quarta-feira, abril 12, 2006

Aventuranças

O texto parece-me bem, mas também transpira um bocado a complexo de culpa. Parece-me que talvez valesse a pena insistir mais no Veríssimo Serrão, que neste particular não conheço, além de não possuir a sua volumosa mas sempre útil história de Portugal. Ainda sobre o Veríssimo Serrão convém recordar que, pelo menos, para a história de Portugal dos século XVI e XVII o homem sempre foi bom, mesmo que os historiadores de esquerda (socialistas?) raramente o reconheçam.

Por outro lado, nestas coisas de judeus, há sempre dois pesos e duas medidas. Os mortos judeus, vítimas de intolerância racial e religiosa, até ao Holocausto (inclusive) são sempre muito apaparicada, sobretudo se perpetradas por "ocidentais" (normalmente esquecem-se os russos e os polacos - estes menos, embora queira crer que nada tem que ver com o facto de serem católicos). Já depois do Holocausto, e sobretudo a partir da criação do Estado de Israel, as mortes de judeus já não vertem tantas lágrimas - eu diria mesmo que nem sequer uma décima. Alguém me explica? É que estou um bocado confuso com isto já vai para umas décadas.
P.S.: Discordo do João Miguel Almeida quando escreve que “Independentemente das respostas a estas questões, lamento que um Estado democrático, alicerçado nos valores do pluralismo e da tolerância, não tome a iniciativa de comemorar um acontecimento deste género.”. Confunde a nuvem com Juno. O Estado não tem que se meter, mesmo que não seja nem deva ser moral, ética, política e culturalmente neutro. A sociedade civil e as Universidades – nunca percebi se estas pertencem àquela – é que devem pôr as mãos na massa. Não puseram? Também não admira. Os nossos historiadores encartados parece que não percebem, nem querem perceber, nada do assunto. Devo ainda acrescentar que embora um acontecimento aparentemente excepcional na História de Portugal Moderno, estes massacres são uma relativa banalidade na história “Universal” – tanto à época como depois (já não digo antes). De qualquer modo proponho que se organize qualquer coisa sobre o assunto. Se tiver credibilidade académica de certo que a Universidade de Évora ajudará a pôr de pé o evento.
P.P.S.: Alguém me sabe dizer se o Jorge Sampaio já verteu uma lágrima por causa deste massacre?

P.P.S.: Sempre gostei do nosso D. Manuel I, rei que não pôde aprender muito para o exercício da coisa em tempos muito delicados e de mudança. Infelizmente a biografia do Venturoso publicada no Círculo dos Leitores no ano passado (João Paulo Oliveira e Costa) não faz inteira justiça ao homem. Por lá escreve meia dúzia de banalidades sobre o massacre em, também, meia dúzia de páginas (na verdade não mais do que uma e meia).
[Reprodução: Arqnet]