Há sessenta anos atrás começava a Guerra Civil de Espanha, que iria dilacerar o país vizinho por três anos e que tanto impacto teve em Portugal. Uma primeira constatação óbvia: uma guerra civil não começa num país a viver numa democracia normal. A Espanha tinha entrado numa espiral de violência desde pelo menos a revolta das Astúrias três anos antes.
Em todas as guerras civis, o papel das elites políticas é essencial. A aceitação da violência como instrumento político pelos dirigentes comunistas e anarquistas, pela Falange, e, ainda mais trágica e inesperadamente pela maioria do PSOE - a que só homens do calibre, por exemplo, de
Julián Besteiros resistiram, sem terem depois conseguido escapar ao turbilhão - tinham levado o país vizinho à beira da catástrofe em que se iria precipitar pela via de uma conspiração de militares reaccionários.
Uma guerra civil "clássica" implica a divisão das forças armadas - ou seja a formação de "dois" exércitos paralelos. Foi o que sucedeu em Espanha. Em que os militares revoltosos, dirigidos pelos generais
Sanjurjo,
Mola e
Franco, não conseguiram obter a adesão de muitos oficiais e membros das forças de segurança.
Nada seria pior do que continuar na História, e na memória política, uma guerra civil. Não significa isto esquecer. Significa resistir a uma leitura militante, o que na altura era muito difícil, mas a que uma boa crítica histórica e uma sólida democracia, hoje, obriga.
Houve atrocidades dos dois lados, mais e durante mais tempo do lado dos vencedores do que dos vencidos. Mas o essencial é que as guerras civis são sempre o triunfo da lógica da violência na política. São a derrota de todos os mecanismos liberais de respeito pelos direitos do adversário. São o império do combate ao "inimigo interno", às "quintas colunas". Foram talvez 50.000 os assassinados do lado republicano. Foram talvez 150.000 os assassinados do lado franquista. Todos eles merecem ser recordados. Todos eles merecem, sobretudo, que se estude com rigor o que aconteceu, até para que não volte a acontecer.
3 Comments:
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