Salazar e os outros
O voto em Salazar foi, sobretudo, um voto de protesto? Não tenho dúvida. Proclama até Rosado Fernandes, no seu estilo de tribuno da plebe, que é um protesto justíssimo! O que ele é, isso sim, é um protesto completamente inconsequente e, portanto, politicamente nulo. Afinal, do que é se queixam os admiradores de Salazar? Das consequências das reformas de um governo que está determinado a fazer descer o deficit das constas públicas para 3%? Mas não são eles grandes admiradores de um grande ditador das finanças que fez do equilíbrio das contas públicas o seu grande dogma e carisma? Grande contradição, não lhes parece?
Já agora, e por falar de inconsequências, talvez algumas elites devessem cuidar melhor da sua própria cultura histórica antes de denunciarem a sua ausência no povo. Segue-se uma amostra de calinadas ditas no dito programa (que não garanto que seja representativa). Escolas laicas com Pombal?! (A religião do Estado, e portanto a de todas as escolas, continuou a ser a Católica.) Salazar manteve o povo analfabeto?!(Entre 1930 e 1960 o analfabetismo desceu de 62% para 30%). Aristides de Sousa Mendes, um homem simples?! (Um diplomata aristocrata, irmão do primeiro ministro dos negócios estrangeiros nomeado por Salazar, e que ganhava bem mais, mesmo com o ordenado arbitrariamente cortado por este último, do que muitos portugueses). Cunhal um homem sempre ao lado do povo?! (Viu-se, quando o povo votou livremente.)
2 Comments:
As razões da superioridade do actual regime sobre o salazarismo são muitas, a começar pela estupidez total do salazarismo.Só um total ignorante ou um total desonesto é que é capaz de considerar que Salazar não foi um dos piores governates de sempre. Trata-se de um juízo de valor que é também um juízo moral. E a única vantagem que a boa História tem é permitir-nos ajuizar melhor.
Caro Henrique
A ideia da História juíza da moral e dos bons costumes está um pouco fora de moda. Por isso, bem mais preocupante do que a votação em Salazar parece-me ser a reacção a ela que parece passar por se querer impor ou vender uma agenda politicamente correcta ao estudo e ao ensino da História.
Reduzir a política aos juízos de valores - e insultar quem se atreve a fazer o contrário - como você parece fazer seria negar a possibilidade de um estudo isento da mesma, seria negar a especificidade, e portanto o sentido, da história política, da ciência política. Seria, em suma, reduzir a política à pura ideologia e à propaganda. O que eu rejeito completamente (ou não faria o que faço).
Aliás, a ser assim, pergunto-me com que argumentos é que se poderia opor, por exemplo, aos que quisessem fazer um museu de louvor a Salazar? Não há liberdade de expressão? Não é tudo política? Seria, segundo você uma estupidez, mas que eu saiba isso ainda não é proibido.
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