O Bobo
Pergunta o Paulo Varela Gomes (e não, ou talvez também, o Ivan, como inicialmente disse): o gosto ocidental pela sátira manteve-se durante os mil anos da Idade Média? A resposta é sim. Lembrai-vos d’O Bobo! Mesmo nas sociedades tradicionais havia um mecanismo de crítica, com a defesa do exagero cómico, que era tolerada pelos poderes instalados. A caricatura é herdeira dessa função de distorção salutar, de crítica mordaz, de escape: é o bobo da sociedade de massas. (Sim, eu sei, é um pouco grandiloquente, deve ser do chá). Recuar nisto, sobretudo quando se trata de criticar os poderosos e as grandes instituições, seria recuar para um período mais negro do que a Idade Média (talvez a Idade Moderna).
Por outro lado (para não ser pelo mesmo), a figura do bobo da corte até ajuda ao argumento principal desse poste, e com o qual estou completamente de acordo. É que o bobo está longe de ser exclusivo do Ocidente. Bobos existiam também nas sociedades islâmicas, aliás durante muitos séculos, mais ricas, mais cultas, mais diversas e mais tolerantes do que as do Ocidente (se se quiser ir por aí). Moral da história (parece que tem de ter, nos tempos que correm): bobos há em muitos lados, e em mais do que um sentido.
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