Liberalismo Realista
Aceito e simpatizo com a existência de um realismo liberal que o Rui advoga - auto-limitado, muitas vezes designado como defensivo, de, possivelmente, Morgenthau a, certamente, Jack Snyder. Mas também há um realismo anti-liberal. Que nega a possibilidade de uma real cooperação entre Estados e a combate activamente como uma perigosa ilusão. Um exemplo extremo é o actual embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, mas o próprio Vice-Presidente Dick Cheney ou Rumsfeld não andam muito longe disso. Bush filho tem dado, até muito recentemente, amplo espaço a essa corrente com os efeitos desastrosos que se conhece. Ou seja, a explicação liberal e racional do Rui Albuquerque para o papel internacional dos EUA esquece quem tem dominado a agenda em Washington desde 2000. Esquece que lhes interessa, acima de tudo, defender os interesses e a segurança dos EUA, de preferência por via militar. (Veja-se Charles Krauthammer que nos seus escritos faz dos EUA um Gulliver a precisar de se libertar dos liliputianos europeus! Ou a bem oficial Estratégia de Segurança Nacional dos EUA de 2002.)
Uma interpretação liberal do papel hegemónico dos EUA é plausível na sua relação com a Europa e o Japão durante o período da Guerra Fria e o início da pós-Guerra Fria (as presidências de Bush pai e Clinton.) Foi a pensar nessa época que Geir Lundestad cunhou a frase “império por convite”. Mas isso deixou de fazer grande sentido com Bush filho no poder. Como é que se pode falar de contrato quando de Washington mandam dizer que o que realmente interessa são alianças ad hoc, “coalition of the willing”, agrupamentos ocasionais de países avulsos dispostos a seguir a potência imperial até ao fim do mundo, haja o que houver? A política internacional reduzida a um Western. (Gosto, mas no cinema).
Ilustrando a dificuldade prática de aplicar estas nossas vãs filosofias, o Rui Albuquerque sendo elogioso da UE, no entanto parece equacionar qualquer reforço dos seus poderes ou instituições como uma traição do federalismo. O problema é que o termo federalismo sendo filosoficamente perfeito, é prática e politicamente ambíguo. Federaliza-se devolvendo poderes de um Estado centralizado (como a Espanha), ou federaliza-se reforçando uma estrutura confederal como a União Europeia? O critério da subsidariedade ajuda, em princípio, mas na prática não facilita muito as escolhas. Porque é disso que se trata: de escolher. Por exemplo, para muitos - como eu - escoulher deixar de continuar a depender excessivamente dos EUA, e assumir mais e melhor as responsabilidades pela defesa dos interesses e valores europeus, no que tenham de coincidente (espera-se que muitas vezes) e divergente (se preciso for) com os EUA.
O que me parece evidente é que um liberal coerente, não tendo nada que ser anti-patriótico ou anti-americano, ou anti-europeu, em nome da defesa dos interesses bem entendidos das comunidades a que pertence, e dos valores universais derivados da dignidade da pessoa, deve combate o nacionalismo agressivo e o unilateralista, seja na Europa, seja nos EUA. Espero que, nisto, estejamos de acordo. (E vamos mas é todos ver a bola e dar largas ao nosso nacionalismo agressivo, mas com boas maneiras, se faz favor.)
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