terça-feira, abril 11, 2006

Itália: Alegrias e Tristezas



Há uma razão evidente e indiscutível para estarmos todos alegres com a Itália: o mafioso dos mafiosos foi finalmente preso!!!

Quanto às eleições: país dividido, governo legítimo. Prodi ganhou por margem curta, mas ganhou, ao contrário de Bush em 2000, que perdeu o voto popular. Ora como a direita nos explicou inúmeras vezes desde então, tal não afectava nada a sua legitimidade: uma democracia faz-se com voto popular, mas sobretudo com regras! Ora ainda bem que pensam assim. Porque é graças a essas regras que Prodi tem uma maioria confortável na câmara baixa. Em Itália quem ganha as legislativas tem automaticamente 55% dos deputados. Prodi também terá uma maioria no senado, graças aos votos dos italianos no estrangeiro (que ou são muito de esquerda, ou mesmo de direita têm uma certa vergonha de Berlusconi) e ao apoio provável de cinco dos sete senadores vitalícios.

Mas eu não mudei de opinião desde 2000: é claro que o governo Prodi sai desta prova enfraquecido na sua legitimidade, se bem que não na sua legalidade, é evidente que não vai ter período de graça. No entanto, este susto pode ser positivo. A esquerda, se tiver dois palmos de testa, terá percebido que não se pode dividir e tem de mostrar serviço. Tem de se empenhar em fazer as reformas que Berlusconi evitou cuidadosamente: uma lei contra os monopólios televisivos é uma evidência, mas convém não esquecer que na economia e no estado, ou na educação, onde - pelo que me dizem e pelo que leio - há muito que mudar.

Berlusconi é uma tristeza. Se não existisse tinha de ser inventado. Depois de ter feito uma carreira política a denunciar os malefícios das Grandes Coligações que governaram a Itália desde 1945 (no que tinha razão). Depois de ter sido o grande campeão das leis que dão agora a vitória à esquerda em nome das virtudes da bipolarização e da alternância. Depois de ter dito que quem votava na esquerda era idiota. Depois de tudo isto, vem agora apelar, como um sentido de Estado que lhe fica tão bem como um fato emprestado, a um Bloco Central com os coglioni! Para quem tinha dúvidas sobre a qualidade da peça, de que para este senhor vale tudo, espero que esta última palhaçada seja esclarecedora. Berlusconi: coglioni? Takes one to know one.

5 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Quanto ao "voto popular", convém precisar que na Camara o centro esquerda teve 49,9% e o centro direita 49,8% que no Senado o centro direita teve 50,2% e o centro esquerda 49,2%. A diferença de votos na Camara é de cerca de 25 mil ... em 42 milhões de votantes, mais de um milhão de buletins nulos e invalidados, cerca de 50 mil contestados pelos representantes dos partidos nas mesas de contagem.

Justamente no ambito das tais "regras da democracia", o centro-direita pediu a verificação destes 50 mil buletins (e não a recontagem da totalidade dos votos, como se tem dito por ai). Em 2001, quando ganhou o centro direita, um dos partidos da esquerda também exigiu uma recontagem de uma parte dos buletins. Que foi feita, sem consequencias, até porque a vantagem da direita era bastante grande. A lei preve uma instancia técnica para este efeito e que esta a fazer este trabalho. Se porventura existir ainda uma contestação desta verificação pode ser feito um recurso para um tribunal especial. Este processo pode levar algum tempo, dias ou poucas semanas. Mas não havera qualquer problema porque, de qualquer modo, por outras razões institucionais, a indigitação do proximo primeiro-ministro não se fara em menos de 2 meses.

Claro que se os resultados para a Camara não forem alterados por este processo, a vitoria da coligação de centro esquerda sera indiscutivel e Prodi tera toda a legitimidade democratica para governar.

Também concordo com o facto da proposta de Berlusconi para um governo de Grande Coligação não fazer nenhum sentido. Nomeadamente, por algumas das razões referidas no post. Mas não apenas. De resto, alguns dos aliados de Berlusconi ja disseram que não estão disponiveis para um "arranjo" desses. O centro-direita deve agora ser oposição e desejar felicidades à nova maioria. Ponto paragrafo. O resto se vera depois.

Mas, devo também dizer que, para além das convicções politicas de uns e de outros, mais à esquerda ou mais à direita, um certo tom do post me parece ... deselegante ! Então, os 50% de eleitores que votaram na direita e em Berlusconi são... "sem vergonha", "tristes", "palhaços" ?! Talvez mesmo "idiotas", "coglioni" ? (o que, para todos os efeitos, eu proprio seria se fosse um eleitor italiano !...).
Ou expressões do género apenas são insultuosas quando vem da boca de um de direita, como Berlusconi, e se dirigem ao "povo de esquerda" ?!!..

7:53 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Fernando

Obrigado pelo seu óptimo comentário. Os detalhes da votação e a informação sobre eleições passadas têm a sua relevância. Mas isso não altera o essencial: a plena legalidade, mas a fraca legitimidade com que o governo Prodi começa e a necessidade de a compensar politicamente.

Concordo que a recontagem é legítima. Embora raramente produza mudanças desta monta. O que não me parece legítimo é misturá-la com ofertas de grandes coligações. Cheira a chantagem. Afinal estas regras foram a grande bandeira de Berlusconi em nome da bipolarização! Não acha isto uma palhaçada, ou seja, uma farsa, algo cómico e sem qualquer sentido?

Os qualificativos que uso referem-se claramente e apenas a Berlusconi, não aos seus eleitores. Podia ter dito que o seu estilo não me agrada. Mas achei que teria mais piada usar o tipo de linguagem que ele usa corriqueiramente para desqualificar os adversários - ele que até era primeiro-ministro de Itália. Amor com amor se paga.

Esse tipo de qualificativos para generalizar sobre a esquerda ou a direita são sempre idiotas (cá estou eu a abusar da linguagem). Mas podem ser apropriados para se falar de um político particular numa determinada situação.
Portanto, se o ofendi foi sem intenção. Eu tenho, como é evidente, amigos de direita, inclusive (uma) italiana. Claro que por razões ideológicas somos por vezes levados a uma escolha que nos parece a menos má tendo em conta as alternativas.

4:27 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Caro Bruno,

Obrigado pelo teu interessante comentario e pela cordialidade das tuas palavras.

Agradeço-te igualmente a atenção que tiveste ao explicar a utilização de certos termos um pouco mais ... “fortes” ! Não tenho agora dúvidas quanto ao facto de o teres feito sem a intenção de ofender quem quer que fosse. Vejo que, no fim de contas, e como eu, também consideras que este tipo de linguagem não deve ser normalmente utilizado para desqualificar os adversários. Eu reconheço que Silvio Berlusconi usou termos impróprios em várias ocasiões. Sobretudo na fase final da campanha eleitoral. Não o devia ter feito. Desde logo por uma questão de princípios. Também por razões de eficácia. Ao contrário do que afirmam alguns comentadores políticos, eu até penso que a direita acabou por perder mais do que ganhou com o carácter agressivo da campanha feita por Berlusconi. Objectivamente, e para todos os efeitos, a direita perdeu estas eleições. Mas, em abono da verdade, devo acrescentar que os seus adversários também o fizeram. Durante a campanha (delinquente, bêbado, etc). Mas principalmente antes. O anti-berlusconianismo visceral e caricatural foi desde cedo uma característica importante do discurso da esquerda italiana. Em parte pela circunstância de o personagem ter caracteristicas e “telhados de vidro” que se prestavam sobremaneira a um exercício do género. Certamente, de modo determinante, pelo facto de os estrategas mais perspicazes da esquerda terem considerado que este era um meio eficaz para contrariar o élan inicial da coligação de centro-direita e para constituir e viabilizar uma alternativa eleitoral à coligação liderada por Berlusconi. Compensando assim uma certa falta de coerência entre os projectos políticos das diferentes sensibilidades do centro-esquerda. Esta campanha teve alguma eficácia interna, sobretudo no seio do eleitorado de centro-esquerda e de uma parte do eleitorado flutuante. Mas, mesmo assim, muito menos do que sondagens e observadores, eu próprio incluído, suposeram. Como, de resto, comprovam os últimos resultados eleitorais. Bem mais eficaz foi o modo como a campanha de descrédito de Berlusconi e da coligação de centro-direita (a Forza Italia como uma agência de marketing, a Allianza Nazionale como um punhado de neo-fascistas e nostálgicos de Mussolini, a Lega Norde como uma força xenófoba) foi repercutida fora de Itália. Não apenas nos sectores políticos e nos médias orientados mais à esquerda, o que até é compreensível, mas também, mais surprendente, em áreas ideológicamente mais próximas da direita. A um nível que, a meu vêr, muitas vezes rondou o facilitismo e a desinformação. Basta dizer que, quase sempre, os mass média estrangeiros se limitaram a apresentar a versão propagandística da esquerda italiana, sem qualquer referência aos argumentos da direita. Enquanto que em Italia existia um contraditório, com a posição da direita a ser defendida, quanto mais não fosse através das televisões e dos jornais controlados por Berlusconi, o público no exterior apenas teve acesso a uma versão. Repara que não estou aqui a discutir a maior ou menor validade de muitas das críticas feitas a Berlusconi, à política do governo por ele liderado, à campanha eleitoral por ele feita. O que digo é que existiu um grande exagero em muito do que se disse. Que, de resto, muitas vezes tinha a vêr menos com as políticas (nomeadamente a económica) e mais com aspectos ligados à pessoa Berlusconi (os seus conflitos de interêsses, os seus processos judiciais, as suas pequenas frases, as suas gaffes, a sua maquilhagem, a sua vida sexual, etc). Devo acrescentar que estes exageros fizeram com muitos à direita se tivessem sentido na obrigação de defender Berlusconi contra tudo e contra todos. Pondo de lado reservas e diferenças. Que existiram, existem e continuarão a existir. Mas que têm passado para um plano secundário. As últimas eleições foram entendidas por muitos, à esquerda e à direita, como uma espécie de referendo sobre Berlusconi. Por isso mesmo, os resultados tangenciais contribuiram para reforçar a posição de Berlusconi no seio da direita italiana. Adiando provávelmente uma evolução na respectiva liderança e recomposição, que, de qualquer modo, é inevitável e natural. Mas isto já é outra história !...

Quanto à proposta de Berlusconi para uma grande coligação. Já disse no meu comenário anterior, julgo que sem margem para dúvidas, que não acho bem esta atitude. Tens razão em recordar as posições anteriormente defendidas por Berlusconi. E, acrescento eu, sustentadas também pela maior parte da actual classe política italiana, à direita e à esquerda. De resto, já se percebeu que foi uma declaração precipitada e tomada sem uma prévia e adequada consulta dos seus aliados e colaboradores (um dos defeitos de Berlusconi !). Espero que ele não insista neste erro. Dito isto, vais-me desculpar, mas também aqui não posso achar bem os qualificativos que usas para caracterizar esta tomada de posição. Sinceramente, também não vejo onde esteja a chantagem. Para haver chantagem tem de existir uma ameaça efectiva. Numa democracia parlamentar, como a que existe em Itália, uma parte política tem todo o direito de fazer propostas. Cabe às outras partes e às instituições (Parlamento, Presidente da Répública, etc) aceitar ou não. Neste caso, se se confirmar a sua vitória eleitoral nas duas câmaras, o centro-esquerda pode governar sózinho. Não precisa de aceitar nenhuma grande coligação. Se vai conseguir ou não manter coesa a sua maioria, à partida bastante heterogénea (vai dos democratas-cristãos, dos liberais sociais, e dos liberais radicais, aos comunistas ortodoxos, aos verdes, e aos no-global, passando pelos socialistas e sociais democratas !...), é já uma outra questão !...

Aproveito para adiantar um pouco a minha perpectiva em relação a este último aspecto. Faço votos para que o centro-esquerda consiga efectivamente governar. Desde que, naturalmente, governe relativamente bem (ou menos mal). Desde que, no que se refere à economia, o faça em moldes que favoreçam o saneamento das contas públicas, o crescimento económico, a redução do desemprego, a melhoria das condições e dos níveis de vida da maioria dos italianos. Desde que, no que se refere à política internacional, contribua para o desenvolvimento dos direitos humanos, da democracia, e da paz (o que, na minha opinião, não acontecerá se, no contexto actual, a Italia retirar precipitadamente as suas tropas do Iraque). Apesar de achar que um governo de centro-direita daria mais garantias e daria a prazo melhores resultados, não excluo que o centro-esquerda possa governar bem a Italia. Mas para tal será indispensável que Romano Prodi, apoiado pelos sectores mais moderados e liberais da coligação (ou seja, a Margherita, a maioria moderada dos DSs, a Udeur, a Italia dei Valori, a Rosa nel Pugno), consiga aplicar uma política moderada e de reformas tendencialmente liberais. Na prática, para além da radicalidade dos discursos e da propaganda, o centro-direita e a ala moderada do centro-esquerda têm concepções que não são assim tão diferentes. Sobretudo nas áreas económicas. Mas não apenas. O problema pode vir da ala mais esquerdista (o “correntone” dos D.Ss, Refondazione Comunista, Comunisti Italiani, Verdi). Que, numa maioria extremamente curta, poderão exercer uma pressão permanente sobre Romano Prodi no sentido de obter certas medidas simbólicas à esquerda e, muito pior, bloquear reformas indispensáveis. Nesta circunstância, acho que o centro-direita deveria facilitar a aprovação no parlamento de medidas que fossem na boa direcção, mesmo que, como é provável, ficassem aquém do que uma maioria de centro-direita tenderia a fazer. O que significaria ter como critério principal da acção política na oposição, não tanto a fragilização e a desagregação da maioria parlamentar na perspectiva de uma crise de governo e de eleições antecipadas, mas antes o interêsse imediato do país. Já aconteceu no passado quando, por exemplo, um governo de esquerda presidido por Máximo D’Alema foi abandonado pela Refondazione Comunista e precisou dos votos dos deputados da direita para aprovar a participação da Italia na intervenção militar no Kosovo em 1999. Naturalmente que, se o governo de centro-esquerda aceitasse a chantagem política (aqui a palavra faz sentido) da esquerda radical, se justificaria então uma oposição parlamentar determinada do centro-direita no sentido provocar e preparar uma alternância de poder. Mas, neste momento, ainda a procissão vai no adro !...

Finalmente, porque este meu comentário já vai longo, e em contra-ponto à tua menção aos teus amigos(as) de direita, posso dizer-te que, certamente fruto do azar e de circunstâncias várias da minha história pessoal, tenho mais amigos de esquerda do que de direita, inclusivé em Itália, país a que me sinto ligado por fortes relações de amizade e de parentesco.

Um abraço.

Fernando

11:01 da tarde  
Blogger bruno cardoso reis disse...

Caro Fernando

Obrigado mais uma vez. Assim vale a pena escrever! Realmente acho que o seu comentário/poste faz um bom contraponto à minha própria análise. Posso não concordar, mas há aqui muita informação e uma perspectiva informada do "outro lado".

Não tenho muito a acrescentar. Apenas talvez a questão da chantagem e da linguagem.

Acho que entra em contradição quando diz que a esquerda da coligação de esquerda (a Refundação Comunista e mesmo os Democrata de Esquerda ex-PC) pode, essa sim, fazer chantagem sobre o governo Prodi. Ora poder-se-ia dizer o mesmo que diz em defesa de Berlusconi: estão a fazer a sua política, a usar meios legítimos (retirar apoio a um governo para medidas com o qual não concordam).

Se uso o termo chantagem não é evidentemente no sentido literal, de um crime, mas de achar que há aqui uma pressão incorrecta e explicitada por alguns jornais: «pelo sim, pelo não e com a recontagem em curso podemos já resolver o problema e fazer um governo de coligação!» Mas admito que isto faça parte de certa política. (De que claramente nem você nem eu gostamos).

Quanto à necessidade por vezes de um Bloco Central, não no governo, mas ad hoc e no Parlamento para fazer passar certas reformas, estou completamente de acordo. Aliás, se há algo que se pode apontar a este governo Berlusconi, além do estilo, é precisamente a falta de algumas reformas de fundo.

Quanto à linguagem. Acho que aqui há que ser muito crítico dos políticos. O tipo de postura de um Alberto João Jardim ou Berlusconi deve ser altamente censurada. E devemos ser muito críticos sobretudo dos políticos do "nosso lado" (como você é de Berlusconi). E eu acho realmente mal que a esquerda italiana tenha caído nessa armadilha.

Acho que a questão muda com colunistas e sobretudo bloguista. Aqui, desde que seja por uma questão de estilo e com piada, não de uma forma caceteira e de insulto barato (claro por vezes a linha pode ser dificil de estabelecer) parece fazer sentido. Em todo caso só lê quem aprecia o estilo. Mas enfim é uma questão que vale a pena ponderar, como o seu comentário me fez fazer.

3:42 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Don José Bono Martinez dijo el 16 de enero de 2004 en Antena 3 Television que Mr. Anthony Blair era un GILIPOLLAS INTEGRAL

6:53 da tarde  

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