domingo, setembro 10, 2006

Empobrecer honradamente... ou talvez não!

O primeiro-ministro José Sócrates afirmou ontem no Porto, ao falar da Segurança Social, que se nós pagamos as reformas dos nossos pais e avós, os nossos filhos e os nossos netos pagarão as nossas reformas. Este é o “sistema” que herdou e o “sistema” que pretende preservar, recusando, entre outras coisas, qualquer “privatização” do dito sistema. Estas tiradas demagógicas e ideológicas têm sempre, ao menos, um problema: a realidade. Ou seja, com o crescimento económico miserável que Portugal conhece desde 2001 e que também será preservado por, ao menos, mais uma década; com a baixa natalidade e a permanente subida da esperança de vida; com a certeza de que, à partida, as pensões a pagar dentro de 20 ou 30 anos serão em média, e em termos relativos, muito mais altas do que hoje em dia; gostava de saber com que dinheiro serão pagas as ditas pensões dentro de 20, 30 ou 40 anos, se tudo se mantiver como agora. Presumo que recorrendo a três medidas nada injustas e nada cegas. Baixa do valor das pensões; aumento regular da idade da reforma; subida dos impostos; aumento do déficit e da dívida pública. Resumindo: todos ficamos com a certeza de que caso tudo continue como está empobreceremos sem excepção honradamente ao menos nos próximos 50 anos.
É claro que tudo aquilo que Sócrates pode não passar de uma peta para tranquilizar transitoriamente os socialistas que persistem em existir no seio do PS. Tudo muito conveniente no momento em que Partido e grupo parlamentar foram olimpicamente ignorados pelo Governo na negociação com o PSD de um “pacto” sobre a “Justiça”. Passado o nojo, é provável que Sócrates inflicta 180º e retome a via do realismo político que o tem ajudado a celebrar algumas vitórias.E depois há Cavaco Silva em Belém. Sempre vigilante, sempre com uma palavra amiga, experiente e assisada, exercendo para já sobre o regime uma tutela discreta, eficaz e, sobretudo, nunca vista no nosso curto passado democrático. Ao menos nos primeiros seis meses de mandato.

4 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Caro (...), se assim o entender, pode consultar os resultados da exegese hermenêutica de um texto de José Luís Peixoto no novíssimo blog "Não li nem quero ler", onde (coisa inimaginável!) se demonstra a argúcia literária do autor e do leitor!

http://naolinemqueroler.blogspot.com/

2:44 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Se o Fernando vir bem, Socrates tem razão. Quem trata dos pais idosos acaba sempre por ser os seus filhos. Quem trata da presente geração de idosos tem sempre que ser a presente geração de jovens. Não pense o Fernando que nós podemos conservar hoje maçãs para as comermos quando tivermos 70 anos de idade; não, as maçãs terão que ser produzidas por alguém nessa altura, não podem ser conservadas desde agora. Também não pense o Fernando que podemos lavar agora as fraldas que sujaremos qundo formos incontinentes; não, terá que haver nessa altura alguém que as lave.

Luís Lavoura

10:38 da manhã  
Blogger Luís Aguiar Santos disse...

Eu tenho para mim que esta questão é comparável à questão financeira do século XIX e início do XX. Em torno do colapso da SS se jogará o destino deste regime. Foi por políticos "constitucionais" como Sócrates não afrontarem o problema que se criaram condições para, num ambiente de quase desagregação da sociedade portuguesa, a solução se realizar por meio de um despotismo iluminado com pronúncia beirã...

P.S. E ainda hoje há muita gente que não percebe por que razão, em 1928, a questão financeira era fulcral (como é hoje, num Estado que abraça muito mais a sociedade).

4:59 da tarde  
Blogger Fernando Martins disse...

Estou em grande medida de acordo com as observações do Luís Aguiar Santos. Mas não sei é se a questão financeira foi de facto a questão; e caso tenha sido não sei aaté que ponto teria necessariamente de conduzir onde conduziu. Sou por natureza muito céptico em relação a explicações "monocausais" (perdoe-se o palavrão).
Quanto ao Luís Lavoura devo dizer que se posso concordar totalmente com a ideia de que são os mais novos que devem cuidar dos mais velhos - não sei se se refere apenas aos filhos a cuidarem dos pais idosos, literalemente, ou às gerações mais novas a cuidarem das mais velhas. O problema é saber se daqui a 20 anos, mais coisa menos coisa, haverá "novos" em número suficiente para cuidar dos velhos. Sejam os filhos dos pais, sejam as gerações mais novas das gerações mais velhas. Talvez a emigração ajude a resolver o problema. Mas só resolverá uma parte e criará outros - por mais capaz que seja a sociedade portuguesa de integrar os que escolham o nosso país para viver.

10:26 da tarde  

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