sexta-feira, março 07, 2008

Elegia

Oh, destino, o de Borges,
ter navegado pelos diversos mares do mundo
ou pelo único e solitário mar de nomes diversos,
ter sido uma parte de Edimburgo, de Zurique, das suas Córdovas,
da Colômbia e do Texas,
ter regressado, após mutáveis gerações,
às antigas terras da sua estirpe,
à Andaluzia, a Portugal e àqueles condados
onde o saxão lutou com o dinarmarquês e misturaram os sangues,
ter envelhecido em tantos espelhos,
ter procurado em vão o olhar de mármore das estátuas,
ter visto as coisas que os homens vêem,
a morte, o inerte amanhecer, a planície
e as delicadas estrelas,
e não ter visto nada ou quase nada
senão o rosto de uma rapariga de Buenos Aires,
um rosto que não quer que eu o recorde.
Ah, destino de Borges, talvez não mais estranho do que o teu.

BORGES, Jorge Luís, Obras Completas, Vol. II, Lisboa, Editorial Teorema, 1998, p. 311

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