quinta-feira, abril 13, 2006

Irão nuclear?


O Irão já é uma potência nuclear!? Calma pessoal!
O progresso agora anunciado com estrépito era previsível depois dos iranianos terem abandonado a cooperação com a IAEM. O Irão consegue centrifugar? Pois, mas o que interessa é saber se consegue ter as milhares de centrifugadoras para produzir a primeira fase na produção de combustível nuclear para começar produzir material altamente enriquecido para uma bomba daqui a anos. A CIA achava há uns meses que só daqui a dez anos o Irão seria um potência militar nuclear (suponho que é disso que se está a falar) e outros peritos concordam. Pode ser que a CIA esteja só a tentar desviar Bush de mais este abismos. Mas mesmo os muito optimistas (ou pessimistas) falam em vários anos. E isto supondo que o Irão tem secretamente capacidades que desconhecemos ou consegue ajuda substancial de fora (Mas o Paquistão, a Índia ou a Coreia do Norte estariam realmente interessadas nisso?). Tudo para o Irão poder ter uma primeira bomba atómica, o que não fará dele uma verdadeira potência nuclear.

Porquê o anúncio iraniano? Precisamente porque os radicais nacionalistas em Teerão querem provocar um ataque americano ou mostrar a impotência de Washington. Sabem que ou uma coisa ou outra lhes convém.

Quem quiser por ler on-line o artigo de que toda a gente anda a falar de ambos os lados do Atlântico: Seymour Hersh na New Yorker avança com os vários planos que estão a ser discutidos em Washington para atacar o programa nuclear iraniano. Uma das possibilidade é usar bombas nucleares táticas contra os abrigos subeterrâneos e acções de tropas especiais (espero que não ao mesmo tempo). Claro que usar bombas nucleares (ainda que pequenas, ou apenas bombas com material radioactivo) para combater a proliferação nuclear não ia parecer muito bem, mesmo se militarmente é a hipótese com sentido.

As boas notícias? Parece que Bush não está a pensar numa invasão convencional do Irão. As más notícias? Bush acha que lidar com o Irão é a sua última missão. Vai ser o seu grande legado para a posteridade. Promete ser um legado de peso. Pesadíssimo mesmo. Sobretudo para o Iraque à beira de uma guerra civil total e para as tropas norte-americanas que por lá andam.

Joseph Cirincione, que é provavelmente o maior perito norte-americano em proliferação nuclear, está mais ou menos como eu: com um forte ataque de dejá vu. Tudo tão parecido com o Iraque! Os meus protagonistas, as mesmas conversas, os mesmos desmentidos vagos que não desmentem nada; e, sobretudo, o mesmo exagerar da ameaça, o mesmo exagerar da sua urgência, e o mesmo exagerar do envolvimento do Irão no terrorismo internacional nestes últimos anos. E o pior de tudo é que Cirincione está convencido de que isto só vai aumentar o empenho iraniano no nuclear como última defesa. Parece lógico, não?

O que é tudo isto nos interessa? Já imaginaram o preço do petróleo com uma crise destas às portas? Já imaginaram o preço do petróleo se o Irão retaliar criando confusão no Iraque e nos Estados do Golfo? A economia mundial em geral e a portuguesa em particular ficavam num estado pós-apocalíptico mesmo sem ataques nucleares.

Vale a pena citar Hersh a terminar: One former defense official, who still deals with sensitive issues for the Bush Administration, told me that the military planning was premised on a belief that “a sustained bombing campaign in Iran will humiliate the religious leadership and lead the public to rise up and overthrow the government.” He added, “I was shocked when I heard it, and asked myself, ‘What are they smoking?’” Que é como quem diz: o que é tipos andam a tomar? Não sei. Mas realmente estas ideias dos senhores de Washington só se percebem tendo por base alucinações, mas mais ideológicos do que farmacológicas.

2 Comments:

Blogger Paulo Alves disse...

Por muita alucinação que exista na equipa-Bush (e há) não me parece justo compará-la com a de um fanático radical islâmico que, por acaso, governa uma nação com pré-nuclear (ainda?, coloca em dúvida o holocausto só para chocar, e deseja ardentemente fazer desaparecer do mapa, pelo menos e para já, um pais (Israel). O nuclear não é proibido a ningum pais, nem é muito menos exclusivo dos Estados Unidos. Porém, todos os pais sabem que se querem comer o bolo devem mostrá-lo, ou seja, permitir inspecções. O Irão não deixa. Permite-se esta exclusividade? O que se vai «fumar» na Casa Branca, em Lisboa, em Paris, Bona, Londres etc., quando o Irão tiver bomba atómica?

10:27 da manhã  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Paulo

Eu não comparo Washington a Teerão. Se o fizesse teria toda a razão para me atacar. Se sou crítico do Presidente Bush, não é por qualquer simpatia pelo actual regime iraniano. (Leia os meus postes anteriores sobre a questão para o comprovar; ou veja a caricatura usada para ilustrar este poste).

Claro que acho que a proliferação nuclear é um problema sério. Apenas considero(como norte-americanos peritos na questão, por exemplo o Joseph Cirincione que cito no texto), que a melhor forma de resolver o problema seria lidar directamente como eles, dar a Teerão - que tem receios legítimos - garantias de segurança. Esta seria até provavelmente a melhor forma de reforçar os liberais no seio do regime.

(Aliás você mesmo reconhece que há alguns problemas com a capacidade de análise desta administração.)

O que é que os norte-americanos fizeram com o Khadafi e estão a fazer com o Kim Jong Il? Não me vai dizer que a Coreia do Norte ou a Líbia são melhores em termos de direitos humanos do que o Irão? (São bem piores). Em qualquer destes dois casos essa foi a política defendida pela Europa e a que os EUA acabaram por aderir.

3:57 da tarde  

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