segunda-feira, setembro 11, 2006

Rui A. sobre um erro persistente

Subscrevo em absoluto o conteúdo deste post do Rui Albuquerque sobre a chamada "laicidade". O maior equívoco desta é a ilusão de resolver um problema, "atropelando-o" ou decretando o seu fim. E já não são perigosos cristãos "fundamentalistas" como eu que o dizem, mas historiadores "mainstream" que a laicidade é uma (mais uma) forma moderna de religião civil dos estados que a proclamam e que em geral se colocam, assumidamente ou não, no papel da Providência enquanto mediador supremo entre os indivíduos e as gerações. É que a religião tem um lado público que não é anulável; as ideologias que a interditam só a fazem surgir das formas mais inesperadas e caricatas (por vezes nas próprias proclamações "anti" ou "a-religiosas").

Frase do post: "Com a laicidade passa-se algo de semelhante: pretende-se impor sobre as mais íntimas convicções pessoais e individuais, o manto diáfano do nada absoluto."

13 Comments:

Blogger João Miguel Almeida disse...

Sobre estas questões ando a ler um livro muito interessante de Fernando Catroga: «Entre Deuses e Césares. Secularização, Laicidade e Religião Civil». Espero escrever qualquer coisa aqui sobre o livro quando voltar de um «eclipse» de uma semana.

4:38 da tarde  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Por acaso, não queres emprestá-lo aqui ao LAS?

4:51 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Creio que o laicismo limita-se a consagrar a divisão entre o Profano (esfera pública, o Estado, os saberes científicos, a Justiça, etc) e o Sagrado (esfera intima, as diversas organizações religiosas, a religiosidade popular, etc).
Confundir isso com a repressão da religião como fez a URSS e ainda o fazem os seus sucedâneos não é correcto, porque o laicismo subentende uma sociedade liberal: a liberdade de culto, a igualdade das diferentes confissões religiosas perante o Estado, a separação entre a Igreja (latu sensu) e o Estado.
Precisamente o que o terrorismo islamista entende ser um dos sinais mais evidentes da sociedade satânica em que vivemos.
Em certo sentido, até concordo com eles.

7:31 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Mas o que é a "laicidade", em concreto? O ue pretende ela?

Se o que a laicidade pretende é que sejam eliminadas das salas de aulas ridículas imagens de um gajo pregado numa cruz - uma tortura que se praticava no tempo dos romanos - então acho muito bem. Será que eu vou ter que andar a explicar aos meus filhos as crendices que por aí andam?

Luís Lavoura

10:24 da manhã  
Blogger NC disse...

Sobre este assunto, recomendo:

http://caldeiradadeneutroes.blogspot.com/2006/09/olhe-que-no-sotr-olhe-que-no.html

11:35 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

O Luís Aguiar Santos gostaria de viver num país como a Grécia, onde no seu bilhete de identidade constasse que era católico e que, portanto, não fazia parte da religião dominante - não digo maioritária uma vez que os gregos, como qualquer povo minimamente avançado, hoje em dia são maioritariamente a-religiosos? Ou gostaria de viver em Israel?

Analisando a sua resposta, perceberá porque é que a muitos cidadãos há coisas em Portugal que causam profundo desconforto. Sobretudo quando se tem filhos pequenos e se tem que lhes andar a explicar que muitas pessoas acreditam numa série de palermices, e se tem que lhes andar a explicar essas palermices, sabendo que o são, para que eles possam compreender o mundo de palermas que os rodeia.

Luís Lavoura

11:36 da manhã  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Se eu bem percebo, a questão está colocada por Luís Lavoura nestes termos: ou pensa como eu ou defende bilhetes de identidade gregos, um mundo intolerante e o diabo a sete. O.k. Pensar dá, de facto, algum trabalho. Aceitemos todos a ideologia laicista sem discutir e ensinemos coisas sensatas às crianças (que eu, já agora, gostaria de saber quais são, dado que o melhor, presumo, será não lhes ensinar nada, para não limitar à partida a sua "liberdade"...).

5:38 da tarde  
Blogger rui a. disse...

Obrigado pela referência, caro Luís.

12:14 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

O Luís Aguiar Santos não entendeu a minha referência aos bilhetes de identidade gregos. Referi-me a eles para ilustrar como se sente um não-religioso perante um Estado que não é laico. Um não-religioso está perante um Estado que não é laico como um católico está na Grécia, em Israel ou na Turquia.

O Luís Aguiar Santos gostaria de viver num Estado confessional de uma qualquer religião que não a sua? Creio que não. Então, perceberá porque é que eu quero viver num Estado laico.

Quanto às crianças, cada um que ensine as suas como quiser. Mas eu não quero ser obrigado a explicar às minhas as palermices em que muitos acreditam.

Luís Lavoura

10:26 da manhã  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Caro Luís Lavoura, desde que exista liberdade religiosa, não me importo nada de viver sob um Estado confessional. Antes pelo contrário. O problema do laicismo é precisamente não equacionar essa possibilidade. Mas concordo que o mais importante é podermos ensinar os nossos filhos como quisermos... sem termos de lhes explicar palermices :).

3:36 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Luís Aguiar Santos, de facto, não equaciono a possibilidade de viver sob um Estado confessional. Qualquer que seja a confissão. Porque, mesmo existindo liberdade religiosa, um Estado confessional força-nos a aturar, e a explicar aos nossos filhos, pobres inocentes, as palermices da religião do Estado. Seja ela qual fôr.

Portanto, estamos em desacordo.

Luís Lavoura

12:05 da tarde  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Ainda bem que estamos em desacordo :). O meu ponto é que o Estado tem sempre religião; nem que seja a religião dele próprio.

2:56 da tarde  
Blogger João Miguel Almeida disse...

Empresto mesmo o livro do Fernando Catroga ao LAS depois de acabar de lê-lo e «digeri-lo» e espero que dê uma discussão na blogosfera para além de meia-dúzia de ideias já mais do que batidas. Quanto ao resto da discussão, acho que este comentário já vai fora de tempo, mas parece-me que este é um assunto que, mais tarde ou mais cedo, vai voltar a ser discutido.

12:09 da manhã  

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