A Filha Rebelde
A história é a de Annie Silva Pais, filha do último director da PIDE, casada com um diplomata suíço colocado em Cuba, que deixa para viver a Revolução de Che Guevara. Durante o 25 de Abril vem a Portugal envolver-se no período revolucionário e visita o pai, que está preso. A peça desenvolve-se ao longo de várias décadas e dois continentes, durando apenas hora e meia. É de aplaudir. Os actores são bons e o conjunto de interpretações equilibrado: Ana Brandão vai bem no papel de Annie; a curta aparição de Salazar é credível; Vítor Norte, como Silva Pais, mostra, uma vez mais, que é um actor consistente; Lídia Franco, de quem não costumo gostar, parece que nasceu para ser mulher do director da PIDE.
Um único aspecto me incomodou: a visão puramente idealista, quase onírica, da revolução cubana, omitindo as suas razões e efeitos perversos. Quem não conhecesse nada da História recente, seria levado a pensar que a «revolução dos cravos» foi mais repressiva do que a cubana, pois levou a uma prisão política – a de Silva Pais – enquanto as perseguições políticas de Cuba não são mencionadas. Um retrato mais realista da situação política de Cuba não esvaziaria de interesse a personagem de Annie, podendo até dar-lhe mais espessura dramática, senão trágica.
Espero que a Filha Rebelde tenha seguidoras no teatro português.
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