Jo 8, 7
É verdade. É verdade. Não havendo silêncio, é evidente que há uma espécie de surdina, igualmente inaceitável. Não vou falar da sentença, condescendente como uma palmada na mão; outros já falaram melhor. Quero apenas dizer que, como católica, esperava - e espero - da hierarquia da Igreja a que pertenço um editorial, uma reflexão, um comunicado à Ecclesia, ou à Lusa, uma nota da Conferência Episcopal, o que fôr, qualquer coisa mais que um recorte de imprensa centrado no que a instituição necessita para trabalhar melhor. A Igreja pode necessitar de meios para trabalhar melhor, mas será isso o que há de mais importante a dizer à sociedade portuguesa, ou pelos menos aos seus fiéis, depois de um punhado de rapazes sob a sua responsabilidade ter atirado sem grandes hesitações a primeira pedra? Não será hora de enfatizar o seu quinhão de responsabilidade no caso? De relembrar que devemos respeito a todo o semelhante, de relembrar pais, educadores e filhos que o discernimento e a responsabilidade individual não nascem no dia em que se pode tirar a carta de condução, de lembrar que a companhia dos que hoje chamamos excluídos foi a que Cristo, não por acaso, sempre privilegiou? De falar especificamente de Gisberta, de pensar sobre Gisberta, de enfrentar estes silêncios e de deixar de transigir com os que na nossa comunidade incitam à proscrição de quem é diferente, de quem desafia a maneira como entendemos o mundo?
7 Comments:
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Já tinha pensado escrever um post sobre o assunto. O título era «a inquietante banalidade do mal», mas depois não consegui escrever um texto à altura do título e do horror. Horror do crime e da inaceitável complacência da justiça e da população perante os criminosos. É inadmissível que um padre fale como se os agressores pudessem ser «filhos» e Gis não pudesse ter uma família, ou seja, pertencer à espécie humana. O cristianismo não é isto e a justiça de um Estado laico também não.
Não me tinha apercebido deste caso horrendo por estar fora de Portugal. Estou completamente de acordo com a Cláudia.
Não duvido que muitas instituições de apoio social da Igreja, que fazem o trabalho que mais ninguém quer fazer, tenham falta de meios. Mas aqui falhou algo mais fundamental, a transmissão de valores mínimos, e é essencial que o inquérito apure como e porquê.
Antes disso, e sabendo-se o que sabe sobre a posição oficial da Igreja em relação à homossexualidade torna-se ainda mais urgente uma rejeição clara do que se passou. Afinal, por muito deficiente e «Antigo Testamento» que a posição católica oficial actual seja, ela sempre deixa claro que não é cristão - para o caso de haver dúvidas - ter qualquer gesto hostil, muito menos de agressão, em relação aos homossexuais.
Se a Ana Cláudia está à espera, bem pode esperar sentada.
O catolicismo é obedecer à hierarquia. A Ana Cláudia é uma ovelha. Siga o seu pastor e não espere nada.
Luís Lavoura
Sr. Lavoura:
ao laicado católico não compete balir.
Caso queira iniciar ou reciclar conhecimentos sobre o catolicismo, há um bom ponto de partida: entre 1962 e 1965 aconteceu o Concílio Vaticano II, provavelmente já o sabe; aí foi aprovado um documento intitulado Lumen Gentium , no qual se redesenhou o papel da hierarquia, do laicado e da relação entre ambos.
Ao laicado compete (artº 37º)"abraçar prontamente, com obediência cristã," as determinações dos sacerdotes. Mas os fiéis não-ordenados (ainda no artº 37º), "segundo o grau de ciência, competência e autoridade que possuam, têm o direito, e por vezes mesmo o dever, de expor o seu parecer sobre os assuntos que dizem respeito ao bem da Igreja".
Neste contexto, compete por seu lado à hierarquia(art.37, outra vez) "reconhecer e fomentar a dignidade e responsabilidade dos leigos na Igreja"; espera-se ainda que os sacerdotes "recorram espontâneamente ao seu conselho prudente, entreguem-lhes confiadamente cargos em serviço da Igreja e dêem-lhes margem e liberdade de acção, animando-os até a tomarem a iniciativa de empreendimentos. Considerem atentamente e com amor paterno, em Cristo, as iniciativas, pedidos e desejos propostos pelos leigos. E reconheçam a justa liberdade que a todos compete na cidade terrestre."
Por isso (artº.31º),"Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e actividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros , antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor."
A documentação aprovada no CVII está em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/
Muito muito bem.
Ana Cláudia. Excelente post e excelente resposta. Um beijo e boas férias.
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