
Miguel Cadilhe sempre teve uma relação tensa e complicada com a comunicação social. Nos tempos em que era ministro do actual Presidente da República, foi atacado à má fila pelo
Independente de Paulo Portas. Processou o semanário e ganhou a querela em tribunal. O povo reteve o «escândalo» em torno do apartamento nas Amoreiras, mas nem se apercebeu do resultado do processo. Agora o conhecido empresário, economista e político candidatou-se a Presidente do Conselho de Administração do BCP e perdeu por 97,7 por cento do apoio do capital representado na assembleia geral. Os números não inibiram o
Público de apresentar Cadilhe como um dos vencedores da votação.
Em volta dos factos teceram-se os mais extraordinários enredos. Uma forma de ver a história era que Miguel Cadilhe representava a iniciativa privada contra uma lista protagonizada por gestores vindos da Caixa Geral de Depósitos. Como se Cadilhe não tivesse sido um bom gestor público na qualidade de Presidente da Administração do Grupo BFE.
Outro modo de construir a narrativa jornalística foi pintar a lista de Cadilhe com as cores vivas da sociedade civil e a lista de Santos Ferreira com as cores sinistras de um partido político. Como se Cadilhe não tivesse sido ministro de Cavaco Silva e Bagão Félix ministro de Pedro Santana Lopes.
Valha-nos não ter surgido no espaço público a tese conspirativa de que o pessoal de Lisboa se entendeu, da maçonaria ao Opus Dei, para tramar um homem do Norte.
A ilação a tirar deste episódio do capitalismo português talvez seja afinal singelo: é mais fácil um banqueiro fazer dois ou três jornais do que dois ou três jornais fazerem um banqueiro.