"Injecções de vitaminas”
Ainda sobre a crise, não resisto em reproduzir aqui excertos de um outro diário, o de Franco Nogueira. Lá estão os acontecimentos tal como eram vistos a partir de S. Bento e por alguns notáveis do regime:
“Lisboa, 4 de Abril – Estudantes em agitação, e toda a questão universitária é debatida em Conselhos de Ministros. Lopes de Almeida [ministro da Educação] hesita, tergiversa, titubeia. À queima-roupa, pergunta-lhe Salazar: «mas o sr. ministro prometeu ou não que seria autorizado o Dia do Estudante?» Lopes de Almeida mete os pés pelas mãos, fica corado até às orelhas e raiz dos seus poucos cabelos, e com esforço murmura com voz enrouquecida: «não». Estava claramente a mentir. Mas Salazar logo tira a conclusão: «Ah! Bem, então o Governo está livre de proibir o Dia do Estudante». E Lopes de Almeida concorda em publicar uma nota oficiosa proibindo o Dia do Estudante.
Lisboa, 5 de Abril – Publicada nota oficiosa. Demite-se Marcello Caetano, reitor da Universidade Clássica de Lisboa. Sensação no país. Atitude de Marcello Caetano é interpretada como de oposição ao governo. Ao que parece Lopes de Almeida havia-lhe dado a entender que o Dia do Estudante seria autorizado. À noite estou com Azeredo Perdigão e Marcello Mathias: ambos acentuam a importância e mesmo a gravidade da crise universitária. Desencadeou-se um claro estado de tensão e nervosismo. Luís Teixeira Pinto e André Gonçalves Pereira telefonam-me a acentuá-lo. Fervem boatos de greves universitárias.
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