Sou contra a pena de morte e orgulho-me de ter nascido num país que foi pioneiro na sua abolição. O ateu Camus escreveu algumas das páginas mais eloquentes contra a pena de morte. Mas, quando tenho de explicar a minha posição são as palavras do Evangelho que me inspiram: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra» (Jo 8,7). A frase é atribuída a Jesus Cristo e não dá uma solução para o problema que lhe colocam, define um método para pensá-lo, apelando à consciência. Abstraindo da situação concreta em que é proferida, coloca a questão de saber se um ser humano limitado por natureza, pelas circunstâncias, que não se pode aperfeiçoar sem errar primeiro, tem o direito de fazer um juízo moral tão definitivo e absoluto sobre um semelhante que o condene à morte. Eu penso que não.
Admito que a minha posição abstracta, acima enunciada, seja discutida. Não aceito de todo
posições que defendem a condenação à morte por enforcamento de Saddam Hussein. A falta de autoridade moral de quem julgou Saddam é demasiado escandalosa. Quem o sentou no banco dos réus foi, em primeiro lugar o seu antigo aliado – e logo seu cúmplice – os Estados Unidos da América. Quem o julgou por ter morto e torturado foi um regime que, três anos após a deposição da sinistra ditadura, não consegue evitar a morte e tortura diária de iraquianos.
O tribunal que condenou Saddam não é sinal de civilização, que concede a um homem o direito de se defender, mas da barbárie que o reduz à condição de bode expiatório.
4 Comments:
A questão não é só - nem sobretudo - da autoridade moral para proferir o juízo. É o acto de tirar a vida a alguém. Isso é que não é aceitável, nem com toda a autoridade moral do mundo.
Saddam tem apelado à pacificação dos iraquianos , contra o sectarismo, contra a influência do Irão e até para não um certo perdão dos ocupantes.
Nunca saberemos, se é que ainda não vamos saber, se Saddam teria normalizado o pais, sei lá, um pouco como Kaddafi, ou outros ditadores.
Receia-se bem que a sua execução (para a qual pediu fuzilamento como militar) enterre para sempre qualquer viabilidade do Iraque como legado dos Britânicos.
E por falar em Britânicos:
Via Wikipedia:
"In 1920, as Secretary for War and Air, Churchill had responsibility for quelling the rebellion of Kurds and Arabs in British-occupied Iraq, which he achieved by authorising the use of poison gas. At the time he wrote, "I am strongly in favour of using poison gas against uncivilised tribes" - although Churchill's intention was 'to cause disablement of some kind but not death'.[1] If it occurred, this is the first recorded use of poison gas against a civilian population."
"até para um certo perdão dos ocupantes."
Luís, acerca desta questão estamos de acordo: nenhum ser humano possui a autoridade moral absoluta que pressupõe a condenação de outro ser humano a uma pena de morte.
CN, independentemente da questão moral ou ética, creio que a condenação à morte de Saddam vai piorar as condições políticas para pacificar o Iraque.
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