Rever "O Leopardo"

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A crítica de Nuno Ramos de Almeida à inverosimilhança do enredo de Munique, aqui, é um bom ponto de partida para colocar o filme no devido lugar. Não julgo que faça sentido ver esta película de um modo muito diferente das outras de Spielberg, a partir de uma falsa dicotomia entre obras «realistas» e «de fantasia», «de entretenimento» e «sérias». Para ver Munique, como para ver O Tubarão, ET, Os Salteadores da Arca Perdida, ou a Guerra dos Mundos, o espectador deve «suspender a descrença». Porém, não estamos apenas perante mais um filme de Hollywood. O enredo faz eco de histórias muito mais antigas. Como em as Mil e uma Noites, estamos perante uma narrativa de sobrevivência. Como na Bíblia, as personagens expulsas de um lugar de harmonia mítica – o paraíso – lutam pela Terra Prometida e debatem-se com problemas éticos.
Segundo a UNESCO, existem seis milhares de línguas no nosso planeta. Mercê de um tempo em que o isolamento físico ou comunicacional das comunidades humanas é excepcional, metade dessa cifra enfrenta a extinção. Sim, necessitamos de uma língua global, da língua da rede. Mas há uma língua primeira, a que estrutura a nossa cognição, condiciona a percepção da realidade, permite o relacionamento com o outro; esse património que os mais próximos nos transmitem alimenta-nos, torna-se nosso. Molda-nos. É em cada sotaque, dialecto e regionalismo dessa matriz que realmente estamos.








"Uma história verdadeiramente cíclica só é imaginável se aceitarmos a possibilidade de uma determinada civilização poder desaparecer por completo sem deixar o mínimo vestígio. Isso ocorreu, de facto, antes da invenção da ciência natural moderna. Esta é, no entanto, tão poderosa, tanto para o bem como para o mal, que é duvidoso que alguma vez possa ser esquecida ou 'desinventada', excepto no caso da aniquilação física da raça humana. E, se o domínio da progressiva ciência natural moderna é írreversível, também não são fundamentalmente reversíveis a história direccional e todas as outras consequência económicas, sociais e políticas que dela seguem."
[fonte Ed Stein via Micas]
[por sir Lionel Lindsey - fonte: www.joseflbovicgallery.com]
O Charlie sim: «C'est dur d'être aimé par des cons.» Mas deixa estar profeta amigo, cretinos fanáticos há um pouco por todo o lado.

[fonte: Barnabé]
[Foto: Álbum pessoal de Agostinho da Silva,in AAG, 1981.]

