Creio que eu e o
Carlos, assim como outros intervenientes no debate, estamos de acordo no essencial: vale a pena continuar a debater o eventual Fascismo de Salazar. O ponto essencial para mim é que não creio que isso se consiga se o debate for dominado por acusações de branqueamento do fascismo.
Mas serve sobretudo este poste para chamar a atenção para um texto bem interessante de um historiador que muito admiro, Richard J. Evans que começa assim:
Um passagem que ilustra bem, no concreto, as diferenças entre o totalitarismo activo do Terceiro Reich e o Portugal de Salazar.
Serve ainda o presente poste para lembrar que nem todas as fontes e nem todos os actores têm o mesmo peso. O Conde de Tovar podia pensar e escrever (mal) que o regime salazarista e nazi tinham tudo em comum. Mas é certamente bem mais importante saber o que pensava e dizia Salazar, inclusive em discursos públicos, como este, em Setembro de 1939, sobre a «A Europa e a Guerra», em que define a política externa portuguesa no início do conflito. Nele fica claro o que Salazar pensa sobre alinhamentos ideológicos em política externa:
algumas pessoas as preocupa, sobretudo, saber as consequências que da guerra advirão para as democracias ou para os regimes de autoridade, e por aí determinam os seus íntimos desejos. […] foi bem dura a experiência de se complicarem os problemas da vida internacional com a formação de blocos ideológicos e com prevenções acerca dos regimes internos dos Estados, e seria desesperar da salvação reincidirem no erro os mesmo que lhe sofreram os efeitos e penosamente se estão a curar deles. «A Europa e a Guerra», Discurso Salazar na AN (9.10.1939)
Claro que tudo isto se pode e deve debater e rever até na medida em que haja novos documentos e novos argumentos de peso, mas o do branqueamento não está certamente entre eles.
4 Comments:
Bom, quanto ao «Fascismo de Salazar», claro que ele não era fascista. O regime Estado Novo é que foi Fascista (adaptado à realidade portuguesa). Claro que não foi tão totalitário como a Alemanha de Hitler, mas isso ajuda quem teve de se exilar, quem foi torurado, quem foi morto? Aqui também estamos de acordo, claro.
Caro Carlos
A questão (do ponto de vista da história) quando se compara ditaduras, e, entre outras coisas e inevitavelmente, graus de repressão, não é, nem pode ser "o que é isso vale às vítimas?" Se o historiador está preocupado com ofender as vítimas de um passado frequentemente sangrento e injusto então não pode fazer história. O cidadão pode fazer as denúncias que entender, sendo que elas serão tanto mais eficazes quanto assentes em factos (daí a história lhe poder ser, afinal, útil).
Salazar não é fascista, mas o seu regime é? Ideia interessante, mas com a qual estou em desacordo. O Estado Novo era um regime de poder pessoal de Salazar. E Salazar queria fazer a convergência dos nacionalistas dispostos a aceitar a sua autoridade, viessem de onde vissem. Era isso que Rolão Preto e os fascistas puristas do movimento Nacional-Sindicalista não aceitavam, evocando o exemplo totalitário de Mussolini e Hitler. Foi por isso que Salazar acabou com os Nacional-Sindicalistas como partido, como aliás como com todos os partidos organizados.
Mas enfim, como dizia em cima, temos aqui pano para mangas...
Bruno C Reis
temos panos para mangas no teu primeiro parágrafo, sobretudo. O segundo limita-se a não se interessar pelo parêntesis no meu comentário.
De acordo que o debate historiográfico não pode ter tabus.
Mas uma questão subjacente a este mini-debate é saber se a política externa de um regime é suficiente para o caracterizar de um ponto de vista ideológico. Do meu ponto de vista não é. Há interesses geo-estratégicos que se sobrepõem a critérios ideológicos e políticas externas que se mantêm relativamente constantes ao longo de diversos regimes. Mesmo que o Estado Novo tivesse uma simpatia maior pelo nazismo do que aquela que tinha não seria fácil ao regime descartar/desprezar a aliança com a Inglaterra.
Fernando Rosas não pensa que Salazar «torcesse» por uma vitória da Alemanha nazi ou das potências do Eixo em geral e considera que o Estado Novo era um regime fascista, adoptando um conceito genérico de fascismo que não nega as diferenças entre o regime português e o italiano no período entre as duas grandes guerras.
O socialismo democrático português também é muito diferente da social-democracia sueca apesar de pertencerem à mesma família ideológica, etc.
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