Grandes Portugueses
Qual o lugar dos grandes homens da história? Depois de se ter oscilado entre igualmente ridículos tudo ou nada, estamos agora numa via media bem mais sensata entre o papel de estrutura e indivíduos, entre constrangimentos do contexto e opções pessoais. A relevância crescente – em quantidade e qualidade – das biografias mostra isso mesmo.
Mas como é que se define um grande homem (nomeadamente se ele for mulher)? Será pelas qualidades de liderança, pelo heroísmo, pela generosidade, pela importância do seu legado? A questão é tanto mais interessante quanto estas qualidades não são sempre compatíveis, e a valorização de umas ou outras variou com o tempo. A escolha será uma indicação sobre os valores actualmente dominantes na sociedade portuguesa.
Será que há um conjunto particularmente português de qualidades ou legados ao mundo que deva ser especialmente valorizado? Aqui além do velho debate, algo estéril, entre casticistas e estrangeirados, será interessante ver até que ponto se irá valorizar a obra em favor de Portugal ou antes o impacto externo. Se no primeiro caso alguém como D. Afonso Henriques, ou Camões, ou D. Pedro IV ou Fontes Pereira de Melo ou Mário Soares teriam vantagem, no segundo D. Henrique ou Pedro Nunes ou Pessoa ou António Damásio estariam muito melhor posicionados.
A questão talvez mais interessante é saber qual o lugar dos media e do marketing no debate cultural? Aqui há, como de costume, apocalíticos e conformados. Eu situo-me nos optimistas moderados. Claro que não é indiferente a qualidade com que se faz as coisas. Mas parece-me simplista pensar, à partida, que usar novos meios e novas mecanismos de atracção para questões culturais é necessariamente mau. É sobretudo ingénuo, porque a alternativa é acreditar que os grandes debates culturais chegarão "naturalmente" ao grande público. Ou pior adoptar a pose elitista de que não chegarão, mas também não é preciso que cheguem.
Claro que não temos de escolher o maior português. E é evidente que a escolha será sempre contestável. (Embora menos do que se fosse uma votação em lista fechada, o que, ao contrário do que se tem dito, não é o caso: cada um pode escolher quem quiser). Resta ver se as audiências mostrarão que o grande público está interessado em algo mais do que novelas e concursos. Resta saber se o programa conseguirá fazer passar argumentos históricos de forma atraente mas com qualidade.
5 Comments:
Marquês de Pombal versus Beatriz (ou meretriz) Costa?
Infante D.Henrique versus Ruy de Carvalho?
Durão (ou Fujão) Barroso versus D. João II?
Camões versus Figo?
Ensandeceram?
Se na versão UK Diana Spencer ficou à frente de Shakespeare, Darwin e Newton, este vai ser um daqueles programas involuntariamente cómicos com que gozaremos por muito e bom tempo.
Excelentes perguntas. Cada uma delas dava um ou vários posts. Acrescento outra: a escolha reflectirá a divisão tradicional entre épocas fracas e fortes da história de Portugal? Desconfio que sim e arrisco-me até a prever que o vencedor sairá de um destes três períodos: fundação (D. Afonso Henriques), Descobrimentos (aqui há mais candidatos, do Infante ao Vasco da Gama, passando por D. João II), democracia (Sá Carneiro ou Soares, sobretudo este). É claro que isto diz mais sobre o nosso próprio tempo do que sobre o passado, mas alguém arrisca um palpite?
Anónimo, Cláudia, concordo que pode haver um lado cómico, até um pouco louco, mas isso não é interessante?
Pedro concordo inteiramente com a análise (especialmente a parte que me elogia :).
Excelente fotografia a "ilustrar" o Dr. Mário Soares. Mas não foi tirada em Macau, pois não?
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