quarta-feira, janeiro 17, 2007
Como seria de esperar, à medida que se aproxima a data do referendo sobre o aborto, o debate vai descendo de nível. Valha a verdade que nunca supus que pudesse nem devesse manter-se acima de uma qualquer linha imaginária de bom gosto e de bom senso. Depois de vários sacerdotes católicos terem dito e feito alguns disparates que só serve, para anunciar a inevitabilidade vitória do “SIM”, alguma esquerda tem andado entretida, pela mão dessa referência moral e intelectual que é S. Francisco Louçã, a acusar os movimentos a favor do “NÃO” de terem recursos financeiros de volume incomensurável e de origem duvidosa. Como não podia deixar de ser, trata-se de uma conversa não apenas absolutamente irrelevante, como estúpida e hipócrita. Irrelevante e estúpida porque sendo o dinheiro muito ou pouco, cada um faz campanha com a massa que tem e não com a que os outros gostariam que se tivesse. E é hipócrita porque ainda não foi dito de onde é que vem o dinheiro daqueles que apoiam o “SIM” e quanto é que já gastaram e prevêem gastar (e como não se sabe de onde é que vem os cidadãos portugueses só podem concluir que não pode ter coisa boa por trás...).
Mas a questão do dinheiro que Louçã evocou e na qual os seus seguidores ainda remexem e remexerão, denuncia afinal o facto de que para o Bloco de Esquerda a questão do aborto está transformada num problema político menor vista a previsível vitória do SIM. O Bloco vê mais além, como demonstraram as tristemente célebres declarações de Teixeira Lopes a propósito do apoio e participação de Rui Rio numa “plataforma” ou “iniciativa” do movimento pelo “SIM”. É pois para esta realidade que se deve olhar e não para outra. Ou seja, para o Bloco de Esquerda e para Louçã a liberalização do aborto é apenas um meio para atingir outros fins. Importaria perceber quais são e discuti-los. Talvez assim a previsibilidade de uma vitória do “SIM” pudesse ainda vir a ser posta em causa.
6 Comments:
Concordo.
O Louçã e alguns sacerdotes católicos andam a impedir um debate sereno sobre o tema.
E no que toca às leis de financiamento de movimentos, estas são muito mais restritivas do que as leis de financiamentos dos partidos políticos.
Independentemente das causas ou intenções de Francisco Louça, que acho que não vem ao caso neste assunto, a questão da proporção do dinheiro envolvido na campanha das plataformas do Não não é de modo algum irrelevante ao tema em referendo. É por demais evidente que as personalidades envolvidas nos discursos pró-vida e pró-família (retiro as personalidades eclesiásticas) não são desprovidas de recursos, bem pelo contrário. Não acha um pormenor bastante relevante que quem vive à farta venha defender a vida e a família (a sua de preferência)?
Nem era preciso o millenium nem outras tantas empresas avançarem dinheiro, a Igreja por si é das instituições mais fortes nessa matéria. A questão de haver tanta disponibilidade material tem siginificados. Múltiplos. O mais agradável será a proporção que tem com o medo da derrota.
Mas qual é o problema de, eventualmente, o "SIM" ter dinheiro aos montes? Problema será o "NÃO" não ter, eventualmente, dinheiro. O problema com o dinheiro só existiria se se tratasse de dinheiro obtido ilegalmente. Não me parece que seja o caso. Se for, será melhor que os acusadores apresentem provas. Quanto ao facto, ou à ideia peregrina, de que apenas quem tem muito dinheiro é que defende a família, não afinal de uma leviandade e irresponsabilidade, já para não dizer que não corresponde à verdade. Por outro lado, e no limite, trata-se de uma crítica - mesmo que involuntária - a todos aqueles que tendo muito dinheiro optam por não ter filhos - comentário que eu jamais me atreveria a fazer.
Penso que o meu comentário lhe passou ao lado e nem de raspão. . Repare, eu não falei em haver problema, repare, eu não falei nas opções de parentalidade em termos de classe. Já na questão de uma gravidez indesejada ela resolve-se de forma bem diferente. Salientei que o discurso de Louça em relação às disponibilidadaes materiais na camapnha não é descabido nem nos remete para qualquer objectivo obscuro eleitoralista, uma vez que a questão dos recursos prende-se fortemente com o problema que é o aborto clandestino. Ou com o problema de ter de abortar. Ou com o problema de não ter acesso a informação médica e de planeamento familiar.
Julgamento de intenções é coisa que quase nunca dá resultado e o
seu parece-me bastante precipitado e irreflectido.
Não concordo. É a minha vez de dizer que me parece que não compreendeu aquilo que pretendi dizer. Mas não tem importância.
Para ser mais clara (e para facilitar) o seu post está ao nível do comentátio do Teixeira Lopes sobre a posição do Rui Rio.
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