Confirmei com os meus próprios olhos que a simples eleição de Obama não levou, para já, a mudanças revolucionárias nos States.
Felizmente em alguns casos. Graças a Deus ainda há magníficos coros nas missas de Domingo, e french toasts para o pequeno-almoço, que não se fazem melhor em sítio nenhum (nem mesmo em França).
Infelizmente, provando que não há milagres em política, a equipa Obama - talvez levada pela sempre temorosa hybris da vitória - cometeu alguns erros nas nomeações para o seu gabinete. O suposto "Czar da Saúde", e antigo líder dos democratas no senado,
Tom Daschle, foi uma baixa importante. A reforma da política de saúde é um problema prioritário para a sanidade dos EUA e ele seria a pessoa ideal para a fazer passar pelo Congresso. Ideal se, como se veio a descobrir, não tivesse deixado uma quantia significativa de impostos por pagar.
Erros todos cometemos, mas a política americana é particularmente implacável e este tipo de coisa é geralmente fatal. (Apesar disso o Secretário do Tesouro, beneficiando ainda do capital político de Obama e do pânico da crise, foi confirmado pelo Senado).
Politicamente estes problemas fiscais da nova equipa Obama deram oportunidade - mais uma prova de que não há milagres em política - aos Republicanos para começar a contra-atacar dizendo que os Democratas querem sempre subir os impostos (apenas os dos mais ricos, mas isso é esquecido) por que não tencionam pagá-los! O humorista democrata
Bill Maher juntou-se à festa dizendo que Obama aparentemente não conhecia ninguém que tivesse pagos os seus impostos!
Mas a verdade é que uma certa mudança nas mentalidades é visível: o Estado deixou de ser visto tanto como o inimigo, e mais como uma alomofada necessária para amortecer a crise.
Mas para isso resultar numa mudança real e duradoira é necessário saber aproveitar politicamente o momento de forma inteligente, pragmática, e que dê resultados práticos, reformando o Estado para o tornar mais eficaz (o Wilson Quarterly faz um dossier precisamente em torno deste tema, perguntando muito americanamente:
Must Government Be Incompetent?).
Em suma trata-se de retomar os esforços progressista da Terceira Via que afinal a
Newsweek (e muitos orfãos do marxismo-leninismo, mais uma vez) tinham precocemente enterrado. O tema de capa aqui há uns meses era o fim da social-democracia na Europa. (A hybris também existe na análise e na imprensa, não é exclusivo da política). Agora a mesma revista afirma na capa que afinal todos - graças a Obama e à crise - nos estamos a tornar socialistas!
Para além desta ainda frágil possibilidade de mudança substancial, é notável também na sempre reveladora publicidade o peso dos anúncios de recrutamento para as forças armadas. E vem de par do anúncio que qualquer residente legal nos EUA ao fim de dois anos pode passar a ser recrutado e ganhar a cidadania em seis meses. As legiões da nova Roma a imitar a antiga? Notáveis ainda pela quantidade os anúncios a empresas de renegociação da dívida.
Os EUA de Obama, como os de Bush, precisam de mais soldados e de menos dívida. Veremos como Obama e o seu pacote recém aprovado pelo Congresso (quase sem apoio dos Republicanos) enfrenta o desafio. Está no ar (hybris?) a ideia de que este momento de crise pode dar aos Democratas a possibilidade de repetir o feito de
FDR (o Roosevelt do
New Deal - fala-se recorrentemente de um New New Deal) e reconfigurar a paisagem política americana duradoramente em seu favor. Um outro paralelo possível, que ninguém quer recordar, no entanto, é o reformismo do presidente Lyndon Johnson que acabou afogado em sangue nas selvas no Vietname. Esperemos que - graças aos talentos de
Hoolbrooke e Petraeus - o mesmo não suceda com Obama nas montanhas agrestes do Afeganistão.
Etiquetas: Obama; Presidenciais 2008 EUA