sexta-feira, fevereiro 29, 2008

No vale de Elah

Paul Haggis bem pode dar entrevistas a dizer que não quis realizar um filme com uma mensagem sobre a guerra do Iraque. O último plano do filme não podia ser mais explícito na mensagem que transmite: a bandeira norte-americana colocada de modo a significar um apelo de ajuda internacional, como é previamente descodificado. A questão é que o filme de Haggis, não se reduz a uma obra de propaganda, como Peões em Jogo, de Robert Redford. Tal como Redacted de Brian De Palma, Haggis também recorre aos vídeos feitos por militares norte-americanos no Iraque. Mas a estética e a construção cinematográfica de Haggis vai no sentido oposto ao de Brian De Palma: sobriedade em vez de exuberância formal; silêncio em vez de gritos e explosões; o cinema como meio de dar uma perspectiva mais ampla, decifrar os estilhaços de vídeo, em vez de uma espécie de mosaico gigantesco de diferentes registos audiovisuais.
A interpretação de Tommy Lee Jones, um antigo polícia militar que investiga o desaparecimento do filho, recém-chegado do Iraque, é o eixo do filme, bem secundado por Charlize Theron, no papel de polícia civil. Foi no vale de Elah que David venceu Golias. A metáfora não vale em termos de relações internacionais: foram os Estados Unidos a entrar no Iraque como super-golias - império incomparável e imbatível. É antes uma metáfora da luta que cada homem trava no seu íntimo com os seus gigantescos monstros. Aqueles que só olhando de perto se pode vencer.

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