segunda-feira, março 26, 2007

Pessoa de bem?

Vejo pouco televisão e ainda menos concursos parvos. É por isso que perdi apenas alguns minutos com o primeiro e último programa dos «Grandes Portugueses» para ter uma vaga ideia do que se passava. Escrevi apenas um post sobre assunto que a outros blogueadores deu pano para mangas. Foi pelo DN de hoje que fiquei a saber da vitória de Salazar e que o seu defensor, Jaime Nogueira Pinto, afirmara ter o ditador deixado como legado «as ideias do Estado como pessoa de bem e de que a nação é o mais importante». Às três perguntas de Fernando Martins acrescento portanto uma quarta: o Estado como pessoa de bem, o legado do salazarismo? Repare-se que não se trata de defender Salazar como «homem do seu tempo», como «mal menor» face aos regimes totalitários, como o homem que salvou Portugal da II Grande Guerra, equilibrou as finanças públicas, ou não enriqueceu materialmente com o poder. Todos estes argumentos seriam discutíveis. Jaime Nogueira Pinto usou a televisão pública, paga com os meus impostos, para dizer que um Estado que censurou, torturou e matou adversários políticos foi «pessoa de bem» e deixou um legado válido. A figura de Salazar tem aspectos respeitáveis. Jaime Nogueira Pinto é um tipo asqueroso que só merece o meu desprezo.

7 Comments:

Blogger NC disse...

O dinheiro pago pelos meus impostos será sempre bem empregue sempre que haja liberdade de expressão e se garanta a pluralidade. Isso implica ouvir muitas bacoradas. Mas é melhor assim, penso eu de que.
De qualquer das formas acho que não há necessidade de uma TV pública, mas isso é outro assunto.

6:12 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Uma Vergonha
Depois de 30 anos de Democracia!
A RTP é um canal público que deve defender os valores do Estado Democrático

12:15 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Caramba, o homem só estava a cumprir a sua função. Alguem tinha de o fazer

2:02 da manhã  
Blogger CLeone disse...

Se bem o entendi, a referência à «pessoa de bem» era em acepção económica-financeira. Creio que o JNP nunca negou na TV (nem nos livros o fez, que eu saiba) a PIDE, o Tarrafal, etc. Limita-se a falar pouco desse assunto...

6:14 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Como escrevi no post, só soube das declarações pelo DN, na última página, que não especificava a acepção de «pessoa de bem» com que JNP caracterizou o salazarismo. O que passou para o público em geral foi que Salazar nos deixara um Estado como «pessoa de bem». Se isto é entretenimento, então o que é propaganda de extrema-direita.
Mesmo de um ponto de vista económico-financeira, a herança do Estado Novo é altamente questionável. Salazar equilibrou as contas públicas nos anos 30 e graças a uma política neutral na II Grande Guerra, mas teimou numa guerra colonial que desequilibou as contas. Muitos portugueses, nas décadas de 60 e 70,pronunciaram-se sobre a política económica e financeira do regime emigrando.
O corporativismo de Estado e o condicionamento industrial do salazarismo travaram o espírito de iniciativa dos empresários e são uma pesada herança. Há aspectos particularmente sinistros, que não costumam ser lembrados. A pesca do bacalhau, por exemplo, era trabalho forçado. Se um trabalhador estava registado como pescador e se recusava a embarcar podia ser apanhado pela GNR e metido num barco para a Terra Nova. Como os empresários tinham garantida a colocação de todo o produto no mercado nacional, o seu esforço de modernização da frota era mínimo. Enquanto outros países pescavam por arrastão junto ao pólo Norte, os bacalhoeiros portugueses largavam dóris, ou seja, botes individuais, onde um tipo pescava bacalhau à linha, com temperaturas negativas. Doenças mais frequentes: pneumonias, cirrose (por causa do álcool ingerido) e infecções cutâneas (não havia protecção para salgar o bacalhau).
Enfim, que Salazar não se tivesse aproveitado do seu imenso poder para enriquecer materialmente é uma qualidade. Mas os piores pecados sãos os do espírito...

8:53 da tarde  
Blogger CLeone disse...

Concordo inteiramente consigo, claro.
Saudaçoes sem dogma
Carlos

5:55 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Saudações sem dogma.

7:36 da tarde  

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