qué se casa Gina Lollobrigida?"


O que eu me pelo por histórias e artigos como este no El Confidencial. Cheguei lá por causa de um outro, sobre um tema sério, recomendado por um(a) nosso(a) assíduo(a) e muy perspicaz leitor(a) catalão(lã) e sem quem já começo a não conseguir viver aqui na blogosfera.

Escaldante

Continua escaldante o processo de paz no País Basco. Literalmente! Tenta-se queimar polícias imediatamente antes dos políticos começarem a arder. Se é que já não estão.
U2, Running to Stand Still [The Joshua Tree, 1986]

Esta versão foi gravada ao vivo nos EUA, no ano passado.
Sempre a entendi como o salvo-conduto que gostaríamos de poder passar aos que amamos, a prece que por eles fazemos quando os sentimos em perigo. No caso, Vox dedica-a aos rapazes e raparigas americanos que estão "overseas"; cá, quarenta e cinco anos depois da primeira partida de rapazes para essa palavra que já quase ninguém diz, ultramar, calhou pô-la aqui.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Madame Pelosi

Ainda a propósito da vitória do Partido Democrático e da sua natureza, de Nancy Pelosi, das suas virtudes e defeitos, e daquilo que o futuro pode reservar politicamente aos EUA e, porque não, ao mundo, vale a pena ler este texto publicado (pdf) numa revista insuspeita para qualquer um mas, especialmente, para simpatizantes dos Democratas.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Rumsfeld, o "ícone".

Fonte: bbsnews.net
"The first war of the 21st century is not well-known, it was not well-understood, it is complex for people to comprehend." Palavras proferidas por Donald H. Rumsfeld, ontem, no momento em que resignou ao cargo de secretário da Defesa. É possível que estas palavras pronunciadas por Rumsfeld se apliquem a ele próprio e que, portanto, também o já ex. secretário da Defesa não tenha compreendido devidamente qual seria a melhor forma de fazer aquela guerra e, até, se aquela guerra devia ter sido feita - se assim foi, se não foi capaz de compreender aquilo que aconteceu no Iraque desde 2003, então terá sido tudo ainda muito mais trágico.
De qualquer modo, é ainda cedo para que se faça um juízo minimamente objectivo e completo sobre o homem e as suas políticas. Rumsfeld, o "ícone" norte-americano da guerra contra o terrorismo, como lhe chama carinhosamente o Washington Times, foi, e ainda é, na política norte-americana e mundial, um dos homens mais conhecedores e mais bem colocados para perceber o chamado "mundo árabe". Rumsfeld é uma personagem fria, arrogante, extremamente combativa, um trabalhador incansável, uma formiga de bastidores. Uma inteligência misteriosa, ora calculista, ora audaz, ora conservadora, ora revolucionária, mas, igualmente, um político a quem a experiência endureceu e que, talvez por isso, passou a privilegiar cada vez mais o conflito, os combates quase impossíveis, o experimentalismo doloroso, ao mesmo tempo que despreza a actual política feita cada vez menos com espessura e mais com imagem. Uma política com a qual não transige mas que seria capaz de manipular. Não deixaria de ser interessante conhecer os pormenores da sua demissão e, sobretudo, a forma como a sua personalidade lidou com aquela que era a solução mais óbvia do ponto de vista político mas que, certamente, ia contra aquilo que é a essência do carácter de Rumsfeld. Aguardo por isso com interesse e expectativa as suas memórias (ainda que o mais provável seja que as não escreva, por se tratar daqueles homens que não prestam contas a ninguém, senão eventualmente a Deus, mas só depois da morte). As suas memórias seriam as desta guerra no Iraque e as de muitas outras em que Rumsfeld disse, ouviu e fez alguma coisa.
Mas também aguardo, se Deus me der saúde e o SNS também, pelos primeiros livros de história sobre a III Guerra do Golfo (2003-????). Lá para 2036. É que sempre apreciei a perspectiva.

Quem atira a pedra

Sou contra a pena de morte e orgulho-me de ter nascido num país que foi pioneiro na sua abolição. O ateu Camus escreveu algumas das páginas mais eloquentes contra a pena de morte. Mas, quando tenho de explicar a minha posição são as palavras do Evangelho que me inspiram: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra» (Jo 8,7). A frase é atribuída a Jesus Cristo e não dá uma solução para o problema que lhe colocam, define um método para pensá-lo, apelando à consciência. Abstraindo da situação concreta em que é proferida, coloca a questão de saber se um ser humano limitado por natureza, pelas circunstâncias, que não se pode aperfeiçoar sem errar primeiro, tem o direito de fazer um juízo moral tão definitivo e absoluto sobre um semelhante que o condene à morte. Eu penso que não.
Admito que a minha posição abstracta, acima enunciada, seja discutida. Não aceito de todo posições que defendem a condenação à morte por enforcamento de Saddam Hussein. A falta de autoridade moral de quem julgou Saddam é demasiado escandalosa. Quem o sentou no banco dos réus foi, em primeiro lugar o seu antigo aliado – e logo seu cúmplice – os Estados Unidos da América. Quem o julgou por ter morto e torturado foi um regime que, três anos após a deposição da sinistra ditadura, não consegue evitar a morte e tortura diária de iraquianos.
O tribunal que condenou Saddam não é sinal de civilização, que concede a um homem o direito de se defender, mas da barbárie que o reduz à condição de bode expiatório.

José Bono

Quatro ou cinco dias depois de George W. Bush se ter congratulado com a condenação à morte de Saddam Hussein, José Bono, ex. ministro da Defesa do chefe de Governo Zapatero, veio dizer que lamentava que o terrorista da ETA, Juana Chaos, novamente em greve de fome, não a tivesse realizado há mais tempo e, consequentemente, morrido antes de assassinar, segundo se estima, uns vinte e cinco cidadãos espanhóis. Simpatizo com as palavras de Bono, como percebo as de George W. Bush. Mas além disso, também noto que andamos nós, para o bem ou para o mal, atrás de texanos na América do Norte quando eles estão aqui ao lado, com tomates, na bela, imensa e imperial Castela.
Por outro lado, e para o que der e vier, será melhor que ninguém pense que os elogios de Bono a Zapatero, que também podem ser lidos na notícia do El Mundo, são para levar a sério. Bono constitui, e constituiu-se, ao pedir para sair do Governo, numa espécie de reserva política e moral do PSOE e da política espanhola. E saltará para a ribalta para se desfazer daquilo que reste de Zapatero no dia em que a impossibilidade da paz com o terrorismo basco se torne uma evidência ainda maior. Nessa altura, no PSOE, como numa boa parte de Espanha, Zapatero e o zapaterismo entrarão para o caixote do lixo da história e ninguém quererá saber mais nada destes tempos tristes e humilhantes que Espanha e os espanhóis vivem desde que os terroristas islâmicos no 11-M fizeram o resultado das eleições num país democrático.

Vai uma aposta?

Nota: O cavalheiro simpático e sentado à direita de Angela Merkel, é George W. Bush.
Parece que George W. Bush está “aberto a qualquer sugestão sobre o Iraque” oriunda da nova maioria do Partido Democrático. Bush, mais do que ninguém, sabe que pode e deve esperar sentado. É que com um novo rosto no Pentágono – uma decisão que pela sua rapidez surpreendeu pela negativa as cabecinhas democráticas (é o que deduzo daqui) –, os democratas não têm a mínima ideia sobre aquilo que devem dizer, quanto mais sugerir, para acabar com uma guerra que apoiaram desde o primeiro instante. À escala nacional o Partido Democrata, e como se verá nos próximos meses, é uma imensa vacuidade, além, claro, de um enorme saco de gatos. Em 2009 o novo presidente será Republicano. Vai uma aposta?

Que Estado?

Parece que desde o Bloco de Esquerda até ao CDS, passando por certos membros do PS, havia um desejo ardente de saber que tipo de Estado queria o governo do PS.

Espero que tenham ouvido com atenção o excelente discurso do ministro António Costa. Ele falou de um Estado que seja capaz de providenciar 'bens públicos de qualidade' e mais 'igualdade de oportunidades'. Um Estado, portanto, que não esteja ao serviço dos funcionários públicos, como parecem querer o BE e o PCP e os sindicatos da função pública, mas do público. Um Estado, portanto, que não privatize a eito, sem ganho para os cidadãos e com perdas para o Estado, como parecem querer o PSD e o CDS, e foi o caso da privatização dos notários (ou seria o caso da reforma da segurança social).
Assim resumidinho o governo do PS quer um Estado eficiente, financeiramente sustentável, socialmente responsável. Vai ser difícil, até porque falta cultura de exigência, de serviço, e de responsabilidade em todo o lado na sociedade portuguesa. Mas enquanto o governo continuar a reformar nesse sentido, por muito que o acusem de ser inimigo do povo, e mesmo que discorde aqui ou ali, vai ter o meu apoio.

16 anos de história dos EUA

Clinton "governou" seis anos (75% do seu mandato) com um Senado e uma Câmara de Representantes maioritariamente republicanos. Bush "governará" dois anos com um Senado e uma Câmara de Representantes maioritariamente democráticos (25% do seu mandato).

quarta-feira, novembro 08, 2006

Rumsfeld Out

Parece que não me enganei. Bush substitui Rumsfeld.

Qual foi das primeiras coisas que disse no seu discurso? "Reconheço que muitos americanos votaram ontem à noite para deixar claro o seu descontentamento com a falta de progresso lá [no Iraque]." Parece que há blogues mais bushistas do que Bush.

I recognize that many Americans voted last night to register their displeasure with the lack of progress being made there.

Great!


A melhor voz do Congresso norte-americano está reeleita com mais de 60% dos votos expressos. Parabéns ao congressista e aos eleitores do 14.º distrito eleitoral do Texas. Isto celebro esta noite.

P.S. Mais sobre Ron Paul, aqui. "My kind of political man..."

Governador da Califórnia II

Numa coisa os republicanos parecem ter ganho. As melhores frases da noite eleitoral norta-americana.
A melhor provavelmente pertence a Arnold Schwarzenegger, pela segunda vez eleito governador da Califórnia: “Eu sempre adorei sequelas!”

A vitória deste Republicano moderado pode ser uma forma de abrir caminho a mais do mesmo tipo, que bem precisos são. O actor, casado com uma Kennedy, tem fortes credenciais ecologistas (a Califórnia comprometeu-se a cumprir as metas de Quioto) e foge de George Bush para se encontrar com George Clooney e Tony Blair.

A segunda melhor frase da noite é provavelmente do ex-presidente da Câmara dos Representantes, o sobrevivente Republicano Dennis Hastert: “Está uma noite tramada lá fora!”

Mistérios da América

No Insurgente e no Blasfémias não se percebe como é que há quem pense que a derrota eleitoral esmagadora dos Republicanos teve algo a ver com Bush e o Iraque.
Afinal, o republicano moderado Lincoln Chaffee até se opunha a ambos, e ainda assim perdeu a eleição! Realmente é um mistério aparentemente insolúvel, porque Chaffee continua a ser muito popular num Estado praticamente fundado pela sua família. Aliás, nesse estado muito liberal de Rhode Island, o seu opositor disse muitas coisas simpáticas sobre Chaffee. Talvez a chave do mistério esteja no facto de que acrescentava sempre que o facto de ele ser uma pessoa óptima era irrelevante, porque fazia parte do grupo parlamentar Republicano no Senado, e portanto a sua reeleição iria ajudar a manter no poder as pessoas erradas: Bush e os Republicanos.
A impopularidade de Bush e dos Republicanos deve-se a muitos casos escabrosos e a muitas políticas desastrosas, e não apenas ao Iraque. Eles vão desde a corrupção do líder do grupo parlamentar republicano, Tom de Lay, que foi forçado a demitir-se há uns meses atrás; até acusações de assédio sexual de paquetes menores por um congressista republicano, passando pelo deficit. Mas afirmar que uma guerra no Iraque que era suposto ter sido ganha em 2003 não tem nada a ver com o assunto é o equivalente, hoje, de pensar, há uns anitos atrás, que o Iraque iria acolher os libertadores norte-americanos de braços abertos. É uma forma de cegueira ideológica. Não é por caso que, não só a imprensa portuguesa, mas boa parte da imprensa norte-americana de referência, via ontem, antes de saber o resultado, como vê hoje, nestas eleições como um referendo a Bush e às suas principais políticas. E a pressão que ele vai sofrer para mudar de rumo - de Congressistas Democratas e Republicanos - irá demonstrar isso mesmo. Se mudará ou não depende dele, claro, de até que ponto será capaz, ou será forçado a tirar os seus óculos escuros ideológicos.
Aliás nas sondagens citadas em defesa desse argumento, a corrupção surge apenas como ligeiramente mais importante do que Iraque. E dificilmente alguém quererá aparecer como desculpando os abusos Republicanos. Além disso não vi nenhuma alusão aos escândalos sexuais a que os blasfemos e insurgentes parecem dar tanta importância.

Mas, estou de acordo com o Luciano Amaral: não há uma só América, boa ou má. Durante anos combati esse maniqueísmo tão querido de pró e anti-americanos primários. Espero que ele se engane e que estas eleições não sejam mais uma vez lidas da forma simplista tão típica da caricatura dos EUA para uso interno na política à portuguesa.

Eleições nos EUA

Os Democratas parecem bem posicionados quanto à Câmara dos Representantes (ainda não perderem nenhum lugar deles, e já ganharam vários aos republicanos), e até quanto ao Senado. Há quem diga que o ideal do ponto de visto de ganharem balanço para as presidenciais daqui a dois anos seria um Senado controlado (por pouco) pelos Republicanos. Assim seria mais fácil os Democratas continuarem a responsabilizar o partido de Bush, nomeadamente pela guerra no Iraque. Outros argumentam que se o Partido Democrata não consegue avançar agora, quando conseguirá?
Estas eleições são um teste interessante em duas questões importantes para o futuro.
A primeira é até que ponto a mais rica e professional máquina eleitoral republicana pesa mais do que a grande insatisfação com os Republicanos em geral e com Bush em particular que aparece em todas as sondagens.
A segunda é a de saber, até que ponto a política de intervenções militares no exterior, decidida pelo Presidente, será, nos próximos anos, bem mais condicionada pelo Congresso. Foi o que sucedeu depois do desastre do Vietname. As coisas mudaram em 1991 quando quem enfrentou dificuldades eleitorais foram os membros do Congresso que se mostraram cépticos face à intervenção bem sucedida para libertar o Kuwait de Saddam Hussein. Agora, se for claro que a guerra custou a reeleição até de políticos republicanos populares e moderados, poderemos assistir a uma nova mudança neste ciclo.
O que parece evidente é que se os Republicanos tiverem perdas significativas, a pressão - de Democratas, mas sobretudo de Congressistas Republicanos desejosos de ser reeleitos dentro de dois anos - sobre Bush para mudar de política no Iraque (e deixar cair Rumsfeld) será enorme. Something will have to give...
ADENDA: Os Democratas tomaram folgadamente conta da Câmara dos Representantes, com importante poder sobre o orçamento e a capacidade de organizar incómodas comissões de inquérito. Isso mostra que conseguirem mobilizar o descontentamente popular e é um sinal positivo essencial para os próximos dois anos. Quanto ao Senado tudo continua pendente de dois lugares disputadíssimos. Para se perceber o que isto significa, convém lembrar que os democratas ainda parecem poder ganhar na Virgínia, um dos Estados mais conservadores, e contra George Allen, um peso-pesado da política americana, que há um ano atrás toda a gente considerava que não só iria ser reeleito confortavelmente como que poderia apresentar-se às presidenciais.

terça-feira, novembro 07, 2006

Revista de Revistas: Ba Ki-moon (e muito mais!)


O último número Harvard International Review (Verão 2006) – ainda não disponível on-line - oferece-nos um artigo de Ban Ki-moon sobre as negociações com a Coreia do Norte. Este ministro dos estrangeiros da Coreia do Sul será o novo Secretário Geral da ONU a partir de Janeiro de 2007. É um texto pouco inspirador. Parece que os EUA encontraram um secretário cinzento para se poderem queixar mais à vontade da ineficácia da ONU. Ainda sobre Ba Ki-moon há um apontamento de James Traub na revista dominical do New York Times.

Mas a HIR vale ainda pelo texto de Fernando Henrique Cardoso, que junta a sua voz ao tema (cada vez mais evidente) das duas esquerdas na América Latina: a moderada e modernizadora, e a apocalíptica e populista. Vale sobretudo pela entrevista com Robert Putnam sobre o estado da sociedade civil pós-11 de Setembro. E, last but not least, por um dossier muito bom sobre a influência da crítica académica na política que aflorámos num poste anterior. É especialmente clara a análise de Michael Barnett sobre os desentendimentos mútuos e os perigos da torre de marfim (ideológica) em que os políticos se podem encerrar. Veremos se Ba Ki-moon não se fecha numa torre de marfim burocrática.

Debate do Orçamento para 2007

O sr. primeiro-ministro passou a parte inicial do seu discurso a tentar ganhar credibilidade descredibilizando a oposição. Note-se que não estava apenas a falar para a oposição parlamentar. Estava a falar para toda a oposição. A da rua, a bem e a mal pensante e, claro está, a de Alberto João Jardim. Ouvindo o resto do discurso, e ainda não acabou, parece-me que estamos perante um líder que começa a sentir-se encurralado - também por ter passado da apresentação das virtudes do orçamento para mais paulada na oposição. Mas, enfim, devo estar enganado ou isto não tem qualquer importância. Também é possível que Sócrates esteja a apresentar o orçamento no Parlamento nos mesmos termos em que falará ao PS no próximo Congresso. Veremos aquilo que se segue...

Sócrates: tantos votos e ainda assim faltou um!


Falei ontem, por coincidência, com um militante de base do PS, com idade para ter juízo e sem interesse numa carreira política activa (ou de outro tipo qualquer). Um daqueles socialistas com preocupação social, e que portanto não percebe porque é deficientes abastados não podem pagar impostos para ajudar outros que o são menos (embora esta proposta seja provavelmente para deixar cair), qual é a base para pensar que funcionários públicos ou professores são as únicas classes profissionais constituídas por génios, ou como é que deixar o Estado de pantanas com um deficit descontrolado irá ajudar os pobrezinhos. Ora, o dito militante, depois de ter ido diligentemente escutar um debate entre José Sócrates e Helena Roseta, esqueceu-se do dia do acto eleitoral e acabou por não ir votar no homem! É o que eu chamo uma falha do culto da personalidade... ou será do culto da imagem... ou será (talvez mais precisamente) do culto da pontualidade?