quarta-feira, junho 21, 2006

Ir à procura do Vasco e sair com o Gilberto...


Ontem entrei na FNAC do Chiado para ver (talvez comprar) a nova biografia de Paiva Couceiro, da autoria de Vasco Pulido Valente. O livro estava (já) esgotado. Como precisava de leitura para acompanhar a minha senhora a fazer horas para um jantar, escolhi um velho namoro em eterna fila de espera: "Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freyre. Confesso esta falha nas minhas leituras. Mal abri o livro, brotaram, viçosos, animados, coloridos, cheirosos, os orixás, as sinhá-moças, a farinha de mandioca, os capitães do mato, os jagunços, os senhores de engenho, os tupinambá, os padres da Companhia e eu sei lá mais o quê. No início, antes do mundo que o português fez no Brasil com o índio e o negro, muita caracterização do próprio Portugal... Tinha de ser e eu, no fundo, já sabia. O livro saiu comigo e passou à frente dos outros. O método pode ser eclético e as fontes de uma obra escrita em 1932 desactualizadas. Mas o que ficou escrito, percebe-se, tem validade perene pela acutilância da análise e o saber ir ao que interessa dos grandes antropólogos. E o livro, senhores, lê-se sem se conseguir parar (já agora, comprei a edição dos Livros do Brasil, com aquele formato antigo de que gosto muito – não encontrei imagem na Net). Uma nota final: é por lerem pouco Freyre que há brasileiros que dizem que preferiam ter sido colonizados pelos Holandeses; até poderiam ter-se saído melhor, mas seriam outra coisa, não brasileiros).

2 Comments:

Blogger Marco Oliveira disse...

E há ainda os volumes seguintes como "Sobrados e Mocambos" e "Ordem e Progresso".
O Gilberto Freyre faz várias comparações entre colonização portuguesa e colonização britânica.

5:31 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Recomendo a leitura dos dois livros que Marco indica e que são preciosos para a compreensão do Brasil do sec.XX.

Mas a razão do meu comentário é a seguinte: por razões muito próprias, o regime salazarista acolheu as teses luso-tropicalistas de Freyre, e creio que é daí que teve início uma das originalidades políticas portuguesas: a duma corrente tipicamente de direita que alimenta uma visão positiva da mestiçagem e duma sociedade multi-racial.
Contudo, esse fenómeno já é mitigado na direita pós-25 de Abril, precisamente por razões geracionais (não foram doutrinados pelo anterior regime), com a consequente alergia à presença de emigrantes de cor, mesmo que oriundos dos Palop's.

5:30 da tarde  

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