Nisso creio que todos estão de acordo - vive-se uma hora decisiva para o PS.
O PS tem de fazer mea culpa e virar à esquerda? Muitos parecem acreditar na bondade dessa tese. Mas virar a qual esquerda? Virar para a extrema esquerda? Só se se quiser trair em princípio e suicidar-se politicamente, seguindo a via do PS francês de que se balcanizou irremediavelmente nos últimos anos. Se o fizer, o PS perderá os que apoiam as reformas, sem ganhar os que se lhe opõem.
Sócrates poderá mostrar humildade? Pode. Simplesmente afirmando que se submeterá à decisão popular. Coerência não é necessariamente arrogância ou cegueira, pode ser simplesmente sincera crença que se está a fazer o melhor para o país.
Quem perde em nome de princípios, nunca perde completamente. Quem se perde em taticismos perde muitas vezes duplamente. Finta tanto que se finta a si mesmo.
Sócrates poderá e deverá perguntar: qual é a alternativa de governo numa altura em que para manter o rating da dívida externa e captar investimento estrangeiro é essencial garantir governabilidade e previsibilidade? PSD e o CDS não parecem chegar para formar governo. E alguém acredita seriamente no Bloco ou PCP actuais (que pedem a nacionalização dos sectores essenciais da economia e a saída da NATO) como partidos de governo? Nada tenho contra um bloco central... reformista, mas temo bem um bloco total imobilista do PCP ao CDS.
A crise exige decisões difíceis. Mas sobretudo exige uma visão de futuro, nem que seja um Hollywood no Algarve e um Sillicon Valley em Paredes de Coura. Outros gozarão, o PS deverá tentar fazer mais e melhor se quiser ter hipóteses de continuar a governar. Um porto ibérico em Sines, comboios do século XXI para o século XXI e um novo aeroporto para novos turistas e novos clientes para a TAP. Uma aposta em mais investigação aplicada e melhor design e marketing, com parcerias público-privadas se necessário.
A questão não deve ser fazer contas impossíveis sobre rendibilidade futura de grandes projectos, mas fazer tudo para cumprir orçamentos e fazer render ao máximo o que se fizer.
Os riscos são grandes para o PS e para Sócrates, mas numa nota mais optimista para os socialistas parece que a Internacional Socialista ainda não está a pensar expulsar o PS e convidar o Bloco (nem mesmo o CSD/PP de Nuno Melo). E ninguém se tem lembrado de acusar o PS de não cumprir o seu programa eleitoral. Afinal, será que cumpre até demais?
Etiquetas: País das Maravilhas