terça-feira, março 20, 2007
Se calhar ainda ninguém disse, mas a descida do déficit das contas públicas de 2006 para 3,9% do PIB, ao contrário dos 4,6% previstos, equivale, uma vez mais, ao não cumprimento de uma promessa feita pelo primeiro-ministro. Mas mesmo que, por razões óbvias, ninguém ligue a esta promessa incumprida, certo é que os bons resultados conseguidos pressionam o governo para que aja rapidamente no plano fiscal, introduzindo, ao menos no próximo orçamento, uma baixa no IRC e no IVA.
Nesse sentido, o "timing" das propostas de redução dos impostos feitas por Marques Mendes parecem hoje muito mais aceitáveis e lógicas, ao mesmo tempo que indiciam que foram uma clara manobra de antecipação e esvaziamento do impacto político positivo para o Governo e para Sócrates que inevitavelmente causariam as boas novas sobre a redução do déficit. Finalmente, a proposta de redução da carga fiscal feita por Marques Mendes, e que gente do PSD e, sobretudo, do PS e do Governo (mas não Jorge Coelho), hoje condenam, obrigarão, num futuro próximo, a que o Governo e o PS venham a dar o dito por não dito, contribuindo dessa forma, muito contrariados, para a credibilização do PSD e do seu presidente. Tudo porque é óbvio que o Governo, sobretudo com contas públicas mais desafogadas, deseja e quer uma baixa nos impostos que ajude a uma melhoria dos índices do crescimento económico em Portugal e faça com que os portugueses se esqueçam, tanto quanto possível, dos sacrifícios que andam a fazer desde 2001. As boas notícias para o país não são por isso, e como se verá, boas notícias para o Governo e para o PS. Por isso também vale a pena sublinhar que a pose autoritária e ordeira que tem servido como uma luva a Sócrates numa conjuntura muito difícil – pose da qual os portugueses parecem gostar –, corre o risco de se tornar anacrónica numa conjuntura económica e de finanças públicas mais favorável. Se tal acontecer só nos resta saber se esse anacronismo, ou a mudança de Sócrates para uma imagem mais consentânea com a (nova) realidade, será suficiente para evitar que o Governo e o PS percam, como seria desejável, as eleições em 2008.
2 Comments:
Um pouco à margem do tema, o que para aí não iria se «no tempo dos outros» um governante tivesse idiotado promover o Algarve chamando-lhe Allgarve???
Gostei de ler. Mas eleições serão (infelizmente)em 2009. Abraço
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