É mais fácil...
Em volta dos factos teceram-se os mais extraordinários enredos. Uma forma de ver a história era que Miguel Cadilhe representava a iniciativa privada contra uma lista protagonizada por gestores vindos da Caixa Geral de Depósitos. Como se Cadilhe não tivesse sido um bom gestor público na qualidade de Presidente da Administração do Grupo BFE.
Outro modo de construir a narrativa jornalística foi pintar a lista de Cadilhe com as cores vivas da sociedade civil e a lista de Santos Ferreira com as cores sinistras de um partido político. Como se Cadilhe não tivesse sido ministro de Cavaco Silva e Bagão Félix ministro de Pedro Santana Lopes.
Valha-nos não ter surgido no espaço público a tese conspirativa de que o pessoal de Lisboa se entendeu, da maçonaria ao Opus Dei, para tramar um homem do Norte.
A ilação a tirar deste episódio do capitalismo português talvez seja afinal singelo: é mais fácil um banqueiro fazer dois ou três jornais do que dois ou três jornais fazerem um banqueiro.
Etiquetas: BCP, Cadilhe, comunicação social
7 Comments:
A minha interpretação da história é mais simples: um problema regionalista. O BCP era tradicionalmente um banco portuense. Foi fundado no Porto e tem lá a sua sede social. Agora a direção do BCP passa basicamente para pessoas de Lisboa. Miguel Cadilhe é do Porto. O Porto revoltou-se e alinhou com Cadilhe. O Porto quer que a direção do BCP continue nas mãos de gente de lá.
Note-se que o jornal Público é da portuense SONAE.
Mais do que um problema partidário há aqui um problema regionalista. O Porto está com uma terrível dor de cotovelo devido à perda da sua importância económica nos últimos anos.
Luís Lavoura
Que candura! O gestor da CGD sai e o estado não se preocupa nada em ficar sem direccão do seu banco Leva consigo o vara que não tem qualquer aptencia para gerir nada a não ser sacos azuis e mesmo assim mal (será que é muito dificil aceitar que isto quer dizer levar um comissario politico?). O jornal do maior grupo portugues apoia o outro candidato...etc, etc, etc.
Só falta dizer que isto é "o mercado a funcionar..."
Caro Luís Lavoura,
As tensões regionalistas existem, mas não explicam tudo. Lembro que a privatização do Grupo BFE, do qual Miguel Cadilhe era presidente do conselho de administração, se fez com a compra do Grupo BFE pelo BPI de Artur Santos Silva, um empresário de uma família prestigiada do Porto. E a privatização não foi propriamente pacífica. Houve um «choque» entre Cadilhe e Artur Santos Silva.
Caro Jorge Lopes,
Não diria «é o mercado a funcionar», a não ser que escrevesse a seguir uma longa dissertação (que não me sinto habilitado a escrever) a explicar as diferenças entre o «mercado» segundo os teóricos liberais e as peculiaridades do mercado português. O que eu acho é que é muito redutor ver neste caso um exemplo de subordinação dos critérios de decisão do mundo financeiro a critérios políticos. Carlos Santos Ferreira tem um longo curriculum na área financeira e um curriculum político muito inferior ao de Cadilhe ou de Bagão Félix.
...e o vara?
O meu post era um bocado críptico e vou tentar explicar-me melhor.
A minha crítica era mais a algumas visões maniqueístas apresentadas em certo jornalismo económico.
Acho que ao nível da administração bancária há três factores decisivos de recrutamento (o que não exclui a existência de outros): reputação profissional, confiança pessoal e «capital social». Acho que as ligações de Vara ao PS favoreceram-no (e se o PSD estivesse no Governo as pessoas ligadas a este partido seriam beneficiadas pelo facto - como declarou Rebelo de Sousa na TV), mas penso que Vara está na lista em primeiro lugar, até prova em contrário, por ser um homem da confiança pessoal de Carlos Santos Ferreira.
Achei ridículo o título do «Público» a dizer que Santos Ferreira «Venceu mas não convenceu». Até por que este jornal tinha dado a entender que o BPI hesitava em apoiar Cadilhe ou Santos Ferreira. Se o BPI, que é um banco privado, não foi «convencido» a apoiar Santos Ferreira, então o que é que aconteceu? A lista de Santos Ferreira foi apoiada por 97,7 por cento do capital, ou seja, pelos accionistas com interesses e pensamento estratégico para o sector. A maior parte dos pequenos accionistas que não foram convencidos não são investidores profissionais, não estão especialmente informados sobre o que se passa e encaram a compra e venda de acções como uma aplicação financeira. Falo por mim que já fui um pequeno accionista (eu diria mesmo minúsculo accionista) e vendi as minhas acções quando tive oportunidade de fazer algum dinheiro, sem grandes considerações sobre o impacto do meu acto no sistema financeiro ou na economia portuguesa.
"Vara está na lista em primeiro lugar, até prova em contrário, por ser um homem da confiança pessoal de Carlos Santos Ferreira" são palavras que ficam bem a qualquer aspirante a comentador televisivo. É obvio que não é esse o motivo porque ele está lá e nunca será "provado o contrário", nem a questão é se o PSD faria o mesmo. Ele está lá tal como estava na administração da CGD, por ser um elemento politico do PS e na Caixa sabe-se lá mais porque...
Mais uma vez reafirmo que a cândura parece ser um elemento muito importante na alma portuguesa, mas por vezes parece confundir-se com sonsice.
Entre a candura e a teoria da conspiração prefiro a candura. Não vejo é onde está a sonsice em contrapor factos esquecidos a factos conhecidos e argumentos a argumentos.
Vara é uma personagem secundária nesta história. Colocá-lo em primeiro plano é distorcer a análise. Não digo que a promiscuidade em poder político e mundo empresarial não seja preocupante, acho é que ver tudo só por esse prisma pode ser sinal de outros interesses e sinal de um ponto de vista que também posso chamar de «sonso».
Essa do «aspirante a comentador televisivo» é que tomo como crítica a sério. Tenho de ter mais cuidado com o que escrevo aqui...
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