quinta-feira, julho 31, 2008

Ao cuidado do P(G)R

Deve ser por isto que o PR fala hoje à noite...

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segunda-feira, julho 28, 2008

O Público e o Sporting

Ainda sobre o Sporting, uma boa notícia vinda dos tribunais portugueses. Sobre o Público já nada há a dizer.

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Quer uma táctica ou a mesma táctica?

Ao contrário dos entusiastas, o que vi até agora faz-me lembrar demasiado a época passada...
Na defesa, incluindo baliza, a única boa novidade pode vir a ser o novo Ricardo, vindo de Inglaterra. O resto é desolador: os centrais nunca serão de fiar com Polga a titular e o miúdo Carriço é tão verde que devia rodar nem digo na I Liga, mas talvez na II; as laterais estão na mesma e Caneira até já vai no meio campo, tornando-se cada vez mais ambígua a sua função - em contrapartida continua a estar em todas as escaramuças...
No meio campo, e para não sairmos de «craques experientes», Roca está na mesma, ou seja, irregular (já não bastavam Izmailov e Vukcevic). Moutinho e Veloso são dois problemas, veremos se bem geridos. Adrien continua a ser segunda escolha (se não terceira...), enquanto nulidades como Romagnoli, o nº10 de menor rendimento a jogar em Portugal, tem sucessivas oportunidades. Ao menos o Pontus foi para casa...
Mas, para não nos ficarmos a rir, numa equipa que tem o Polga a liderar a defesa e o Romagnoli a pensar o jogo, a sad (sad,sad,sad) entendeu por bem contratar Postiga. Que tem mostrado tudo o que não vale. Felizmente,mesmo a falhar os remates como aconteceu ontem a ambos, Djaló e Derlei são menos maus e já o puseram a fazer companhia ao Bonifácio Tiui. Mas nem sempre se apanha pela frente defesas tão más como Luisão e Edcarlos cobertos por Binya...
Continuamos a ser roubados (Luisão e Binia ontem não foram expulsos, e ainda falta o David Luiz) e o que faz o treinador mais previsível de Portugal? Depois de uma época a ser criticado por jogar sempre do mesmo modo, desenvolveu uma táctica alternativa ao seu meio campo em diamante. Qual? O meio campo clássico... Ou seja: quando o 4-4-2 não resultar, muda-se para o 4-4-2.
No banco, os jogadores são basicamente iguais aos que estão em campo (quase sem excepção).
Talvez ganhemos a Taça da Liga e o Campeonato, se o FCP deixar de ter a protecção dos árbitros. Já não seria nada mau.

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sexta-feira, julho 25, 2008

Science wars à portuguesa

Esta notícia refere-se a um mito que existe na cabeça do director do Público, por motivação puramente facciosa. Em 2006, o primeiro post meu no Esplanar referia-se a um editorial de J. M. Fernandes, «assassinato em Harvard», segundo o qual o antigo Reitor daquela Universidade teria sido sacrificado por, entre outras ideias, questionar se existiria uma causa genética que explicasse a diferença de resultados escolares em ciências (naturais) entre alunos e alunas. Não houvera assassinato algum, claro, mas qualquer pretexto era (é) bom contra o politicamente correcto e o pedagógico... Pelos vistos, esse pretexto era apenas «mito», embora não se saiba quem tenha levado isso a sério, excepto Fernandes e Companhia... Infelizmente não há link na notícia do Público para esse maravilhoso editorial. Um pouco (pior) como a opção que dá (dava?) a edição online para dizermos se achamos os artigos interessantes sem a correspondente opção de serem desinteressantes - este, por exemplo, termina com dois parágrafos anedóticos...

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Até Setembro

Múltiplos afazeres têm impedido a minha participação no blogue. Vou de férias. Preciso mesmo de descansar.
Venho apenas aqui desejar a todos os amigos e aos estimados leitores umas boas férias.
Em Setembro espero trazer ânimo ao povo!
Até logo.

quarta-feira, julho 23, 2008

Inquietante estranheza

Engraçado, como coisas tão formais e com tantas consequências passam quase despercebidas...
P.S. Nada a ver, mas tem piada e inclui referência ao melhor filme de todos os tempos...

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segunda-feira, julho 21, 2008

To be silly season or not to be

Uma discussão séria (que até já passou por este blog de forma menos interessante), aqui.
Discussões menos sérias mas nem por isso menos apetecíveis, aqui.

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domingo, julho 20, 2008

Almanaque do Povo

Is Google making us stupid?: Nicholas Carr questiona na Atlantic a forma como a internet está a alterar, entre outras, a nossa capacidade de ler.

Newsmap: Para quem ainda não conhece, eis o NewsMap (uma aplicação feita a partir do agregador de notícias do Google) - giro e prático, digo eu.

Férias: quem anda em ânsias de viagem, que tal começar por uma volta pelo Travelblog?

Perspectivas: O 'quadro de honra' do photobloggers.org dá a conhecer os fotógrafos amadores e profissionais que vão chegando à bloga e se vão destacando entre a comunidade. Do lote, destacaria o Treeswing e o Smudo.

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terça-feira, julho 15, 2008

aaaah....

E por falar em silly season... se fizessem um estudo ao cérebro dos pais chegavam a conclusões muito diversas... mas não há vazio de Verão que não traga este género de «descobertas»...

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Direito à indignação (V)

Tanto barulho em torno da censura do Expresso a uma colaboradora sua a pretexto da defesa do bom nome do seu colunista Sousa Tavares e agora tanto silêncio face a um ataque ad hominem do mesmo colunista a Manuel Maria Carrilho, feito de óbvias mentiras e insultos...
Tanta repulsa pelas comparações do Bastonário da Ordem dos Advogados entre agentes da justiça de hoje e a PIDE, depois de tanta passividade com os insultos de fascista, etc. a dirigentes políticos democráticos...
Se fosse só a silly season...

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segunda-feira, julho 14, 2008

Geremek 1932-2008 (historiador - polaco - europeu)


Bronislaw Geremek morreu num acidente de automóvel ontem.
Fica-nos o seu trabalho como um grande historiador da Idade Média, e um pioneiro dos estudos da marginalidade.
Fica-nos também o testemunho de uma vida de empenho cívico por uma Polónia livre numa Europa cada vez mais unida.

Demitiu-se do PC polaco em 1968 em protesto pela repressão da Primavera de Praga. Foi um dos líderes do Solidariedade, e como todo o bom amante da liberdade num regime autoritário acabou na cadeia, preso pelo regime comunista polaco. Foi depois um dos líderes da transição pacífica polaca, e um dos principais defensores integração da Polónia na UE, onde rapidamente se tornou uma figura referência, ultimamente no Parlamento Europeu e no Colégio da Europa, onde continuava a dar aulas.
Da última vez que esteve em Portugal, numa conferência do IEEI, lembrou que falar de democracia liberal, nunca é - e sobretudo à escala da Europa nunca poderá ser - remeter para a simples vontade da maioria. Há uma virtude democrática e liberal na negociação e no compromisso que merece ser sublinhada e que é indispensável numa Europa unida. Não se opunha a priori aos referendos como um dos instrumentos de legitimação democrática, mas para fazerem sentido a respeito da UE deveriam ser à escala europeia.

De um sentido de humor cortante, respondeu à propaganda demogógica pelo «Não» no último referendo europeu em França, que apontava para a alegada concorrência desleal dos canalizadores polacos como um dos exemplos dos malefícios da União (cito de memória): Deve ser para França que eles foram, que nós na Polónia não conseguimos encontrar um canalizador quando precisamos!

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Fascismo Sempre Mais?

Creio que eu e o Carlos, assim como outros intervenientes no debate, estamos de acordo no essencial: vale a pena continuar a debater o eventual Fascismo de Salazar. O ponto essencial para mim é que não creio que isso se consiga se o debate for dominado por acusações de branqueamento do fascismo.
Mas serve sobretudo este poste para chamar a atenção para um texto bem interessante de um historiador que muito admiro, Richard J. Evans que começa assim:

Um passagem que ilustra bem, no concreto, as diferenças entre o totalitarismo activo do Terceiro Reich e o Portugal de Salazar.


Serve ainda o presente poste para lembrar que nem todas as fontes e nem todos os actores têm o mesmo peso. O Conde de Tovar podia pensar e escrever (mal) que o regime salazarista e nazi tinham tudo em comum. Mas é certamente bem mais importante saber o que pensava e dizia Salazar, inclusive em discursos públicos, como este, em Setembro de 1939, sobre a «A Europa e a Guerra», em que define a política externa portuguesa no início do conflito. Nele fica claro o que Salazar pensa sobre alinhamentos ideológicos em política externa:

algumas pessoas as preocupa, sobretudo, saber as consequências que da guerra advirão para as democracias ou para os regimes de autoridade, e por aí determinam os seus íntimos desejos. […] foi bem dura a experiência de se complicarem os problemas da vida internacional com a formação de blocos ideológicos e com prevenções acerca dos regimes internos dos Estados, e seria desesperar da salvação reincidirem no erro os mesmo que lhe sofreram os efeitos e penosamente se estão a curar deles. «A Europa e a Guerra», Discurso Salazar na AN (9.10.1939)

Claro que tudo isto se pode e deve debater e rever até na medida em que haja novos documentos e novos argumentos de peso, mas o do branqueamento não está certamente entre eles.

domingo, julho 13, 2008

Paz musculada


Isolado mas cada vez mais determinado: assim parecia Robert Mugabe até ao veto da Rússia e da China à resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que previa sanções ao regime de Harare e aos seus dirigentes.
Na sequência da violência e das irregularidades que marcaram a eleição presidencial, teria o veto acontecido porque, como Mugabe ameaçou, ele seria o caminho para a guerra civil? A Rússia, por exemplo, que tinha prometido na reunião do G8 apoiar a iniciativa, deu o dito por não dito, considerando depois da ameaça que as sanções seriam um precedente perigoso nos assuntos internos de um país e um obstáculo ao diálogo.
A estratégia da não interferência, se bem que consignada pela ONU, é envolvida numa atmosfera coerciva que, possivelmente, ultrapassou as melhores expectativas do ditador: imagino que Mugabe para além de se ter sentido apoiado, sentiu-se legitimado na sua acção governativa. O governo de Harare agradeceu o bloqueio da resolução e Mugabe voltou à normalidade, como presidente, depois de eleições consideradas fraudulentas pela oposição e pela comunidade internacional. Com a fragilidade europeia bem patenteada, o apaziguamento no Zimbabué continua longe... possivelmente mais longe ainda depois do veto da ONU, avizinhando-se uma paz cada vez mais musculada.

Almanaque do Povo


13 de Julho, 1958-2008: João Miguel Almeida, Luís Salgado de Matos e D. Januário Torgal Ferreira revisitaram num especial TSF, com Manuel Vilas Boas, o pensamento e acção de D. António Ferreira Gomes (1906-1989), bispo do Porto. Por mote tiveram o quinquagésimo aniversário da carta pró-memória endereçada pelo prelado a Oliveira Salazar, após as eleições presidenciais de 1958. Vale a pena escutar as diferentes perspectivas dos intervenientes acerca do contexto, conteúdo e consequências desse documento.

Mais um converso: Patrick Goldstein, jornalista do L. A. Times e anterior cruzado anti-bloga, criou há umas semanas o seu [via bloggersblog].

Como fazer um ar normal: Um mês antes do início dos Jogos Olímpicos, James Reynolds testou a qualidade do ar pequinense numa das zonas onde decorrerão provas desportivas. Resultados e prognósticos aqui.

sexta-feira, julho 11, 2008

Há silêncios que gritam

Se fosse George W. Bush a dizer que usaria todos os meios ao seu alcance contra o Irão, entre várias outras pérolas recentes, o que não iria por aí... Mas sendo o messiânico Obama, como é da boa ordem da duplicidade, nada. Acabado o circuito das 'primárias', tudo em sossego até Outubro. E, entretanto, os democratas lá vão suportando o político mais vazio desde, ora vejamos, sim, desde W. Bush. Aqui o ditado funciona ao contrário: atrás de mim veio quem bom de mim faz. As recentes declarações de Bill Clinton e de Jesse Jackson (sem colocar o primeiro ma fasquia de falta de relevância do segundo, claro), ilustram bem como as coisas estão mal, e como a hipotética vitória as não pode resolver só por si. Mas os obamitas por agora ainda estão muito satisfeitos.

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quinta-feira, julho 10, 2008

Um link com gosto

Até por algumas divergências que seria inoportuno desenvolver aqui. Esta Nova Águia cumpre com quem teve papel de relevo em A Águia de outros tempos.

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Da nudez

As palavras de Henrique Medina Carreira no Jornal da Noite de ontem, na SIC, representam porventura o retrato mais cru que já ouvi sobre o governo de José Sócrates e sobre a democracia portuguesa. Entre algum excessivo pessimismo do restante discurso, pareceram-me muito justas as críticas à comunicação social: "Essa palhaçada que vocês me levam a casa todos os dias". Isto demonstra bem o espírito acrítico e comercialista do jornalismo português o qual, salvo raras excepções, contribui em muito para o comodismo e para a futilidade do pensamento actual sobre a realidade do país. Ao ouvir as suas palavras, dei por mim a pensar que nunca tinha visto certas coisas dessa forma. Independentemente de concordar com Medina Carreira, as suas declarações acrescentam algo à minha reflexão, fenómeno bem diverso dos telejornais que vejo quase todos os dias.

quarta-feira, julho 09, 2008

Caiu-me bem mal, a erva

de cónegos, leitor zeloso, de cónegos (ou como se lê por aí agora, à espanholesa, 'canónigos'), ontem ao almoço. Ainda assim, à vista desarmada não dei por engolir um brinde destes.

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A política explicada ao povo e aos seus amigos...

De quem é o seguinte programa político?
[Dar] «uma grande atenção às reformas orçamental, fiscal, bancária e monetária, considerando a primeira – a reforma orçamental – um dos primeiros pontos de partida, norteada pela necessidade indispensável de dar um corte fundo nos actuais encargos do Estado, pela redução do funcionalismo civil e militar e pela reorganização geral da administração pública, abrindo novos campos de acção produtiva, para todos aqueles que tenham de sair dos quadros.»
Respostas para a caixa de comentários, sff.

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terça-feira, julho 08, 2008

[Divulgação]

O sexto e último dos Colóquios CRC 2007/2008 ocorrerá mais logo, pelas 18:3oh, no auditório do Centro Nacional de Cultura (Largo do Picadeiro, nº 10, 1º, Lisboa - Metro Baixa-Chiado). A conversa acontecerá em torno da obra A Oposição Católica ao Estado Novo, 1958-1974, de um dos nossos eméritos Amigos do Povo, o João Miguel Almeida, com a sua participação, a de Fernando Rosas e de Guilherme d'Oliveira Martins. A entrada é livre.

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segunda-feira, julho 07, 2008

Resposta a Bruno Cardoso Reis

Como foi instigado por mim que o Bruno resolveu voltar, aqui ficam comentários ao seu post, ponto por ponto:
Creio que quando Loff diz que não se deve branquear se refere ao mesmo que há dois anos eu falava em termos de «rever». Claro que na História os conceitos têm de ser discutidos, a questão é se isso é feito em blogs e jornais (mesmo que em textos escritos por historiadores), coisa que habitualmente não se faz. Já a questão de o termo «fascismo» ser um insulto, deve merecer atenção, pois é um significado que não deve ser ignorado em nome de rigor, antes incluído numa análise rigorosa.
Os «activistas», quem são? António José de Brito? Loff chama-lhe fascista, quando ele é, sim, integralista. É um erro de Loff, acho, mas a nota do Bruno também não especifica.
Claro que o fascismo português é problemático, isso já ficou por aqui dito há um par de anos. E claro que tem de ser discutido. Agora, essa do «Salazar prendeu fascistas»... então e a noite das facas longas, faz de Hitler um anti-nazi?
Concordo inteiramente que a referência ao Conde de Tovar não prova nada. Havia vários partidos na diplomacia portuguesa e o germanófilo era muito influente.
Quanto ao resto, fundamentalmente de acordo.

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sábado, julho 05, 2008

A singularidade lusa

Sem a ambição de querer retratar o país real, coisa que aqui já foi feita pelo Jorge, este post pretende tão somente recordar momentos esquecidos e, também eles, parte da nossa portugalidade. Recostem-se e apreciem: convosco Julio Miguel e Lêninha com o tema "O Filho do Recluso".

sexta-feira, julho 04, 2008

Este 4 de Julho


A imagem vem do espólio de Adolfo Casais Monteiro na BN, este post vem do Porto, onde a Faculdade de Letras lhe dedica um colóquio no dia do seu nascimento, há 100 anos. A BN organiza uma mostra do espólio a abrir em Setembro, enquanto a INCM continua a publicar as suas obras completas. Boas notícias num dia tristonho...

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quinta-feira, julho 03, 2008

Branquear ou Não Branquear? Eis uma falsa questão


A historian must not hesitate if his books lend aid and comfort to the Queen's enemies [...] or even the common enemies of mankind. For my part I would even record facts which told in favour of the British government if I had find any to record (goak again).
AJP Taylor, The Origins of the Second World War. (London : Penguin, 1991 [1963]).*

O livro do Manuel Loff que resultou nesta entrevista ao DN que o Carlos Leone me desafiou a comentar terá certamente (até pelo tamanho) alguns pontos de valor. Na entrevista ao DN, no entanto, Loff cai numa série de equívocos que se podem resumir no tipo de abordagem nacionalista ou progressista à história que Taylor critica.

O primeiro equívoco de Loff é o de que o historiador não deve branquear o regime fascista de Salazar. Ora, essa não é uma questão que se deva sequer colocar.

Se o conceito de fascismo é para ser usado como insulto político então, nesse sentido pejorativo, não tem lugar na história. Se é para ter alguma utilidade analítico, então os historiadores, politólogos, e cientistas sociais vários, devem ter toda a liberdade para discutir que sentido dão ao conceito de fascismo, e se é operacional a sua aplicação ao regime de Salazar (no todo ou em parte).

Loff cita na entrevista autores que são activistas políticos (e não historiadores) e que dizem que Salazar não é fascista, mas não para o branquear ou absolver (como o próprio Loff diz adiante) e sim para criticar Salazar. Ou seja, consideram que Salazar devia ser/ter sido fascista! Portanto, não vejo o que esta referência adiante ao argumento.

Salazar é, aparentemente, um fascista que nunca (como Loff acaba por deixar claro) afirmou sê-lo. Um fascista que não só prende fascistas, mas, sobretudo, acaba com o partido fascista (Nacional-Sindicalista) que existia em Portugal. É, no mínimo, um fascista problemático. Mas aparentemente não se pode problematizar. Não se pode chegar a outra conclusão que não seja que Salazar é fascista, se não branqueamos o ditador!

Finalmente, Loff refere como umas das grandes provas esquecidas de que Salazar era mesmo fascista um ofício de 1941 do Conde de Tovar (representante diplomático portugês na Berlim de Hitler), que a dada altura afirma que não há dois regimes mais semelhantes na Europa do que o Estado Novo e o III Reich!

Esta "prova" parece-me, pelo contrário, evidência dos problemas que a que este tipo de lógica de branqueamento e anti-branqueamento leva: a do historiador transformado em advogado de acusação, a quem apenas interessa arranjar declarações incriminatórias. Tovar diz isso? E então? Isso só mostra que trabalhava para aproximar Portugal e a Alemanha. Pode um historiador simplesmente tomar à letra um tal ofício, quando ele é tão manifestamente falso? Algum historiador pode afirmar seriamente que o Estado Novo era, em 1941, o regime mais próximo que havia na Europa ao III Reich?

Mais uma vez a implicação da entrevista de Manuel Loff parece ser que quem se atreva a levantar estas pequenas questões está a branquear o Estado Novo.

Toda esta discussão me parece deslocada. Não creio que haja algum historiador do Estado Novo que rejeite a ideia de que Salazar foi um ditador, fundador e líder de um regime autoritário e repressivo. Está-se a criar uma falsa questão.

Até admito que haja aqui boas intenções. No entanto, a ser assim, elas confundem duas coisas fundamentalmente distintas. O trabalho político de formação de cidadãos, que incluirá uma certa memória valorativa do passado, selectiva e até militante. E o trabalho da história, que no campo da memória deve apenas preocupar-se com a divulgação científica de qualidade.

O contributo da história para a democracia – e apenas por arrastamento feliz - será o de formar pessoas com uma boa consciência crítica, bem informados, habituados a conviver com a complexidade. A história não deve estar ao serviço de nada, nem de ninguém, nem sequer das boas causas (isso fica para a doutrinação ou a hagiografia ou a propaganda, todas elas perfeitamente legítimas no seu campo.) O historiador não deve branquear, nem escurecer.

* Claro que o próprio Taylor pode ser criticado por ter violado princípios do rigor crítico em nome de teses preconcebidas e de frases bem esgalhadas (nomeadamente no próprio Origins). Mas essas são críticas justificadas: a par de análise arrojadas Taylor embarca em contradições insanáveis e omissões inexplicáveis. As críticas que lhe foram feitas e a que ele aqui responde - de querer branquear Hitler -, essas não faziam nenhum sentido. (Aliás, é sempre mais fácil dar um bom conselho do que segui-lo.)

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Sin un solo tiro


Ingrid e outros catorze reféns estão livres. Todos os que tão críticos foram do voto público feito há mais de um ano por Alvaro Uribe (incluindo altos dignitários e a própria família de Betancourt) saúdam agora a operação militar acontecida. De registar, também, a diferença da postura mediática daquele, por comparação com Sarkozy. Mas quem já perdeu tanto quanto Uribe para as FARC sabe como são fátuas quaisquer declarações de vitória.

quarta-feira, julho 02, 2008

Guillul, Cruz e Stevens

O que é que três músicos que surgem no singular têm em comum, para além da banal constatação ou lugar-comum de chamar-lhes "songwriters" ou "cantautores"? Sigo os três há já algum tempo e agora encontro, de súbito, uma afinidade curiosa.
Mas vejamos. Manel Cruz, membro dos Ornatos Violeta, Pluto, Supernada, é um cérebro musical raro, com uma rara capacidade para escrever rock em português. Os seus momentos de ausência musical são sempre lamentados. Tiago Guillul=Cavaco dispensa apresentações na blogosfera. Recuso a ideia de lhe chamar um pastor baptista que toca rock. Ser Baptista e ser Punk ou Rock é nele uma fusão que não admite etiquetas apressadas de jornalistas surpreendidos com música de "matriz protestante" (como se isso pudesse existir), o que, para quem não conheceu a famosa cave de Queluz, pode de facto ser algo novo. Sufjan Stevens, o rapaz de Detroit que quer escrever um álbum inspirado em cada estado americano, podia ser português, ter sotaque do Norte e falar sobre a Boa-Nova de Cristo ao Domingo. Estas três almas pairam sobre nós, os que gostamos de música, como homens que respiram aquilo que fazem. Em álbuns imensos, com faixas intermináveis, estão expirações curtas e longas de uma variedade de instrumentos, influências e colaboradores que estilhaçam as fronteiras do rock ou do folk. Estes três artistas reinventam a cada novo projecto e trabalho aquilo que nos querem dizer. É por isso que me comovo ao ouvir o Tiago na "Canção para o Rodrigo" dos X-Acto, na Antena 3, a coragem do Manel Cruz em reproduzir numa faixa esse som eterno da nossa cultura rural - o som da Casal Boss - ou o Sufjan Stevens em cima de uma cerca, com um banjo, a cantar enquanto o gado vai serenamente passando. Confiram aqui se isto não podia ser nas hortas ao pé do IC19 ou numa qualquer Quinta do Douro!