domingo, março 30, 2008

(Isto não é bem um ) Almanaque do Povo

Na escola: Aquilo ali na foto é o meu caderno de Português, circa 1993 (pois, já sei, constatavelmente anti-cor-de-rosinha). Tem as anotações da aula do professor António Leal, figura exigente, dedicada, por vezes colérica. Bastante duro nas palavras de repreensão, generoso nas de incentivo. Dos poucos que manifestavam preocupação com o resultado da nossa prestação académica ("Estes vossos testes, francamente, não se corrigem nem com puro malte! Cabeças pequeninas!"). E nós? Alunos entre o aplicado e o boçal-pequeno-delinquente, num secundário de classe-média.
Lembrei-me bastante dele já no princípio desta década, quando fiz o estágio educacional. O panorama social era aparentemente semelhante, mas a minha nova situação levava-me a interrogar o motivo pelo qual, quando era aluna, quase todos nós reconhecíamos autoridade àquele homem baixo, magrinho e sexagenário. Desse novo lado da sala aprendi não se chegar nem perto do objectivo sem a combinação de preparação científico-pedagógica, resistência psicológica e empenho no que se está ali a tentar fazer. Quem não tem isto não está apto para ensinar no básico e secundário, e o Leal tinha-o. Mas o que eu recordava do meu melhor professor não me deu chave para lidar com uma outra geração, claro, nem com situações de volatilidade na fronteira entre a indisciplina e a violência em contexto escolar. Felizmente, nesse período, nunca um aluno me fez pior que insultar (ser-se mandado para o car###o chega e sobra), tendo dos procedimentos disciplinares decorrentes surtido efeito positivo.
Faço votos para que tudo o que se tem visto (até à náusea) e falado nestes dias ajude a inverter a situação de proscrição do mainstream político-pedagógico de conceitos como castigo, expulsão, reprovação, etc. Não para repôr nenhum tipo de autoritarismo, mas marcar a fronteira entre o aceitável e o ilícito. Espere-se muito de quem ensina, sim, tal é indispensável, mas também - tão ou mais importante para o tempo que há-de vir - de quem aprende. Os alunos são indivíduos dotados de inteligência, consciência, (em boa medida) responsabilizáveis. Um jovem é uma pessoa a caminho da idade adulta, não é uma pessoa em potência.

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