Protocolizemos
Historicamente os Cardeais têm protocolarmente o estatuto de príncipes de sangue. Sendo o equivalente moderno na maioria dos países civilizados - i.e. excluindo a China, Coreia do Norte, Vietname, etc. onde o lugar protocolar dos cardeais e outros prelados tem sido frequentemente a cadeia - a posição de Ministro de Estado ou Primeiro-Ministro, com precedência sobre toda a gente excepto os Chefes de Estado ou, eventualmente, Presidentes do Parlamento e Chefes de Governo. Esta tradição tem origem no facto de os Cardeais serem os Senadores do Papado, e este ter estado presente na Criação, não do Universo, mas do sistema diplomático moderno. E quem quiser razões mais concretas e presentes não terá dificulade em encontrá-las no facto da Igreja Católica ser a instituição mais global e mais numerosa e mais praticante de um Mundo em crise de convicções e de afiliações.
Mas sobretudo e em todo o lado o protocolo baseia-se na tradição. É por isso, por exemplo, que o Presidente laico da República laica Francesa é Cónego de São João de Latrão, como antes dele o eram os Reis de França. (Que é como quem diz, a ignorância francófila dos nossos jacobinos é muito afoita). A razão de ser da tradição protocolar é que a razão pode ser um bocadinho indelicada. O João, como o Daniel Oliveira, preferem ignorar a minha piada sobre a "Primeira Dama". Mas é uma piada séria. Qual é a razão de ser, política e democrática, do papel protocolar dos esposos dos governantes? Absolutamente nenhum. Ninguém os elegeu. É uma questão de tradição e antiquada cortesia. (Que é como quem diz: se esta preocupação com o protocolo não é mais uma face de um anti-catolicismo primário, se é mesmo uma questão de razão e representatividade, então acabe-se com as cortesias de Estado para os esposos.)
4 Comments:
Eu limito-me a discordar num ponto: havendo Estado e sendo os seres humanos animais que se relacionam com a realidade através dos símbolos, as questões protocolares e simbólicas SÃO questões políticas importantes.
Caro Luís e Bruno,
De regresso ao blogue após uma rápida visita à namorada que anda a investigar no país monárquico nosso vizinho...retomo a questão onde a deixei. Eu não acho que se devam aceitar os preconceitos anti-católicos apenas usei uma «imaginação satânica», no tom do post, para colocar em evidência os traços históricos de regalismo existentes no protocolo de Estado. Essa ligação protocolar entre Estado e Igreja não foi apenas contestada por jacobinos, mas também por opositores católicos ao Estado Novo, mais ou menos radicais, para os quais o Protocolo representava uma aliança entre o regime e a Igreja Católica que eles recusavam.
Pelo que eu entendi do projecto do PS, está previsto que as autoridades religiosas possam ser convidadas para uma espécie de «bancada da sociedade civil» pelos organizadores das cerimónias oficiais. Assim o Bispo de Setúbal terá a sua oportunidade de aparecer em algumas cerimónias...
Quanto à história das primeiras Damas, não consigo elaborar sobre o assunto. O Protocolo não é mesmo a minha especialidade. Mas não penso que a tradição existente seja intocável. Parece que o Procolo criou alguns problemas, por exemplo, a Snu Abecasis quando ela era mulher «de facto» de Sá Carneiro...
Eu não escrevi que o Cardeal Patriarca fosse um Chefe de Estado. O Papa é que é também o Chefe de um pequeno Estado, o Vaticano. Estado que se faz representar pelos núncios os quais, como diplomatas que são, têm sempre lugar no Protocolo de Estado.
Joao, eu sei que nao escreves-te isso. Mas a forma como explicas o lugar "subordinado" de SER Cardeal Patriarca e o seu significado, para mim, nao faz sentido precisamente porque ele nao pode ser tratado protocolarmente como chefe de Estado nao o sendo.
Tudo e politica, caro Luis, e provavelmente os simbolos mais do que muitas outras coisas. La isso e verdade.
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