quinta-feira, agosto 03, 2006

Cuba - memórias de férias


A operação a Fidel Castro reanimou as especulações sobre o «dia seguinte» à morte do ditador. É um país sobre o qual tenho lido pouco, mas que visitei há meia-dúzia de anos. Foram umas férias curtas, inesperadas e convencionais. Como não consegui ir à praia durante o Verão e só arranjei tempo livre em Dezembro, pus-me à procura de um país onde ainda fosse a tempo de gozar praia. Ofereceram um pacote de férias «em promoção» em Cuba. Como não pensar muito no assunto fazia parte dos meus projectos para férias, aceitei.
Uma curta passagem pelo país foi suficiente para pôr em causa algumas ideias feitas por adeptos e detractores do regime. Não é preciso ter grandes preconceitos contra Fidel para nos darmos conta do nível de repressão. Difícil é passearmos em Havana sem ter à vista um polícia ou uma puta. Várias pessoas que me abordaram começaram por dizer: «esteja descansado. Havana é uma cidade segura. Tem meio milhão de polícias e meio milhão de civis». O baixo nível de vida da população é evidente. Um senhor de cabelo todo branco e porte muito digno abordou-nos para pedir o dinheiro necessário para «comprar azeite e estrelar um ovo», o que há anos não conseguia fazer.
Se os slogans dos cartazes têm um sabor a tiradas surrealistas, muitas das ideias feitas sobre a dicotomia Fidel-exilados de Miami não têm a menor consistência. É possível encontrar muita gente que detesta Fidel, referido como «ele», num tom de desprezo, e não pode com os «ianques». «Não têm nem um cabelo bom», disse-me um taxista. O sistema de Educação e de Saúde do regime também permanece a salvo de críticas. E não é por neste aspecto a propaganda do Governo ser mais bem sucedida. Muitos cubanos têm a noção de que no México ou nos Estados Unidos, com o mesmo nível de rendimentos, teriam sérias dificuldades em ser tratados como devia ser. É um país pequeno, de famílias alargadas. Quando cheguei ao aeroporto, pude observar a emoção com que muitos familiares se reencontravam e perguntavam uns pelos outros.
A minha esperança é que de uma ditadura doente possa nascer uma democracia saudável.

2 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

O baixo nível de vida da população de Cuba deve-se em boa parte à falta de combustíveis fósseis.

Gostava de ver qual será o nível de vida da população portuguesa daqui a poucos decénios, quando o petróleo estiver a tal preço e com tal escassez que tenhamos pouco dele, como os cubanos.

A vida é muito mais fácil, rica e agradável quando temos máquinas, alimentadas a petróleo, e funcionar para nós.

Luís Lavoura

3:34 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Luis,

Pois é. Assim já dava para meter o meio milhão de polícias dentro de carrinhas e as putas a andar de mota. E assim a vida é muito mais fácil. Como cá...

4:15 da tarde  

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