Luís, temos realmente entre mãos um sério problema de dissonância cognitiva, também conhecido por sentimento mútuo de "alhos e bugalhos". Se insisto (por uma vez) é porque me parece que estas são questões importantes e estou habituado a maior clareza nas nossas discussões. Mas dizer que os privados é que pagam a crise apenas dá mais sentido às minhas preocupações com o estado de saúde das nossas empresas. Estranho que confundas isso com hostilidade aos empresários.
Voltas a insistir no argumento de que os privados é que sofrem pelos seus vícios. Não terei sido suficientemente claro antes, mas queria sublinhar mais uma vez que não só isso não é completamente verdade (quer pelo custo social do desemprego, quer até por que cada vez mais os gestores não são realmente proprietários), como é irrelevante para o problema que levantei, e que não é moral mas sim prático. As nossas vacas empresariais podem morrer muito virtuosamente ou culposamente. O problema é que não é por isso que o bom povo português almoça à farta e de graça, bem pelo contrário.
Dizes que o grande problema é o deficit público. É um grande problema. Mas o grande problema, do que qual deriva em parte esse e outros, é o de ajustamento estrutural - para usar um palavrão da moda - da economia portuguesa às mudanças do sistema económico internacional. Pensar que apenas a reforma do Estado, ou despedimentos em massa no sector público resolvem isso é uma estranha ilusão.
(E ainda aproveito para acrescentar que não é menos ilusório pensar que será o capital estrangeiro, por muito bem vindo que seja, que nos vem resolver esse problema por nós.)
Não ofereci, tens razão, um estudo detalhado com propostas de reforma para cada área (empresa?) do sector privado. Mas não é para isso que existem empresas de consultoria, cuja razão de ser, se o mercado realmente tem sempre razão, é precisamente serem regiamente pagas por fazer esse tipo de coisa, aconselhar as reformas a empresas a precisar delas? Preferi apontar para um problema geral: a falta de estratégia também no sector privado, como é evidente pela falta de acção em áreas fundamentais em muitas empresas; e para a possibilidade de parcerias entre empresas do mesmo sector, e entre estas e o Estado para corrigir este problema, se lhes faltar dimensão ou capacidade para o fazer sozinhas. Este não é um problema real, uma preocupação legítima? Eu acho que sim.
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