segunda-feira, junho 11, 2007
Nas últimas duas décadas pudémos acompanhar uma mutação importante no papel (e na percepção pública) das personalidades ligadas ao mundo do entretenimento. Actores, atletas ou músicos motivados em intervir civicamente conseguiram, nesse lapso de tempo, ultrapassar os limites do espaço que lhes estava tradicionalmente destinado (o mecenato, a benemerência e o compromisso partidário) e são agora senhores de um tribunato, uma magistratura de influência capaz de ombrear (e aliar-se) com individualidades de outros sectores profissionais, organizações não governamentais e fora internacionais para a inscrição de determinada questão na agenda política global. Mandela parece ter sido o primeiro dos líderes a entendê-lo e capitalizá-lo. A razão é simples: tal área socio-profissional ganhou, como nenhuma outra, fluidez e ductilidade mediáticas à escala planetária, e dispõe de (ou tem capacidade de atrair) recursos financeiros consideráveis. Campeado este espaço, não são só os poderes instituídos que recorrem ao entertainer para apoiar e representar uma causa; é o entertainer que que projecta, produz e executa acções de natureza política.
Ignorar este fenómemo, e sobretudo descredibilizar genericamente os seus agentes por serem quem são, como se as suas profissões os desqualificassem para a reflexão e a acção no 'mundo real', é simples preconceito. Basta ler um bocadinho para perceber que muitos deles não estudam só pautas, poses e guiões. Creio que os opinadores highbrow do nosso e outros bairros acabarão, a prazo, por reconhecer a consequência das acções destes novos tribunos.
[Foto: O músico Nelust Wyclef Jean e a actriz Angelina Jolie Voight na apresentação do documentário A Place in Time, no Tribeca Film Festival, em Abril passado.]
4 Comments:
O post parece ser reacao a qualquer coisa acontecida ai (escrevo nos EUA), mas tomado 'a letra requer uma observacao: muita da critica ao activismo do show biz parte do proprio show biz (p ex critica dos autores de South Park a Clooney e companhia). E muitas vezes dirige-se ao tom desse activismo e 'a inconsistencia dos seus activistas e nao tanto 'as causas ou 'as mensagens. Coom ja' escrevi no Peao, o problema esta' nao na particiacao civica de actores, cantores, etc., mas em deixar-lhes a tarefa politica toda nas maos, como sucedeu no caso da reaccao ao cartaz do PNR, que se limitou a actos ilegais e 'a piada dos Gatos. Mas como me parece haver subtexto no post, vou andando. Bye
TV Blogo – a tortura em Guantanamo vista tanto pelo prisma da Fox News como por André Azevedo Alves do blogue Insurgente..
Hi there, Carlos. O post não é resposta a nenhum outro post em específico (se fosse faria algum link). É antes uma apreciação a um discurso recorrente, retornado a mais que um blogue português nas últimas semanas, um tanto anti-Oprah, anti-Bono, anti-Clooney, etc.
É verdade, sim, que o show-biz explora as suas próprias idissincrasias, que a crítica/tensão interna ao meio do entretenimento está bem presente, que há activistas mais coerentes e inteligentes que outros. Uma visita isolada dos Black Eyed Peas a Nelson Mandela tem quase nada em comum com a estratégia de lobbying de Leonardo diCaprio e da Green Global relativa a recursos aquíferos. O que quis dizer foi que me parece ser ainda muito prevalente entre opinadores o apoucamento de personalidades interventivas vindas de meios, digamos, não-clássicos (academicos, jornalísticos, jurídicos).
Bye
p.s. Só apanhei a 'Betty Feia' a tempo e horas uma-vez-uma.Ainda não formei opinião.
si puedes visitanos, gracias
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