terça-feira, março 27, 2007

Os limites do "neo-salazarismo"

Se bem li, e mesmo descontando a ironia do estilo e da forma, discordo, por várias razões, com a análise que José Medeiros Ferreira faz do “neo-salazarismo” no Diário de Notícias de hoje. Porém, adianto apenas uma. Segundo Medeiros Ferreira, o advento daquele fenómeno dever-se-á, “em parte”, à “actual desorientação política da direita portuguesa”, argumento que desenvolve na segunda metade do texto. Descontando o facto do artigo pretender ser, sobretudo, um elemento mais no debate político actual, e que o seu objectivo passa, em boa medida, por procurar desclassificar, ainda mais, a direita portuguesa que temos, sublinharia, sobretudo, que o mais importante, tanto para perceber o salazarismo, como o putativo neo-salazarismo emergente, reside no facto de ambos não poderem nem deverem ser caracterizados exclusivamente como um fenómeno de direita.
Para se perceber a verdadeira dimensão do salazarismo, como para se perceber o “neo-salazarismo” que se generaliza (?), terá que verificar-se uma “desorientação política” global da esquerda e da direita, um impasse absoluto na gestão, eficácia e legitimidade do regime político vigente. Ou seja, uma situação idêntica àquela que se produziu em boa parte da Europa de entre guerras (assim como no Brasil ou na Argentina) e que tanto desorientou as forças e as instituições políticas tradicionais, levando em muitos casos à sua destruição. Em Portugal, portanto, e se se fizer bom uso do argumento utilizado por Medeiros Ferreira, dever-se-á olhar atentamente para outra “parte” omitida na análise. Isto é, e verificando-se a da “direita”, falta ainda a “desorientação política” da esquerda para que o neo-salazarismo germine, cresça, amadureça e possa ser colhido. Dará Sócrates o seu contributo?

4 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

O contributo de Sócrates é antes de mais ter adoptado (se é que teve necessidade de o fazer) tiques de autoritarismo e de manha característicos do salazarismo.

3:58 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Li com o maior interesse e sei que a esquerda elitista e «transformista» tem a sua quota parte de responsabilidades...Mas comecei pela direita pela proveniência do providencial...

3:59 da tarde  
Blogger CLeone disse...

Como o comentário do próprio Medeiros Ferreira demonstra, a não referência à Esquerda é apenas por desnecessária, a vida interna do PS, os artigos no DN, e as iniciativas políticas em que participa (maxime campanha presidencial Soares) deixam bem claro o que pensa.
O que ficou omisso no artigo de hoje foi o que Medeiros escreveu sobre a insignificância do concurso e o erro que era avaliá-lo históricamente e não como enteretenimento, recusando assinar um abaixo-assinado de historiadores. mas o neo-salazarismo dá um bom artigo, enfim.

6:17 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Parece me cedo para falar em "neo-salazarismo". Onde é que vê a emergencia do "neo-salazarismo"

9:11 da tarde  

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