Chateaubriand
Assim começa o prefácio das Memóires d’outre-tombe publicadas em França entre 1848 e 1850. Escritas por um aristocrata francês, um dos grandes autores da literatura francesa e mundial, as memórias de François de Chateubriand (na verdade, e em grande medida, apontamentos do seu diário) são um trabalho único e monumental que retrata não apenas uma vida, mas também a história da França, de boa parte da Europa e da América do Norte – que Chateaubriand visitou – entre duas datas do maior significado (1789 e 1848) para a formação do mundo moderno e que E. J. Hobsbawm intitulou, no seu melhor livro, como The Age of Revolution.
Memóires d’outre-tombe são o relato de uma vida e de sociedades que atravessaram, à custa dos maiores sacrifícios, a fronteira que separava o mundo dito tradicional e o mundo chamado moderno. François de Chateaubriand (1768-1848), como Alexis de Tocqueville, representaram e ainda representam a rejeição das soluções políticas radicais, ao mesmo tempo que sempre defenderam a edificação prudente de sistemas políticos liberais, democráticos e cumpridores da lei, com a religião e as igrejas a desempenharem um papel insubstituível de cimento político, social, ideológico e cultural.
Há muito que pensava comprar e ler as Memóires d’outre-tombe. Simplesmente não se me dava lê-las em francês, não existia tradução capaz nem disponível em inglês, muito menos em português ou em espanhol. Tropecei nelas, salvo seja, ontem no El Corte Inglés aqui em Lisboa. É uma elegante edição da Acantillado Bolsillo. Publicada esta tradução em Espanha em 2004, passou este ano, em Fevereiro, a edição de bolso. O cheiro, o formato, o aspecto gráfico e, aparentemente, a tradução, tal como os dois textos introdutórios, são excelentes. Vem tudo – quatro volumes – dentro de uma caixa bela e sóbria que, tal como a capa, equilibram na perfeição o branco do texto com o “fundo” vermelho e o negro. Tudo por € 39.
Termino com mais uma citação:
“Hace cuatro años que, a mi regreso de Tierra Santa, compré cerca de la aldea de Aulnay, en las inmediaciones de Sceaux y de Châtenay, una casa de campo, oculta entre colinas cubiertas de bosques. El terreno desigual y arenoso perteneciente a esta casa no era sino un vergel salvaje en cuyo extremo había un barranco y una arboleda de castaños. Este reducido espacio me pareció adecuado para encerrar mis largas esperanzas; spatio brevi spem longam reseces [Horacio, Odes, I, ii, não ponhas grandes esperanças na breve vida]. Los árboles que he plantado prosperan, son tan pequeños aún que les doy sombra cuando me interpongo entre ellos y el sol. Un día me devolverán esta sombra y protegerán los años de mi vejez como yo he protegido su juventud. Los he elegido, en lo posible, de cuantos climas he recorrido; me recuerdan mis viajes y alimentan en el fondo de mi corazón otras ilusiones.
2 Comments:
Excelente sugestão. Ando também há vários anos com vontade de ler esta obra: vou ver se é desta que consigo.
Só não sei é se é boa ideia lê-la em castelhano...
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