quarta-feira, julho 02, 2008

Guillul, Cruz e Stevens

O que é que três músicos que surgem no singular têm em comum, para além da banal constatação ou lugar-comum de chamar-lhes "songwriters" ou "cantautores"? Sigo os três há já algum tempo e agora encontro, de súbito, uma afinidade curiosa.
Mas vejamos. Manel Cruz, membro dos Ornatos Violeta, Pluto, Supernada, é um cérebro musical raro, com uma rara capacidade para escrever rock em português. Os seus momentos de ausência musical são sempre lamentados. Tiago Guillul=Cavaco dispensa apresentações na blogosfera. Recuso a ideia de lhe chamar um pastor baptista que toca rock. Ser Baptista e ser Punk ou Rock é nele uma fusão que não admite etiquetas apressadas de jornalistas surpreendidos com música de "matriz protestante" (como se isso pudesse existir), o que, para quem não conheceu a famosa cave de Queluz, pode de facto ser algo novo. Sufjan Stevens, o rapaz de Detroit que quer escrever um álbum inspirado em cada estado americano, podia ser português, ter sotaque do Norte e falar sobre a Boa-Nova de Cristo ao Domingo. Estas três almas pairam sobre nós, os que gostamos de música, como homens que respiram aquilo que fazem. Em álbuns imensos, com faixas intermináveis, estão expirações curtas e longas de uma variedade de instrumentos, influências e colaboradores que estilhaçam as fronteiras do rock ou do folk. Estes três artistas reinventam a cada novo projecto e trabalho aquilo que nos querem dizer. É por isso que me comovo ao ouvir o Tiago na "Canção para o Rodrigo" dos X-Acto, na Antena 3, a coragem do Manel Cruz em reproduzir numa faixa esse som eterno da nossa cultura rural - o som da Casal Boss - ou o Sufjan Stevens em cima de uma cerca, com um banjo, a cantar enquanto o gado vai serenamente passando. Confiram aqui se isto não podia ser nas hortas ao pé do IC19 ou numa qualquer Quinta do Douro!

1 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

É por postes como este que por vezes amigo do povo é a sério.

Bruno C Reis

11:26 da manhã  

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