quinta-feira, julho 27, 2006

CPL... Quê?


A CPLP, ou comunidade dos países de língua (oficial) portuguesa, está a caminho de se transformar-se no Commonwealth: é um triunfo simplesmente existir “com dignidade”. Países pobres como os nossos, a precisar de gastar bem o seu dinheiro, deveriam ter mais para mostrar. A não ser que se assuma que tudo não passa de reuniões periódicas para troca de informações entre governos. Mas para isso não parece necessária qualquer estrutura permanente.
A verdadeira base desta comunidade é cultural e linguística. Cultivá-la devia ser prioridade absoluta. Mais vale fazer pouco e bem. Um exemplo prático, a exigir uma pinga dos recursos dos países lusófonos, seria formar-se uma academia ou instituto internacional da língua portuguesa que teria pólos em todas as capitais lusófonas, estaria ligada em rede, e teria por missão elaborar um verdadeiro dicionário, histórico e de uso corrente, da língua portuguesa em todas as suas variantes regionais e nacionais, no modelo do Oxford English Dictionary.

O português só terá a ganhar em ser enriquecida constantemente por acréscimos africanos, brasileiros, europeus. A riqueza de uma língua está na sua variedade. Desde que, claro, haja forma das variantes se perceberem, de se conhecerem mutuamente. As barreiras seriam muitas, a avaliar pelas ridículas oposições ao acordo ortográfico. Possivelmente uma das suas fontes seriam as instituições já existentes que se dedicam a fazer dicionários, mas poderiam muito bem ser associadas ao projecto. Isto poderia ir de par e daria real sentido a uma ofensiva diplomática consistente e coordenada para obter o reconhecimento do português como língua oficial na ONU. Mas seria, por si mesma, uma grande e relativamente barata realização. É possível que já mais alguém se tenha lembrado disto, mas nunca é demais insistir em tal assunto.

Depois poderia pensar-se em redes de cooperação na educação e investigação – desde logo para estudar o património cultural e histórico comum – usando até financiamentos já existentes. Assim como mecanismos para facilitar as trocas ao nível das indústrias culturais. Tudo isto podia ser feito com uma estrutura burocrática mínima. Mas talvez seja pouco lusófono pensar em dar prioridade à prática sobre a burocracia e os discursos. Em português nos desentendemos muito bem.