segunda-feira, junho 04, 2007

Os portugueses são atrasados?

Foi no aeroporto de Lisboa que reparei pela primeira vez no infeliz cartaz de um serviço da Caixa Geral de Depósitos chamado «Oferta Ibérica». A ideia é favorecer a relação entre empresas portuguesas e espanholas permitindo-lhes conhecer melhor o mercado e as particularidades do país vizinho. Uma solução desgraçadamente encontrada foi comparar a «siesta» espanhola com a falta de pontualidade portuguesa. A comparação é não só irritante como até ofensiva.
A sesta é um hábito saudável que os espanhóis tiveram a sabedoria de conservar e partilham com alguns portugueses, principalmente do Sul e do interior. Há estudos científicos provando que a sesta permite ganhos consideráveis de produtividade. A falta de pontualidade, especialmente na «história» do anúncio, significa apenas falta de profissionalismo. Para quem ainda não leu a «tira de banda desenhada», que aparece não só em cartazes como também em páginas inteiras de jornais, devo explicar não se tratar de um «pequeno atraso». O que se vê é um homem de negócios espanhol, com ar sério e uma reunião marcada para as nove e meia. Espera pela chegada do seu interlocutor português das 9.25 às 12.45 para ouvir da secretária: «O Dr. está mesmo a chegar.»
Curiosamente, desta vez, os meus voos ibéricos desmentiram não só o anúncio como experiências minhas anteriores: o voo Lisboa-Barcelona partiu a horas e o Barcelona-Lisboa atrasou-se quarenta minutos. Mesmo que os portugueses fossem sempre menos pontuais do que os espanhóis, justificava-se este exercício de auto-flagelação lusitana? Ou a absurda auto-indulgência de que deviam ser os estrangeiros a adaptarem-se aos nossos atrasos e não nós a esforçarmo-nos por ser mais pontuais? Não seria melhor empregar o dinheiro numa campanha contra a falta de pontualidade? Não deveriam os homens do marketing e da imagem preocupados com a conservação das nossas idiossincrasias concentrarem-se na defesa da petinga, ameaçada pela burocracia de Bruxelas?

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1 Comments:

Blogger R.O. disse...

Um post perfeito sobre o estado de miséria a que chegou a auto-estima portuguesa. Também escolho a defesa da petinga, do leitão, da colher de pau e, já agora, da fruta-que-antes-tinha-sabor. Etc.

9:19 da tarde  

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