segunda-feira, julho 16, 2007

No rescaldo das eleições

As eleições para a câmara municipal de Lisboa são, em termos ideológicos, uma vitória da esquerda e uma derrota da direita e, em termos pessoais, uma vitória de António Costa e de Helena Roseta. Sinalizam também uma grave crise da democracia representativa.
Destes aspectos, o menos focado tem sido o da vitória pessoal de António Costa. Inclusivé pelo próprio, que se limitou a sublinhar que é a primeira vez em 31 anos que o PS ganha sozinho umas eleições municipais em Lisboa e que essa vitória se deu em todas as freguesias. Convém lembrar que é também uma das raras vezes, se não a primeira, que António Costa ganha uma eleições. No início da década de 90 disputou as eleições da Câmara Municipal de Loures e perdeu. Mesmo no interior do PS não creio que tenha ganho muitos sufrágios eleitorais. A sua imagem de credibilidade política foi construída como ministro. Daí não ser tão líquido assim tratar-se de uma «aposta forte» do PS na Câmara Municipal de Lisboa. Rui Ramos atacou precisamente este ponto em artigo de opinião no Público. Seria uma peculiaridade de Portugal e um sinal de debilidade política, que um candidato sem eleições ganhas no seu curriculum fosse considerado «forte». O mérito de António Costa não tem sido enfatizado nas análises. Soube atrair à sua candidatura personalidades relevantes da vida pública que não são do PS: Saldanha Sanches, José Miguel Júdice, etc. Soube reconciliar parte do PS irritado com Sócrates com uma candidatura apoiada por este partido. António Costa é um «animal político» que finalmente encontra o seu habitat natural: um lugar cimeiro conquistado em eleições. Eu sou dos que dá valor ao discurso de Helena Roseta sobre o «espírito cívico». Mas não secundarizo o «espírito político» face ao «cívico». O político não se limita a defender intransigentemente valores – negoceia posições e estabelece compromissos. É esta prática assumida que o liberta de tiques tecnocráticos e autoritários.
Quanto à derrota da direita, Manuel Monteiro tem sido outro aspecto esquecido. É pena. Achei a sua campanha eleitoral patética, ao nível da merda dos cavalos da GNR, sobre a qual gastou generosamente tempo de audiência nos telejornais. Mais uma vez, é instrutivo lembrar que, no final do século passado, Manuel Monteiro foi considerado pelo Expresso «personalidade política do ano». Como veremos o início da liderança do CDS/PP por Manuel Monteiro daqui a uns anos? Monteiro a marioneta de Portas ou Monteiro o precursor de Portas?
A distância temporal talvez nos permita também olhar para este período da liderança da Câmara Municipal de Lisboa por António Costa como um «laboratório» do que será a política nos próximos anos a nível nacional. Se o PS não voltar a ganhar a maioria absoluta, o que teremos? O regresso do bloco central? Uma coligação com a CDU ou o bloco? O caos gerado por desentendimentos permanentes entre todas as forças políticas de esquerda? Comecei por escrever que a esquerda venceu, mas teremos de esperar para saber se não se tratou de uma vitória de Pirro.

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domingo, junho 24, 2007

O que faz falta?

A campanha eleitoral por José Sá Fernandes pôs-se muito a jeito para esta réplica do PNR. Em política, como em tudo o resto, é perigoso subestimar e ignorar adversários. Nada tenho contra Sá Fernandes, com quem simpatizo e já teve o meu voto. A avaliar pela campanha em curso, não o voltará a ter. O novo cartaz em exposição mantém o rumo disparatado em tom sibilino: «Houvesse mais Zés…e teríamos o corredor verde». Há aqui «s» a mais – quatro em três palavras – e uma ridícula indefinição acerca dos outros Zés: quem seriam? – o «Zé» Pinto Coelho, o Zé Pereira, o célebre Zé que aparecia nos discursos de Durão Barroso?
Não ouvi a entrevista de José Pinto Coelho e a notícia da TSF não é nada tranquilizadora. O candidato defende a extinção da GNR e da PSP, que seriam substituídas por outras forças policiais. Sublinhe-se que este é o político que criticou as forças de segurança por terem preso, em Abril passado, 31 «camaradas», 27 dos quais em flagrante delito de posse ilegal de armas de fogo. Como se dizia dos psicanalistas no início do século XX, eles são o mal de que pretendem ser a cura…

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