sábado, abril 08, 2006

Big Love: Família em Triplicado


Por um feliz acaso profissional estava nos EUA a tempo de assistir ao início da "estação Primavera-Verão" da HBO, o canal de TV justamente famoso pela qualidade das suas séries. Pude portanto ver o Tony Soprano ser mais uma vez punido, não pelos seus muitos pecados profissionais, mas pela sua devoção à família. Baleado pelo tio senil entra num coma que serve de pretexto para delírios dignos de Twin Peaks.

Pude sobretudo ver a estreia televisiva mais falada do momento. Big Love é uma típica série americana, portanto centrada na família. A novidade é que esta família vem em triplicado. O protagonista, representado por Bill Paxton, é o pai extremoso de três famílias e o marido devotado de três mulheres.

A poligamia como mais um estilo de vida alternativo? O tema foi discutido na blogosfera há tempos por Pacheco Pereira e Constança Cunha e Sá. Como o Eduardo Pitta na altura anunciou, a série e o tema da poligamia foi usado nos EUA para combater a ideia do casamento dos homossexuais. Mas, ao contrário de Portugal, nos EUA, esse país de grandes espaços e grandes contrastes, a poligamia é uma questão real. Há desde o século XIX – e mesmo depois dos mormons terem abandonado a prática em 1890 – grupos religiosos minoritários que a praticam, algo entre as 20 e as 40.000 famílias. O que é curioso é que a poligamia seja usada como argumento contra uma mudança nas leis que regem o casamento. A lembrança mais interessante trazida pela série é precisamente que "o casamento" tem sido coisas diferentes ao longo da história; e estilo de vida alternativo não tem de querer dizer necessariamente hippie, pode ser até muito conservador em certos aspectos. O normal quanto ao casamento no Ocidente cristão durante alguns tempos (digamos do século XI ao século XXI), além de muitas variações importantes na prática ao longo desses muitos anos, não deixa de ser algo de historicamente contingente.
Será interessante ver a evolução das audiências e da discussão pública em torno de Big Love. Será interessante ver se a série chega a Portugal. Tem um excelente conjunto de actores e o casting parece-me conseguido: Bill Paxton é emparelhado com Jeanne Triplehorn, Chlöe Sevigny e Ginnifer Goodwin (cuja personagem, aliás, tem um blogue). Big Love dá da poligamia uma face relativamente moderna e muito de subúrbio. (A esposa mais nova queixa-se de que também precisa de um carro: a poligamia não é, portanto, muito amiga de Kyoto). Talvez demasiado moderna e de subúrbio para ser representativa dos grupos religiosos muito conservadores que realmente a praticam nos States. Mas isso tem a vantagem (deliberada) de nos fazer pensar como seria viver numa situação daquelas em vez de a remeter para o campo confortável do bizarro. (É complicado: as mulheres têm reuniões para fixar o calendário dos deveres maritais do esposo comum, plus ça change?). Resta ver para onde os argumentistas levam o enredo. Casamento em triplicado? Pelo menos como série (e por um episódio) pareceu-me valer a pena.

2 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Segun la Real Academia de Jurisprudencia y Legislacion el mal llamado matrimonio gay zapateril es ilegal e inconstitucional

6:56 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

La Comunidad Musulmana pide la legalizacion de la poligamia en España

12:01 da tarde  

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